São Paulo, domingo, 23 de abril de 2006

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AUTOMOBILISMO

Em Imola, alemão larga na frente pela 66ª vez na F-1 e supera último recorde que pertencia a brasileiro

Schumacher bate marca de Senna e chora

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A IMOLA

Ele diz não ligar para recordes.
Mas ontem, em Imola, Michael Schumacher, 37, arrebatou o último que faltava para sua carreira.
Às 15h01 locais, 10h01 em Brasília, o piloto alemão da Ferrari fechou os 5.303 m do traçado italiano em 1min22s795, tempo que não foi superado por nenhum de seus nove concorrentes nos instantes finais do treino classificatório para o GP de San Marino.
Conquistou, assim, sua 66ª pole position, superando uma marca histórica, as 65 de Ayrton Senna.
Um feito, o do brasileiro, que havia se tornado mito no esporte.
Porque, em 3 de junho de 1989, ao volante de uma McLaren, Senna bateu o escocês Jim Clark, até então tido como o maior "poleman" da categoria. Porque, nos cinco anos seguintes, Senna tomou para si esse título, quase dobrando o recorde anterior e chegando a uma marca que muitos consideravam inatingível. Porque a 65ª foi conquistada um dia antes de sua morte. Foi do primeiro lugar no grid que Senna largou naquele dia 1º de maio de 1994.
Um feito, o do alemão, que tem tudo para se tornar legendário.
Porque foi conquistado na pista onde Senna morreu e às vésperas de serem completados 12 anos do acidente da Tamburello. Porque certamente levará anos, se não décadas, para ser superado. Se um dia for -entre os pilotos na ativa, Rubens Barrichelo, Jacques Villeneuve e Juan Pablo Montoya são os que somam mais poles, 13. Porque foi a última vitória de um fã sobre seu ídolo. E o fã chorou.
De olhos vermelhos após tirar o capacete, Schumacher mal conseguia relatar o que estava sentindo. "Não tenho como descrever. Isso é muito especial para mim", disse, num primeiro momento, antes de recuperar a fleuma: "Mas vou pensar nisso depois. No momento, estou totalmente concentrado em vencer a corrida de amanhã [hoje]. Isso vale mais para mim do que os recordes."
O heptacampeão mundial nunca escondeu sua idolatria pelo brasileiro, a quem nunca venceu num treino oficial. A primeira de suas 66 poles foi conquistada em Mônaco, em 94, justamente o GP seguinte ao da morte de Senna.
A largada para a quarta etapa do Mundial será às 9h (de Brasília), com TV. Jenson Button, da Honda, sai ao lado do alemão. Na segunda fila, os dois brasileiros: Rubens Barrichello, parceiro do inglês, e Felipe Massa, da Ferrari.
Em 235 fins de semana, a F-1 só viu Schumacher assim, de olhos marejados, quatro vezes. Em 2000, quando ele igualou as 41 vitórias de Senna. Em 2003, quando venceu o GP de San Marino horas depois da morte de sua mãe. No mês passado, no Bahrein, quando alcançou as poles do brasileiro. E ontem, ao tornar-se absoluto. Não apenas deste, mas de todos os recordes de desempenho do mais importante campeonato do esporte a motor no mundo.
Na Austrália, em 2001, ele cravou a volta mais rápida de uma corrida pela 42ª vez, superando o antigo recordista, Alain Prost. Hoje, soma 69. Na Bélgica, também em 2001, tornou-se o piloto com mais vitórias na história da F-1, superando os 51 triunfos de Prost. Hoje, buscará o 85º. No Japão, em 2003, garantiu o sexto título mundial, deixando Juan Manuel Fangio para trás. Neste ano, tenta o oitavo. A partir de agora, Imola-2006 passará a fazer parte dessa coleção sem igual nos 57 anos de existência da categoria.
E ele diz não ligar para recordes.


NA TV - GP de San Marino, Globo, ao vivo, às 9h


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