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MINHA HISTÓRIA
LEANDRO FERNANDES JACOB, 21
Motivador
O PC Gusmão se comoveu com minha vida e me chamou para conversar com os jogadores de futebol Dou palestras em tudo quanto é clube Agradeço a Deus por tudo, inclusive por ser soropositivo
RESUMO
Nascido e
criado em Botafogo, no
Rio, Leandro Fernandes
Jacob, 21, já deu palestras
para jogadores de mais de
15 clubes de futebol. Portador do vírus HIV, foi adotado pelo técnico PC Gusmão, do Atlético-GO, que o
leva em viagens para incentivar os atletas contando sua história. Ele falou
para o grupo do Flamengo
após o time faturar o primeiro turno do Estadual.
(...)Depoimento a
LUIZA SOUTO
DO RIO
Nasci num hospital que tinha aqui na Rua da Passagem. Sempre morei na Álvaro Ramos. Adoro Botafogo e
não quero sair daqui. Aos 6
anos, o meu pai descobriu
que eu tinha Aids e abandonou minha mãe. Pouco o vi
ou falei com ele depois.
Minha mãe morreu no ano
seguinte e meus avós passaram a me criar. Tenho um irmão de 29 anos e uma de 17,
que mora comigo. Mas eles
não têm essa doença.
Foram os meus avós, dona
Rosa, de 71 anos, e seu Ramon, de 70, que me contaram que eu estava com HIV.
Eles choravam muito, e eu
lembro que disse que ia reverter essa situação. Chegava
a tomar oito comprimidos
por dia. Hoje são só três.
Com 15 anos, ainda andava com auxílio de um andador, pois minhas pernas
eram muito fracas. Mas nunca desanimei. Tanto que os
médicos disseram que eu só
ia viver até os dez anos.
PRECONCEITO
Uma vez uma professora
não quis que eu me juntasse
às outras crianças. Ela disse
que não saberia o que fazer
se eu me machucasse. Falei
que ela deveria me tratar como os outros. Eu não queria
tratamento diferenciado.
Quando conheci minha
primeira namorada, aos 14
anos, não contei de imediato
sobre a minha condição, mas
tenho certeza de que alguém
falou, pois um belo dia ela
me ligou e terminou tudo.
Depois tive outros namoros.
Já fiquei três anos com uma
menina, mas ela sabia o que
eu tinha. Às vezes acontece
de um ou outro jogador de futebol não me tratar bem, mas
é muito difícil me tirarem do
sério. Sou muito calmo.
PC GUSMÃO
Em 2005, conheci o PC.
Costumava frequentar um
restaurante no Recreio toda
sexta, quando rolava um
show de samba. Nos intervalos, pegava o microfone e
contava piada. O dono me
pagava R$ 50 por semana.
O PC viu a apresentação e
veio falar comigo. Então ele
se comoveu com a minha história e me chamou para conversar com os jogadores do
Botafogo, time que ele treinava e passava por uma situação difícil. Ele pensou que, se
eu falasse sobre a minha vida, ia motivar os jogadores.
Só sei que, naquele ano,
ganhamos tudo. Passaram a
me chamar de Biriba, um cachorrinho preto e branco,
mascote do clube na década
de 40. Foi o presidente na
época, Bebeto de Freitas, que
me chamou assim.
O PC passou a ajudar lá em
casa e também paga o meu
tratamento na ABBR (Associação Brasileira Beneficente
de Reabilitação) até hoje.
Quando posso, divido com
meus avós e irmãos a ajuda.
Para onde o pai vai, eu vou
também. Agora dou palestras em tudo quanto é clube.
No último dia 19 foi aniversário dele. Liguei e conversamos muito. Estou vendo
quando vou voltar a vê-lo.
SAMBA E FUTEBOL
Em todo clube, sempre
tem quem toque um instrumento. Então quis aprender.
Como gosto de samba de
raiz, escolhi o cavaquinho.
Na minha vida, só tive aula
de música durante cinco meses. Tudo que sei hoje aprendi no olho. Eu tenho mais de
300 músicas e já gravei uma
com o Dicró. Ela se chama
"Os sabores da mulher".
Há um ano e meio, eu o vi
vendendo CD na Uruguaiana
(centro do Rio) e me apresentei. Pedi pra ele escutar umas
músicas minhas. Dias depois
ele me ligou dizendo que
queria gravar essa. Samba e
futebol pra mim é a combinação mais perfeita que tem.
Vou me formar esse ano e
estou decidindo se faço faculdade de música ou de
educação física.
PALESTRAS
Na mesma semana que o
PC assumiu o Atlético-GO [3
de abril], eu fui para lá dar
uma palestra. Gostei muito.
Tanto o time como o PC estão
muito animados para esse
campeonato. E o Atlético é
guerreiro, tem tradição.
Estive também há pouco
tempo no Flamengo. O próprio Vanderlei [Luxemburgo,
técnico] me ligou quando o
time foi campeão do primeiro
turno. Agora estou esperando mais convites.
Enquanto não viajo eu
apareço lá no Vasco, para visitar os amigos que fiz. Quando o time foi campeão da Copa Sul-Americana, eu apareci no dia seguinte para dar os
parabéns à equipe.
Quando vou aos clubes, eu
gosto de chegar e ler algum
trecho da Bíblia para o time.
Também cito livros sobre espiritualidade e equilíbrio.
Até filme eu levo. Já fui ao cinema gravar trechos de
"Nosso Lar" para usar nas
minhas palestras.
Só sei que, desde pequeno, tenho o costume de acordar às 3h para orar. Agradeço
a Deus por tudo que tenho,
inclusive por ser soropositivo. Tenho uma missão com
isso. Nada é por acaso.
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