São Paulo, sábado, 23 de abril de 2011

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RITA SIZA

O crucifixo


O maior talento natural do bilhar, filho de siciliana e pai homicida e que facilmente viraria um filme


ESTAMOS em época pascal, e a minha atenção está virada para o Crucible Theatre (o crucifixo ou cadafalso) em Sheffield, curiosa por saber se o campeonato do mundo de snooker será o momento da "paixão" ou da "ressurreição" da carreira do tri-campeão Ronnie O'Sullivan -e acabam aqui as metáforas religiosas.
Ele perdeu na primeira ronda dos últimos quatro torneios que disputou esta época, mas no Crucible, o palco maior da modalidade, bateu facilmente o seu adversário Dominic Dale no jogo inaugural (10-2 em 40 minutos), marcando encontro com Shaun Murphy, o campeão de 2005 que tem procurado com o "terrorismo mental" obter alguma vantagem antes de chegar à mesa de bilhar.
A primeira vitória de O'Sullivan -o "Rocket" para os aficionados- foi "enfática" e convincente, garantiu o comentador da BBC que entusiasticamente relatou a partida a partir do Crucible. "Ele foi fabuloso. Com a mão direita, com a mão esquerda, com a ponte mecânica, apoiado numa perna... para ele não faz grande diferença! O público delirou com o espetáculo, se ele conseguir manter o nível vai ganhar o campeonato", vaticinou.
Parte da atracção de O'Sullivan -a parte que não tem a ver com o seu génio na sinuca- deve-se ao fato de a sua vida poder facilmente ser um filme do Guy Ritchie. Criado no centro da Inglaterra, Ronnie cedo se tornou uma personagem pitoresca, filho de mãe siciliana e de pai condenado a 18 anos de cadeia por homicídio.
O seu talento, considerado unanimemente o maior talento natural da história do snooker, tem a medida da sua personalidade, volátil e temperamental, que fez dele um jogador controverso e inconsistente. Ele já agrediu oficiais dos campeonatos, abandonou jogos a meio ou respondeu em conferências de imprensa simulando actos sexuais com o microfone. A sua colorida vida privada inclui drogas e o interesse pelo automobilismo e o budismo.
Além da toxicodependência, O'Sullivan também admitiu publicamente sofrer de depressão clínica, uma condição que interfere seriamente na sua carreira. Há pouco menos de um mês, o jogador de 35 anos estava decidido a retirar-se da competição: sentia-se "infeliz" e "traumatizado", já não tinha "apetite" pelo jogo, confessou.
Agora ele procura regressar à glória com a ajuda de um terapeuta esportivo, o médico Steve Peters, uma espécie de "encantador" que trabalhou com a equipa de ciclismo britânica na Olimpíada de Pequim. Aliás, tema bem interessante esse, da psicologia esportiva.
Até poderia ter sido o assunto da coluna.


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