São Paulo, segunda-feira, 23 de setembro de 2002

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FUTEBOL

A via-crúcis do Palmeiras

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Quando um clube de massa como o Palmeiras enfrenta uma crise persistente como a atual, é difícil escapar à tentação de encontrar uma causa, um culpado, uma saída milagrosa. Mas o fato é que não existe só uma causa, um culpado ou uma saída.
Cabeças já rolaram no Parque Antarctica e provavelmente vão continuar rolando. A torcida agora pede a do presidente Mustafá Contursi.
Claro que o afastamento do cartola seria salutar para o clube, mas não iria tirá-lo automaticamente da má fase, assim como não adiantaram nada as várias trocas de técnico ocorridas desde o início do atual campeonato.
Tampouco é a falta de bons jogadores o problema palmeirense. O elenco alviverde é melhor do que pelo menos uns dez times que estão à sua frente na tabela de classificação.
A crise palmeirense é resultado da soma de pequenos traumas, erros e acasos, que se potencializaram uns aos outros.
Primeiro, houve uma política precipitada de dispensa de jogadores, ainda na gestão Luxemburgo. A saída simultânea dos volantes Claudecir, Magrão e Galeano não foi uma jogada inteligente.
Em seguida, veio a deserção abrupta do próprio Luxemburgo, que ajudou a desestabilizar o time no início do campeonato. Para completar, vieram as sucessivas contusões de jogadores importantes para o bom funcionamento da equipe: Zinho, Pedrinho, Lopes, Arce. Resultado: o Palmeiras nunca pôde contar com seu elenco ideal no torneio.
Na partida de sábado, contra o Figueirense, o time foi um retrato de todo esse processo: intranquilo, invertebrado, com pouca capacidade de criação de jogadas e de reação a um resultado adverso.
Do ponto de vista tático, o Palmeiras, sem Zinho e/ou Pedrinho, é um time dividido em duas metades estanques: a parte de trás, com três zagueiros e dois cabeças-de-área, e a parte da frente, com três atacantes aos quais a bola nunca chega redonda.
A correção desse descompasso depende da volta de Zinho (ou Pedrinho) ao time, mas, mesmo assim, será complicada em razão do clima de tensão e insegurança que toma conta dos atletas.
Diante desse quadro, a torcida alviverde teria de ter uma certa paciência -justamente algo que parece ter-se esgotado no Parque Antarctica.
Atlético-PR 1x1 São Paulo foi um jogo quente e equilibrado, que colocou frente a frente dois dos mais fortes candidatos ao título. (Sim, eu sei que eles estão na rabeira da zona de classificação, mas a tendência é que subam).
Apesar do domínio territorial do Atlético, o São Paulo conseguiu criar -nos contra-ataques- um número equivalente de chances de gol.
Mas, justamente por enfrentar um adversário bem armado e de boa qualidade técnica, o tricolor deixou à mostra suas principais deficiências: uma certa insegurança da zaga (mesmo jogando com três beques, como ontem) e a fraqueza de seus alas, que ontem levaram um baile dos atleticanos Alessandro e Fabiano.
Outra coisa: sem Kaká, o São Paulo é uma equipe quase comum, no tocante à criação de jogadas. Fica faltando a centelha de ousadia, a aposta no inesperado. A boa notícia é que Ricardinho começou a engrenar -e fez um lindo gol.


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