São Paulo, sábado, 23 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GUERRA FRIA

EUA torcem números e se recusam a aceitar derrota

Atrás da China em ouros, país se diz orgulhoso pelo total de pódios

Apesar de exaltar atuação de seus atletas, comitê olímpico americano fala em rever procedimentos e em pedir dinheiro ao governo


FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM

Em segundo lugar no quadro de medalhas de Pequim, os EUA promoveram um exercício de estatística ontem para tentar minimizar a derrocada.
Nas últimas três Olimpíadas, o país liderou a classificação por número de ouros, critério do COI em seu ranking, embora a entidade diga que não faz classificação de países. Os americanos nunca questionaram.
Agora, porém, resolveram destacar outros fatores. Segundo o novo discurso do Usoc, o comitê norte-americano, o que vale é o total de medalhas, a "limpeza" da equipe e o desempenho nos esportes coletivos.
"Estou aqui para dizer que estamos orgulhosos do que fizemos aqui na China", disse ontem Peter Ueberroth, presidente do Usoc. "Superamos o total de medalhas de Atenas e está claro que somos uma equipe limpa, sem problemas de doping. O mundo pode se orgulhar da nossa participação."
Com as classificações das seleções masculinas de vôlei e basquete para a final, os EUA garantiram outras medalhas em Pequim, superando o desempenho de Atenas-2004.
Na Grécia, foram 36 ouros. Em Pequim, 31 até agora. Mais importante: em 2004, o país fechou a participação com quatro ouros a mais do que a China. Agora, tem 16 a menos.
O fracasso americano no atletismo -após o caso Balco, de doping coletivo- é uma das explicações para o país não ganhar ouros nas principais provas de velocidade.
"Quando os Jogos acabarem, vamos fazer uma revisão de nossos programas", disse o chefe da associação de atletismo americano, Doug Logan, que, ao contrário do comitê olímpico, reconheceu o fracasso.
Nos esportes coletivos, os EUA foram ouro no futebol (feminino) e estão nas finais do nado sincronizado, do pólo aquático (masculino), do vôlei e do basquete. Também triunfaram nas duplas do vôlei de praia. Ueberroth exaltou isso. Em seguida, o dirigente se traiu quando o tema foi dinheiro.
Segundo ele, o governo americano terá de ajudar no financiamento do comitê "caso o país considere importante uma reação". A proposta é emblemática: o Usoc sempre se orgulhou de ser uma entidade privada, sem dinheiro público.
Jim Scherr, CEO do comitê, ainda defendeu uma revisão no programa do próximo ciclo olímpico, até Londres-2012.
"A China fez um planejamento focando cada medalha em jogo, e vamos ter que fazer algo parecido no futuro. Precisamos de mais recursos."
Há 72 anos, desde os Jogos de Berlim-1936, a ponta do quadro de medalhas de uma Olimpíada não escapava do eixo EUA-Rússia (ou União Soviética).


Texto Anterior: Americanos têm motivação extraquadra
Próximo Texto: Comitê pede agilidade na investigação de ginasta
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.