São Paulo, domingo, 23 de julho de 2006

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JUCA KFOURI

As contradições do Patropi


Basta a assinatura de Lula para que Tostão, Sócrates, Casagrande e Falcão percam seu direito de expressão

SOMOS um país repleto de paradoxos. Estamos, por exemplo, dependendo da vontade do presidente da República para sabermos se continuaremos a contar com os comentários de Tostão, de Sócrates, de Casagrande, de Falcão, nos jornais e nas revistas e TVs do país.
Na mesa do presidente está uma lei, proposta por um pastor evangélico e que é apoiada pela Federação Nacional dos Jornalistas, que amplia as exigências para o exercício do jornalismo.
O diploma de jornalismo, uma triste invenção nacional (não o diploma em si, mas a exclusividade do exercício da profissão para quem o tem), passará a ser obrigatório para, entre outras funções, comentaristas esportivos.
Perigosa confusão essa, causada pelo evangélico-corporativismo.
Para ser deste tipo de pastor, basta simplesmente o dom de enganar o próximo incauto.
Para ser jornalista, é preciso ter um canudo, normalmente fornecido por uma faculdade chinfrim. Chinfrim, mas poderosa, porque o que há por trás da medida sem nenhum cabimento se não for garantir reserva de mercado?
Cláudio Abramo e Samuel Wainer, papas da nossa imprensa, não tinham diploma de jornalismo.
Alberto Dines, Clóvis Rossi, Dráuzio Varela, Élio Gaspari, Janio de Freitas, Mino Carta, alguns, entre outros, generais de nossa imprensa, aqui listados em ordem alfabética (detestarão serem chamados de generais, mas adiante entenderão por que, como escada para uma piada sem graça), também nuncase sentaram numa carteira de faculdade de jornalismo, embora vivam sendo convocados para dar aulas e palestras pelas ditas cujas.
E a Fenaj, que não move uma palha contra os "jornalistas" garotos-propaganda, quer dar mais força ao canudo.
Pouco se lhe dá a prática que desmoraliza, envergonha, enxovalha a profissão, e confunde a opinião pública, dos que anunciam cervejas, pilhas, fios e cabos, sargentos, tenentes e coronéis elétricos (paro nesta patente para não fazer "merchan" de generais elétricos que, afinal, existem).
E, por falar em generais, foram eles que, ao mesmo tempo em que censuravam a imprensa brasileira no período da ditadura, concederam a exigência do diploma como um cala-boca aos pelegos.
Tomara que Lula se lembre de que boa parte dos que fizeram a imprensa sindical que resistiu à ditadura, e divulgou as heróicas greves do final dos anos 70, não tinha diploma, só o dom da comunicação.
E vete semelhante estupro na liberdade de expressão.

Mais paradoxos
Eis que, depois do fiasco nacional na Copa alemã, dois times brasileiros, e nenhum argentino, estão nas semifinais da Libertadores.
E isso apesar de a CBF só pensar na seleção e se lixar para os clubes. Mais: como no ano passado, outra vez poderemos ter uma decisão de um título continental entre duas equipes brasileiras.
Curiosamente, apesar de manterem as aparências para não serem prejudicados, nem São Paulo nem Internacional morrem de amores pela confederação brasileira.
O clube paulista não votou na reeleição de Ricardo Teixeira para presidente da entidade, e o gaúcho quase cortou relações com a entidade no ano passado, embora o primeiro tenha levado Teixeira para o Japão como seu convidado na decisão do Mundial de Clubes e o segundo tenha recuado lamentavelmente no "caso Edílson".
Será sonhar demais esperar pelo dia em que os clubes tomarão para si os destinos do nosso futebol?
Porque, ao menos, vontade de vencer nossos times têm mostrado mais que a seleção.
blogdojuca@uol.com.br


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