São Paulo, domingo, 23 de setembro de 2001

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VÔLEI

Jaqueline Carvalho, 17, é eleita a melhor atleta do Mundial juvenil e desponta como sucessora da ex-estrela da seleção

Musa teen surge como a nova Ana Moser

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 1987, o Brasil conquistou seu primeiro título mundial juvenil. No time estava Ana Moser, 18 anos e 1,87 m, eleita a melhor jogadora da competição.
Passados 14 anos, a seleção voltou ao topo do pódio -vencera também em 1989. E Jaqueline Carvalho, 17, ganhou o status de melhor do mundo na categoria.
As semelhanças entre as duas atacantes vão além de uma mera coincidência de títulos.
"Ela é muito parecida com a Ana Moser. Hoje, Jaqueline é uma das três atacantes mais potentes do Brasil, além de ser completa. É impressionante ver essa menina jogando", diz o técnico José Roberto Guimarães, que já lançou a jogadora na disputa pela vaga de titular na equipe do BCN/Osasco.
A pernambucana Jaqueline, de 1,86 m, não encanta só pela força de suas cortadas. No Mundial da República Dominicana, foi escolhida pela torcida como a musa da competição e criou entre os torcedores uma histeria que só se vê em jogos da seleção masculina.
"Acho que eu conquistei o povo de lá. Quando entrava no ginásio, a torcida não parava de gritar. Ganhei um monte de presentes, cartas e até pedidos de casamento", conta, com timidez. "Ficava roxa de vergonha. As meninas [colegas de seleção" é que recolhiam os presentes para mim."
Vaidosa assumida -vai ao treino com os cabelos pretos encaracolados impecavelmente presos por fivelinhas coloridas-, Jaqueline admite que está sempre "emperequetada". Diz que herdou a beleza e a vaidade da mãe, Josiane. Quando as duas saíam de casa juntas, no Recife, eram alvo das manjadas cantadas masculinas.
"Os homens perguntavam se éramos irmãs", diverte-se.
Tanto assédio não incomoda a garota caseira -com um tipo físico que lembra Ana Paula, uma das maiores musas do vôlei brasileiro-, que gosta de ir ao cinema e ouvir axé e pagode.
"Quem é vaidoso quer mais é que os outros notem mesmo. Eu não me importo, eu gosto de me arrumar, de ficar bonita..."
Jaqueline teve um início de carreira meteórico. E muito parecido com o de seu ídolo Ana Moser.
Seu interesse pelo esporte apareceu cedo. Ela jogava vôlei e basquete no Sport Recife até receber um ultimato da mãe: teria que optar por um dos dois.
Foi então que o Brasil perdeu uma armadora e ganhou uma promissora atacante de ponta.
Na disputa de seu primeiro Campeonato Brasileiro, já foi convocada pela primeira vez para a seleção infanto e recebeu convite para jogar em Osasco.
Assim como Ana Moser -natural de Blumenau (SC)-, Jaqueline teve que sair da casa dos pais para se dedicar ao esporte.
Em 1999, deixou para trás a família e sua cidade para morar com outras jogadoras da equipe juvenil do time paulista.
"Quando a oportunidade surgiu, vi que não poderia recusar. No começo, eu chorava todos os dias, minha mãe ficou triste. Mas agora já me acostumei."
Em meio a viagens que fez com o time paulista, uma vez encontrou Ana Moser no aeroporto. Guarda a lembrança como um dos momentos mais emocionantes de sua vida esportiva.
"Ela falou que era para eu seguir assim, que estava no caminho certo. Fiquei toda arrepiada. Não acreditava que era ela. A Ana Moser e a Fernanda Venturini, com certeza, são as melhores."
A beleza de Jaqueline não fez sucesso só na República Dominicana. A jogadora conquistou um dos mais cobiçados atletas da nova geração: namora há dois anos Murilo, também campeão mundial juvenil neste ano.
O jogador atua pelo Banespa e é o principal responsável pelos gritos histéricos das torcedoras nas partidas do time. "Tenho que aguentar o assédio e os gritos nos jogos. Eu não gosto muito, mas entendo. Se fosse brigar sempre por causa disso, o namoro não teria durado um mês", afirmou.
Murilo comemora o sucesso da namorada e diz que sabe controlar o ciúme. "Eu jogo também e sei como é. Não adianta esquentar a cabeça. Além disso, sempre digo que a Jaqueline vai virar musa, mas ela não gosta muito".
Os dois se conheceram em um jogo do time juvenil do Osasco que Murilo foi assistir. Segundo ele, foi amor à primeira vista.
Jaqueline nem bem voltou ao time da Grande São Paulo e já está tendo a chance de atuar ao lado de jogadoras da seleção adulta, como Janina, Virna e Ricarda.
Seu próximo objetivo é se firmar como titular do time e jogar a Superliga para continuar repetindo os passos de Ana Moser, que disputou sua primeira Olimpíada em Seul-88, ano seguinte à conquista do Mundial juvenil.



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