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JUCA KFOURI
As contradições do Patropi
Basta a assinatura de Lula para que Tostão, Sócrates, Casagrande e Falcão percam seu direito de expressão
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SOMOS um país repleto de paradoxos. Estamos, por exemplo,
dependendo da vontade do
presidente da República para sabermos se continuaremos a contar com
os comentários de Tostão, de Sócrates, de Casagrande, de Falcão, nos
jornais e nas revistas e TVs do país.
Na mesa do presidente está uma
lei, proposta por um pastor evangélico e que é apoiada pela Federação
Nacional dos Jornalistas, que amplia as exigências para o exercício
do jornalismo.
O diploma de jornalismo, uma
triste invenção nacional (não o diploma em si, mas a exclusividade do
exercício da profissão para quem o
tem), passará a ser obrigatório para,
entre outras funções, comentaristas
esportivos.
Perigosa confusão essa, causada
pelo evangélico-corporativismo.
Para ser deste tipo de pastor, basta
simplesmente o dom de enganar o
próximo incauto.
Para ser jornalista, é preciso ter
um canudo, normalmente fornecido por uma faculdade chinfrim.
Chinfrim, mas poderosa, porque o
que há por trás da medida sem nenhum cabimento se não for garantir
reserva de mercado?
Cláudio Abramo e Samuel Wainer, papas da nossa imprensa, não
tinham diploma de jornalismo.
Alberto Dines, Clóvis Rossi, Dráuzio Varela, Élio Gaspari, Janio de
Freitas, Mino Carta, alguns, entre
outros, generais de nossa imprensa,
aqui listados em ordem alfabética
(detestarão serem chamados de generais, mas adiante entenderão por
que, como escada para uma piada
sem graça), também nuncase sentaram numa carteira de faculdade de
jornalismo, embora vivam sendo
convocados para dar aulas e palestras pelas ditas cujas.
E a Fenaj, que não move uma palha contra os "jornalistas" garotos-propaganda, quer dar mais força
ao canudo.
Pouco se lhe dá a prática que desmoraliza, envergonha, enxovalha a
profissão, e confunde a opinião pública, dos que anunciam cervejas, pilhas, fios e cabos, sargentos, tenentes e coronéis elétricos (paro nesta
patente para não fazer "merchan"
de generais elétricos que, afinal,
existem).
E, por falar em generais, foram
eles que, ao mesmo tempo em que
censuravam a imprensa brasileira
no período da ditadura, concederam
a exigência do diploma como um cala-boca aos pelegos.
Tomara que Lula se lembre de que
boa parte dos que fizeram a imprensa sindical que resistiu à ditadura, e
divulgou as heróicas greves do final
dos anos 70, não tinha diploma, só o
dom da comunicação.
E vete semelhante estupro na liberdade de expressão.
Mais paradoxos
Eis que, depois do fiasco nacional
na Copa alemã, dois times brasileiros, e nenhum argentino, estão nas
semifinais da Libertadores.
E isso apesar de a CBF só pensar
na seleção e se lixar para os clubes.
Mais: como no ano passado, outra
vez poderemos ter uma decisão de
um título continental entre duas
equipes brasileiras.
Curiosamente, apesar de manterem as aparências para não serem
prejudicados, nem São Paulo nem
Internacional morrem de amores
pela confederação brasileira.
O clube paulista não votou na
reeleição de Ricardo Teixeira para
presidente da entidade, e o gaúcho
quase cortou relações com a entidade no ano passado, embora o primeiro tenha levado Teixeira para o
Japão como seu convidado na decisão do Mundial de Clubes e o segundo tenha recuado lamentavelmente no "caso Edílson".
Será sonhar demais esperar pelo
dia em que os clubes tomarão para
si os destinos do nosso futebol?
Porque, ao menos, vontade de
vencer nossos times têm mostrado
mais que a seleção.
blogdojuca@uol.com.br
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