São Paulo, domingo, 23 de setembro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Após se oferecer a clube mineiro, técnico do Corinthians ganha aumento
Luxemburgo procura Cruzeiro e é premiado

Fernando Santos/Folha Imagem
O técnico do Corinthians, Wanderley Luxemburgo, que hoje enfrenta o Atlético-PR, em Curitiba, pelo Campeonato Brasileiro


FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC

MARÍLIA RUIZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Wanderley Luxemburgo, pivô de um racha entre a diretoria e a torcida do Corinthians, conseguiu mais um feito em sua carreira: com um só telefonema para Minas, criou um abismo entre seu clube e o Cruzeiro, jogou os mineiros contra o parceiro comum HMTF e, de quebra, aumentou seu salário no Parque São Jorge.
Enfraquecido após perder para o Grêmio a Copa do Brasil, criticado por dirigentes por sua falta de habilidade para gerenciar a crise com Marcelinho e com sua competência colocada em xeque pela péssima campanha do Corinthians no Brasileiro, Luxemburgo resolveu contra-atacar.
Percebeu que a promoção que recebera do presidente Alberto Dualib não lhe dava superpoderes no Corinthians. Mesmo como manager, continuava subordinado ao vice-presidente Antonio Roque Citadini, seu desafeto.
E foi para seu novo inimigo que Luxemburgo mirou as baterias ao criticar a diretoria por não ter cumprido a promessa, negada por Dualib, de reforçar o elenco com jogadores experientes.
Diante da possibilidade de ser demitido a qualquer momento, usou a situação em seu favor.
Pediu a um amigo que ligasse para Zezé Perrella, presidente do Cruzeiro. O recado era simples: seu ciclo no Corinthians havia acabado e ele estava disposto a assumir o time mineiro, que despencava na classificação mesmo com um elenco estelar.
A essa altura, Ivo Wortmann ainda estava na Toca da Raposa, com a corda no pescoço. Poucos dias depois, o Cruzeiro perdeu em casa para o Goiás, e o treinador gaúcho foi demitido.
"Jamais aliciei o Wanderley. Foi um amigo dele, chamado Daniel, que me ligou e disse que ele tinha interesse em vir para cá. Depois, o próprio Wanderley falou para mim que no Corinthians não ficava mais. Estava decidido. Disse que havia entregado a carta de demissão e que apenas iria se reunir com a diretoria do Corinthians para discutir a rescisão. Foi taxativo ao dizer que lá ele não ficava. Foi só por isso que eu falei publicamente que o queria. O Wanderley sem clube me interessava. No Corinthians, não. Não venha falar que fui antiético", disse Perrella.
A declaração do deputado mineiro incendiou o Parque São Jorge na quinta. A Citadini, Dualib e Carlos Roberto Mello (vice financeiro), Luxemburgo disse que não ficaria mais no Parque São Jorge. Disse que o HMTF havia descumprido o acordo que fizera com ele.
Mesmo insatisfeitos com o trabalho do técnico, os corintianos não admitiam perdê-lo para o Cruzeiro. Consideraram o "convite" de Perrella uma traição.
Pediram a interferência dos norte-americanos do HMTF, que vetaram a ida do técnico para Minas. E, para garantir, ofereceram mais dinheiro para Luxemburgo e a garantia de novos reforços.
Segundo a Folha apurou, o técnico engordou seu salário em R$ 40 mil. Atingiu o que ganharia se fosse para a Toca da Raposa: R$ 210 mil. O triplo do que recebia quando assumiu o Corinthians, em fevereiro último, assolado por acusações de sua ex-secretária Renata Alves, envolvido em ações na Justiça e fragilizado pelas investigações das CPIs em Brasília.
"Se ele usou o Cruzeiro para ter vantagem, falhou comigo. Se eu souber que ele teve vantagem financeira com isso, ele me usou mesmo. Aí, azar do HMTF e sorte dele", afirmou Perrella. Mas o dirigente mineiro, apesar de se sentir traído, acredita que, no final das contas, aconteceu o melhor para seu clube. "O Marco Aurélio [o novo técnico" tem a cara do Cruzeiro e vai dar certo de novo."
A reportagem procurou Dualib e Citadini, mas eles não responderam aos recados.
Já Luxemburgo se negou a comentar o caso, anteontem à noite. "Não falo sobre isso. Boa noite." E desligou o telefone.



Texto Anterior: Painel FC
Próximo Texto: Treinador vai escalar atacante "sem função"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.