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GUERRA FRIA
EUA torcem números e se recusam a aceitar derrota
Atrás da China em ouros, país se diz orgulhoso pelo total de pódios
Apesar de exaltar atuação de seus atletas, comitê olímpico americano fala em rever procedimentos e em pedir dinheiro ao governo
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM
Em segundo lugar no quadro
de medalhas de Pequim, os
EUA promoveram um exercício de estatística ontem para
tentar minimizar a derrocada.
Nas últimas três Olimpíadas,
o país liderou a classificação
por número de ouros, critério
do COI em seu ranking, embora
a entidade diga que não faz
classificação de países. Os americanos nunca questionaram.
Agora, porém, resolveram
destacar outros fatores. Segundo o novo discurso do Usoc, o
comitê norte-americano, o que
vale é o total de medalhas, a
"limpeza" da equipe e o desempenho nos esportes coletivos.
"Estou aqui para dizer que
estamos orgulhosos do que fizemos aqui na China", disse ontem Peter Ueberroth, presidente do Usoc. "Superamos o
total de medalhas de Atenas e
está claro que somos uma equipe limpa, sem problemas de doping. O mundo pode se orgulhar da nossa participação."
Com as classificações das seleções masculinas de vôlei e
basquete para a final, os EUA
garantiram outras medalhas
em Pequim, superando o desempenho de Atenas-2004.
Na Grécia, foram 36 ouros.
Em Pequim, 31 até agora. Mais
importante: em 2004, o país fechou a participação com quatro
ouros a mais do que a China.
Agora, tem 16 a menos.
O fracasso americano no
atletismo -após o caso Balco,
de doping coletivo- é uma das
explicações para o país não ganhar ouros nas principais provas de velocidade.
"Quando os Jogos acabarem,
vamos fazer uma revisão de
nossos programas", disse o chefe da associação de atletismo
americano, Doug Logan, que,
ao contrário do comitê olímpico, reconheceu o fracasso.
Nos esportes coletivos, os
EUA foram ouro no futebol (feminino) e estão nas finais do
nado sincronizado, do pólo
aquático (masculino), do vôlei e
do basquete. Também triunfaram nas duplas do vôlei de
praia. Ueberroth exaltou isso.
Em seguida, o dirigente se traiu
quando o tema foi dinheiro.
Segundo ele, o governo americano terá de ajudar no financiamento do comitê "caso o
país considere importante uma
reação". A proposta é emblemática: o Usoc sempre se orgulhou de ser uma entidade privada, sem dinheiro público.
Jim Scherr, CEO do comitê,
ainda defendeu uma revisão no
programa do próximo ciclo
olímpico, até Londres-2012.
"A China fez um planejamento focando cada medalha
em jogo, e vamos ter que fazer
algo parecido no futuro. Precisamos de mais recursos."
Há 72 anos, desde os Jogos de
Berlim-1936, a ponta do quadro
de medalhas de uma Olimpíada
não escapava do eixo EUA-Rússia (ou União Soviética).
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