São Paulo, domingo, 23 de setembro de 2007

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Herdeiros de ícones fazem o Fla sonhar

Longe da Gávea, onde ídolos foram revelados, eles povoam categorias de base; filho de Bebeto defende a seleção sub-13

Jovens promessas passam desde cedo por trabalho psicológico no clube para não sofrerem demais com as inevitáveis comparações

TONI ASSIS
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Mozer, Leonardo, Júnior Baiano, Djalminha, Bebeto, Paulo Nunes e Adriano são parte do passado do Flamengo. Os filhos de Mozer, Leonardo, Júnior Baiano, Djalminha, Bebeto e Paulo Nunes, além de um primo de Adriano, são o presente. Mais que isso, apostas do clube.
Uma segunda linhagem de flamenguistas históricos, privilegiada não só pela genética, mas também pela condição social. É em carrões que os miniastros chegam ao CT de Vargem Grande, na periferia do Rio, longe da Gávea, que formou os ex-craques. E os pais que levam os filhos buscam a discrição. Como Bebeto.
Ao deixar o filho Mattheus e ser avisado pelo segurança de que a reportagem gostaria de uma entrevista, o ex-atacante não quis falar. Fechou o vidro, manobrou a Pajero e partiu.
Mas nem todos têm essa preocupação. Rose Nascimento, tia de Adriano e mãe de Pedro, atleta do mirim, estava como no quintal de sua casa. Ao lado de pais anônimos, falou das aspirações do rebento.
"Ele adora o Adriano e fala muito com o primo. Quando ele não vem ao Brasil no fim do ano, vamos para a Itália."
No CT de Vargem Grande, a lista de filhos de ex-jogadores segue, na maioria das vezes, a influência dos pais. É o caso do volante e zagueiro Daniel, 15, filho de Mozer, que está no infantil. Na mesma faixa etária, Paulo Nunes vê o pupilo Luan seguir seus passos no ataque.
Na categoria mirim, de garotos nascidos em 94 e 95, a tendência prevalece. Pedro busca ser artilheiro, como o primo foi na Itália. Patrick, filho do zagueiro Júnior Baiano, e Lucas, filho do ex-meia Leonardo, tentam copiar os pais atuando nas mesmas faixas de campo.
Como toda regra tem exceção, há os que ousam desafiar as características paternas. E nesse caso estão incluídos os filhos de Djalminha e Bebeto.
Diego, também chamado de Diego Dias, não é canhoto como o pai, Djalminha, e prefere o ataque ao meio-campo. Com uma vasta cabeleira, estilo black power, no primeiro contato ele revela estar preparado para a inevitável cobrança.
"Eu sou eu. Meu pai é meu pai. Deixa eu chegar no profissional primeiro para depois ficar comparando", falou ele.
Mattheus, cujo nascimento foi "anunciado" pelo pai após gol no épico Brasil 3 x 2 Holanda na Copa de 1994, faz questão de mostrar que Bebeto é coisa do passado. Cabeludo, canhoto e bom nas assistências, o meia chiou no coletivo. "Passa a bola, pô! Quer fazer tudo sozinho?"
Ao lado de Pedro, Mattheus já sabe o que é defender o país. Convocado para a seleção sub-13, jogou o Torneio Mediterrâneo, realizado na Espanha.
Segundo Rivellino Serpa, coordenador técnico do CT, um trabalho psicológico está sendo feito para que os garotos não sofram com comparações.
Entre as mães, a preocupação também é grande. Denise, mulher de Bebeto, diz que o filho sabe bem o que enfrentará. "O Bebeto é muito crítico com ele. E, mesmo não sendo da mesma posição que o pai, o Mattheus sabe que sempre vai ser comparado ao Bebeto."
Invicto na primeira fase do Estadual, o time mirim venceu 11 dos 12 jogos e se classificou em primeiro -69 gols marcados e quatro sofridos.
Mas, apesar dos números, a prioridade nessa categoria não é ganhar títulos. "Investimos na formação. O garoto tem de estar preparado para saber ganhar e perder", disse Serpa.

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