São Paulo, domingo, 23 de agosto de 2009

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TOSTÃO

Relações perigosas


O nepotismo e outras relações perigosas estão a cada dia mais frequentes na política, no esporte e na sociedade

JOSÉ SARNEY , em uma de suas inúmeras e indefensáveis defesas no Senado, quis sensibilizar os políticos e a população ao questionar quem não atenderia aos pedidos de uma neta, de um neto ou de um namorado de uma neta. Ele sabe que a maioria dos que o criticam faz e faria o mesmo.
O nepotismo e tantas outras relações interesseiras, perigosas, perniciosas e antiéticas, mesmo se não forem ilegais, acontecem, com muita frequência, na política, na sociedade e no esporte. "É dando que se recebe", uma praga nacional.
Muitas pessoas bem-intencionadas não sabem, ou fingem não saber, o que é ético e/ou legal. Fazem o que a maioria faz. É a lei da esperteza e da acomodação.
É cada dia mais frequente, na administração dos clubes e nas comissões técnicas dos times de futebol, a presença de parentes e de convenientes amigos de técnicos e dirigentes. Assim, dirigentes de clubes, federações e da CBF se perpetuam no poder.
Em alguns clubes, parentes se alternam no comando. No Cruzeiro, entra Perrella e sai Perrella.
A desculpa esfarrapada de todos, no esporte e na política, é a de que precisam se cercar de pessoas de confiança.
O nepotismo tem que ser combatido, já é proibido no serviço público, mas há inúmeras outras relações tão ou mais perigosas.
Muitos dirigentes trabalham muito próximos de empresários. Um agente costuma administrar a carreira de um técnico e de vários jogadores que estão sob o comando desse mesmo técnico. Os conflitos de interesses são inevitáveis. Os técnicos falam que sabem separar as coisas. Parafraseando Caetano Veloso, de perto, ninguém é 100% íntegro.
Alguns jornalistas não escapam dessas relações perigosas. Gostam de ser amigos de jogadores, de técnicos e de dirigentes. Recebem informações privilegiadas e em troca, no mínimo, não criticam suas fontes.
É um risco hoje até elogiar jogador ou técnico. Alguns empresários se aproveitam disso para valorizar seus clientes. Os agentes entopem os e-mails de comentaristas com ótimas informações sobre seus jogadores. Por isso e por outros motivos, não coloco e-mail na minha coluna.
No Brasil, os profissionais são, a cada dia, mais valorizados pelas relações sociais e corporativistas do que pela competência técnica.
A rede de interações é extensa e com dezenas de conexões. O ser humano está a cada dia mais interligado, mais só e menos livre.

Críticas
Mesmo ainda fora de forma, Adriano ainda é o melhor reserva para Luis Fabiano. Faltam também bons reservas para Kaká e Robinho. Prefiro Grafite a Nilmar. Com o canhoto Anderson, que não foi novamente chamado, a seleção brasileira fez a melhor exibição sob o comando de Dunga, contra Portugal. Não há um armador que jogue mais pela esquerda.
Dunga foi feliz ao criticar comentaristas que valorizam mais a tática do que a técnica dos jogadores e infeliz por criticar os analistas que nunca foram atletas profissionais. Há vários excelentes, em todos os segmentos da imprensa.
A técnica é o conteúdo, e a tática, a forma. A técnica é mais importante, mas não sobrevive sem a forma.


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