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FUTEBOL
Além do troféu e do silicone
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
É fácil amar uma Gisele
Bündchen. É moleza se apaixonar por uma Michelle Pfeiffer.
Quem não arregalou os olhos para uma Raquel Welch, para uma
Sophia Loren, para uma Brigitte
Bardot, para uma Catherine Deneuve, para Uma Thurman? O
difícil é amar Urracas e Emengardas. Gostar de mulheres belas e
inteligentes, desejadas por todos,
é um amor comum, simples, trivial. O difícil, o raro e belo é amar
uma mulher feia, sem dote nem
graças especiais. Aí, sim, há o
amor verdadeiro, o amor cego e
insano dos folhetins.
Com os clubes não é muito diferente. Amar Cruzeiro, Corinthians, Remo, Sport, Goiás, Internacional, Bahia e Flamengo é fácil (no caso de Bahia e Flamengo,
talvez não seja tão fácil assim hoje em dia). São times grandes,
com títulos aos montes, glórias às
toneladas e histórias cheias de ouros e diamantes. O difícil, o valoroso, é amar uma Caldense, uma
Portuguesa Santista, um Águia
de Marabá, um Princesa do Solimões, um Sorriso, um Íbis, um
Shallon, um Madureira. São times sem salas abarrotadas de troféus, sem grandes estrelas, talvez
nem grandes esperanças.
Os que amam mulheres esculturais e grandes clubes não entendem como os namorados das
feias e os torcedores dos pequenos
podem gostar de seus objetos de
amor. Eles só entendem paixões
por lábios perfeitos, por craques
eternos, por bundas redondas,
por faixas de campeão, por seios
antigravitacionais e por voltas
olímpicas. Eles não entendem que
se pode ficar apaixonado por um
detalhe, por uma miudeza, por
algo que nem se vê.
Por isso, os que amam modelos
e campeões, quando encontram
os que amam as feias e os perdedores, perguntam inconformados: "Como você pode gostar de
uma coisa dessas?".
O curioso é que os fãs das desarmoniosas e dos derrotados não
entendem a pergunta. Não está
na cara o motivo de eles amarem
aquele pequeníssimo clube e
aquela gordíssima mulher? Mesmo assim, com infinita paciência,
eles respondem:
"É o jeito que ela pisca."
"Sabe aquela camisa toda colorida? Foi amor à primeira vista."
"Você nunca reparou no dentinho torto dela? Coisa de louco."
"Já escutou o hino dele? Me arrepio só de lembrar."
"Era minha vizinha. Conheço
desde que usava aparelho nos
dentes."
"Era meu vizinho. Conheço desde que tinha arquibancadas de
madeira."
Eu, confesso, só amei belas mulheres e grandes clubes [com uma
honrosa exceção feita ao AZ 67,
um time holandês que, por causa
do nome e do símbolo -um moinho-, passou a ser meu time favorito na Holanda quando tinha
uns 12 anos]. Mas sempre que vejo um homem apaixonado por
uma mulher sem encantos ou por
um time sem títulos, sei que ali
vai um sujeito especial, uma alma
nobre e superior que é capaz de
dizer:
"Me apaixonei logo que ouvi
seu nome: Marília... Tem coisa
mais linda?".
Sade carioca
Os quatro grandes cariocas,
que já dominaram o futebol
brasileiro, hoje são motivo de
piadas de humor negro. Ou
melhor, rubro-negro. E há uma
grande dose de sadismo nisso.
Eu não tenho a menor pena de
um Vasco que entronizou Eurico Miranda ou de um Flamengo que vem sendo dirigido com
incompetência há anos. Acho
merecido que eles estejam nesta pindaíba. E boa parte de sua
torcida merece esta decadência,
pois pouco ou nada fizeram para reverter a situação. No Brasileiro-2006, que terá só 20 clubes
e quatro cairão, os cariocas já
estão entre os favoritos à Série
B. Fluminense e Botafogo, que
já caíram, parece que aprenderam um pouco com a queda.
Talvez seja bom para Vasco e
Flamengo que eles experimentem o gosto da Segundona.
E-mail - torero@uol.com.br
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