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inoperância
Mais um torcedor morre, e futebol se cerca de desculpas
Brigas entre são-paulinos e palmeirenses anteontem, em vários pontos de SP, deixam 1 óbito e ao menos 20 feridos
Autoridades repetem velhos discursos na tentativa de combater problema crônico de violência causado pelas torcidas uniformizadas
MARIANA BASTOS
SANDRO MACEDO
DA REPORTAGEM LOCAL
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPINAS
A história não é nova, mas o
problema parece estar longe de
uma solução: após um clássico
no futebol paulista, mais uma
pessoa morreu e ao menos 20
ficaram feridas, vítimas de confrontos entre torcedores de
Palmeiras e São Paulo.
O incidente, na rodovia dos
Bandeirantes, em Jundiaí, não
foi isolado, mas se tornou o
mais grave de anteontem. Choques entre as torcidas organizadas também foram registrados em bairros da capital e numa estação de trem em Santo
André. Até a conclusão desta
edição, ninguém foi preso.
A Polícia Civil investiga se a
briga entre torcedores em Jundiaí (a 60 km da capital), que
deixou ainda 12 feridos, foi premeditada ou "por acaso".
E o problema entre as torcidas organizadas extrapola o
âmbito esportivo, como ocorreu durante a apuração do Carnaval paulista, quando membros da Gaviões da Fiel, indignados com as notas, chegaram
a fechar parte da marginal Tietê. Para o desfile das campeãs,
houve inclusive uma mudança
na ordem de exibição das escolas para evitar conflitos entre a
Mancha Verde e a Gaviões.
À sombra de mais uma morte
proveniente de confronto de
torcidas, Ministério Público,
Polícia Militar e Ministério do
Esporte repetem as soluções
propostas depois de outros casos de violência envolvendo
torcedores ocorridas em 2009.
Para o promotor Paulo Castilho, a Polícia Militar "fez um
belo serviço de prevenção". "O
que aconteceu ontem [anteontem] não foi falha da polícia."
O capitão Marcel Soffner, assessor de imprensa da Polícia
Militar, concorda que foi feito
tudo o que era possível. "Se não
fosse a atuação da polícia, talvez o resultado fosse pior", diz.
Assim como em 2009, Castilho voltou a defender a torcida
única para jogos de risco. "Em
estádios como o do Palmeiras, o
entorno é supercomplicado. Se
não estivesse presente a torcida
do São Paulo, os problemas não
teriam ocorrido", diz. Para o
promotor, as ações em diferentes pontos da cidade foram orquestradas pelas organizadas.
Em maio de 2009, mais de
150 pessoas foram detidas, entre palmeirenses e são-paulinos, perto da estação de trem
Itaim Paulista. O bairro teve
novamente choque entre as
mesmas torcidas agora.
Ainda em 2009, após brigas
entre são-paulinos e corintianos no Morumbi, o ministro do
Esporte, Orlando Silva Jr., também defendeu a torcida única.
"No momento atual, talvez a
melhor solução seja, em clássicos na capital, só o mandante
ocupar as arquibancadas", disse ele em fevereiro passado.
Um ano depois, o "momento
atual" parece o mesmo.
"O que o ministério pode fazer, está fazendo", afirma Alcino Reis Rocha, secretário nacional do Futebol da pasta.
Ele lembra que um projeto
de lei, que muda o Estatuto do
Torcedor e transforma em crime condutas violentas nos estádios e nos entornos, foi enviado ao Congresso em março de
2009. Após ter sido aprovado
na Câmara, porém, o texto,
continua no Senado, travado.
"Estamos fazendo solicitações para que seja aprovado e
sancionado ainda no primeiro
trimestre", declara Rocha.
Entre as mudanças no estatuto, está prevista punição para
quem portar porretes e barras
de ferro, num raio de 5 km do
estádio ou num trajeto que seja
identificado como de ida ou
volta do torcedor (como no caso de anteontem, em Jundiaí).
Na nova lei, há penalidades
que preveem a reclusão de seis
meses a seis anos. Para réus primários, a prisão é substituída
por banimento dos estádios.
No domingo, haverá um novo
clássico, Santos x Corinthians,
na Vila Belmiro. "Em princípio,
a forma de atuação [da polícia]
é a mesma. Episódios como esse servem de experiência e ajudarão nas discussões futuras",
afirma Soffner, da PM.
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