São Paulo, domingo, 23 de junho de 2002

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Janela para o passado

DO ENVIADO A IWATA

O técnico Luiz Felipe Scolari, conhecido pelo seu temperamento forte, viveu em paz no Japão como em nenhum outro lugar.
Em Iwata, o técnico não sofreu pressão de torcida (da ""turma do amendoim"), ficou muito longe da imprensa (sempre teve relação complicada com os jornalistas) e pôde gozar de vida simples e confortável (a simplicidade é uma forte característica sua).
A casa em que Scolari viveu em Iwata, visitada pela Folha (veja fotos nesta página), é ocupada hoje por um casal, Yuzo, 30, e Harumi Yoshida, 31, e um bebê de apenas três meses, a filha Mana.
Os pais de Harumi ficaram com a residência, tipicamente japonesa e localizada em um bairro bastante tranquilo, depois que Scolari deixou o Japão em 1997.
""Gostamos de Scolari, uma pessoa forte. O Japão perdeu, e estamos torcendo pelo Brasil. Meu pai tratou com ele quando de sua saída para o Brasil. Nada foi mudado", disse Harumi, que está na casa desde que o bebê nasceu -antes, os pais ficavam na residência.
O treinador da seleção brasileira aproveitou a ida para Shizuoka, onde a equipe bateu a Inglaterra nas quartas-de-final da Copa, para visitar a cidade que o acolheu tão bem em 1997. Em Iwata, visitou alguns amigos.
""A Olga [mulher de Scolari" adorava viver no Japão. Não queria sair de jeito nenhum. A escola dos guris [os dois filhos do casal" era do lado de casa. Eles iam andando. A gente conhecia o pessoal na vizinhança e fazia churrasco. Foi um tempo maravilhoso que passei no Japão", diz Scolari.
A casa do técnico é próxima do estádio e do centro de treinamento do Júbilo Iwata, clube que pertence à poderosa empresa Yamaha e tem como patrocinador a multinacional suíça Nestlé -a Volkswagen também é acionista.
A estrutura que o clube japonês oferece é ótima, e Scolari era tratado como rei. Diretores do clube costumavam até levar e buscar o treinador em sua casa.
Em conversa com jornalistas antes de sua chegada à Ásia, o técnico disse que deixou o Japão e voltou ao Brasil porque ganharia um salário bem maior e teria a chance de treinar um time que gostava muito, o Palmeiras.
""Só peguei a proposta do Palmeiras porque era irrecusável. Tinha afinidade com o clube [pela ascendência italiana]", disse.
Scolari teve convite para voltar também ao Grêmio, clube que o projetou para o futebol brasileiro, mas encarou o desafio de trabalhar no futebol paulista, um centro que o deixaria certamente mais perto da seleção brasileira.
Mais tarde, com Wanderley Luxemburgo no comando da equipe nacional, o gaúcho optou por dirigir o Cruzeiro -o ambiente mais tranquilo de Minas Gerais poderia oferecer ao técnico um pouco da paz que teve no Japão.
Após a saída de Scolari, o Júbilo Iwata manteve o espírito do técnico brasileiro. Takashi Kuwara, que foi treinado pelo gaúcho, assumiu a equipe e manteve o estilo ""pegador."
Dunga, também gaúcho, virou conselheiro da equipe. Takahara, atacante que se destacou no clube, foi jogar até no Boca Juniors, time argentino famoso pela raça.
""Iwata é uma cidade pequena, mas tem muitos brasileiros na região. O Júbilo e o Kashima são times grandes em cidades pequenas do Japão. Aqui, você se sente em uma família", disse Dunga.
A torcida do Júbilo, tida como a segunda maior do país hoje, é muito ativa, também uma herança de Scolari, que costuma transformar em verdadeiros alçapões os estádios de seus times.
Há uma preferência no Júbilo pela contratação de brasileiros, apesar de o clube contar nos últimos anos também com estrangeiros de outras nacionalidades.
Após a Copa, o técnico da seleção poderia trabalhar no exterior em um clube. O Júbilo já manifestou o desejo de contar de novo com Scolari. ""Não fizemos ainda um convite para ele. Mas gostaríamos de tê-lo conosco. Gostamos de profissionais sérios, que sejam competitivos, tenham raça e espírito de luta, como Scolari", disse Shizuo Tsuji, diretor do Júbilo Iwata. (RODRIGO BUENO)


Colaborou Fábio Victor, enviado especial a Saitama

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