São Paulo, terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

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inoperância

Mais um torcedor morre, e futebol se cerca de desculpas

Brigas entre são-paulinos e palmeirenses anteontem, em vários pontos de SP, deixam 1 óbito e ao menos 20 feridos

Autoridades repetem velhos discursos na tentativa de combater problema crônico de violência causado pelas torcidas uniformizadas

MARIANA BASTOS
SANDRO MACEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPINAS

A história não é nova, mas o problema parece estar longe de uma solução: após um clássico no futebol paulista, mais uma pessoa morreu e ao menos 20 ficaram feridas, vítimas de confrontos entre torcedores de Palmeiras e São Paulo.
O incidente, na rodovia dos Bandeirantes, em Jundiaí, não foi isolado, mas se tornou o mais grave de anteontem. Choques entre as torcidas organizadas também foram registrados em bairros da capital e numa estação de trem em Santo André. Até a conclusão desta edição, ninguém foi preso.
A Polícia Civil investiga se a briga entre torcedores em Jundiaí (a 60 km da capital), que deixou ainda 12 feridos, foi premeditada ou "por acaso".
E o problema entre as torcidas organizadas extrapola o âmbito esportivo, como ocorreu durante a apuração do Carnaval paulista, quando membros da Gaviões da Fiel, indignados com as notas, chegaram a fechar parte da marginal Tietê. Para o desfile das campeãs, houve inclusive uma mudança na ordem de exibição das escolas para evitar conflitos entre a Mancha Verde e a Gaviões.
À sombra de mais uma morte proveniente de confronto de torcidas, Ministério Público, Polícia Militar e Ministério do Esporte repetem as soluções propostas depois de outros casos de violência envolvendo torcedores ocorridas em 2009.
Para o promotor Paulo Castilho, a Polícia Militar "fez um belo serviço de prevenção". "O que aconteceu ontem [anteontem] não foi falha da polícia."
O capitão Marcel Soffner, assessor de imprensa da Polícia Militar, concorda que foi feito tudo o que era possível. "Se não fosse a atuação da polícia, talvez o resultado fosse pior", diz.
Assim como em 2009, Castilho voltou a defender a torcida única para jogos de risco. "Em estádios como o do Palmeiras, o entorno é supercomplicado. Se não estivesse presente a torcida do São Paulo, os problemas não teriam ocorrido", diz. Para o promotor, as ações em diferentes pontos da cidade foram orquestradas pelas organizadas.
Em maio de 2009, mais de 150 pessoas foram detidas, entre palmeirenses e são-paulinos, perto da estação de trem Itaim Paulista. O bairro teve novamente choque entre as mesmas torcidas agora.
Ainda em 2009, após brigas entre são-paulinos e corintianos no Morumbi, o ministro do Esporte, Orlando Silva Jr., também defendeu a torcida única.
"No momento atual, talvez a melhor solução seja, em clássicos na capital, só o mandante ocupar as arquibancadas", disse ele em fevereiro passado.
Um ano depois, o "momento atual" parece o mesmo.
"O que o ministério pode fazer, está fazendo", afirma Alcino Reis Rocha, secretário nacional do Futebol da pasta.
Ele lembra que um projeto de lei, que muda o Estatuto do Torcedor e transforma em crime condutas violentas nos estádios e nos entornos, foi enviado ao Congresso em março de 2009. Após ter sido aprovado na Câmara, porém, o texto, continua no Senado, travado.
"Estamos fazendo solicitações para que seja aprovado e sancionado ainda no primeiro trimestre", declara Rocha.
Entre as mudanças no estatuto, está prevista punição para quem portar porretes e barras de ferro, num raio de 5 km do estádio ou num trajeto que seja identificado como de ida ou volta do torcedor (como no caso de anteontem, em Jundiaí).
Na nova lei, há penalidades que preveem a reclusão de seis meses a seis anos. Para réus primários, a prisão é substituída por banimento dos estádios.
No domingo, haverá um novo clássico, Santos x Corinthians, na Vila Belmiro. "Em princípio, a forma de atuação [da polícia] é a mesma. Episódios como esse servem de experiência e ajudarão nas discussões futuras", afirma Soffner, da PM.


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