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São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2003

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FUTEBOL

Jogo gostoso e maluco

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Brasil e Uruguai fizeram um jogo divertido e maluco. Só é mais esquizofrênico a injustiça e a violência do mundo atual. O time brasileiro esteve muito perto de dar uma grande goleada e quase perde. A irregularidade dos times e jogadores foi uma característica da partida. Regular e ruim só o Lúcio durante os noventa minutos. Está na hora de experimentar os excelentes zagueiros da seleção sub-23.
No primeiro tempo, o Brasil teve uma atuação primorosa, facilitada pela péssima marcação do Uruguai, que só tinha dois jogadores no meio. No segundo, o técnico uruguaio fez uma modificação tática, colocou o time mais no ataque e escalou os dois melhores jogadores (Recoba e Chevantón), que estavam na reserva.
Mas não foram essas mudanças e nem a queda do Brasil as principais causas da virada, e sim os mistérios do futebol. Quando o jogo estava 2 a 0, mesmo no segundo tempo, a seleção tinha muito mais chances de fazer 5 a 0 do que o Uruguai marcar três gols.
O técnico Carrasco terminou o primeiro tempo como "maluco", burro e irresponsável, por dar tanta liberdade aos craques brasileiros. No final do jogo era chamado de estrategista, corajoso e genial. Não sei qual dos conceitos está mais perto da verdade. O tempo dirá. Algumas vezes a loucura está perto da genialidade.
Apesar dos riscos de levar uma goleada, fiquei ainda mais convicto de que é mais fácil ganhar do Brasil jogando no ataque do que na defesa. Porém, o adversário não precisa arriscar tanto. O Peru teve chances de vencer o Brasil com um time mais equilibrado, que atacou e marcou bem.
Até fora de campo foi diferente e contraditório o comportamento do técnico uruguaio. Ele tinha a mesma cara nos gols no Uruguai e do Brasil. Luxemburgo deve ter ficado curioso para saber a grife do terno que o Carrasco usava. Mas não é a sua cor preferida.
O técnico uruguaio teria dito dias antes do jogo que conhecia mais de futebol do que o Parreira. Não sei se ele é melhor, mas certamente é muito mais imprevisível. Após a partida, estava louco para assistir à sua entrevista, para conhecê-lo melhor.
Fiquei curioso. Sou psicólogo de botequim. Mas quase só mostraram o Parreira. Os delirantes são muito mais interessantes do que os racionais.
Foi uma atípica e deliciosa partida. Saiu da mesmice. Mas não serviu de referência para se fazer uma análise técnica correta, e sim para confundir torcedores, comentaristas e o Parreira. O técnico não deve ter entendido nada. Nem eu. Foi coisa de doido.
Semanas atrás, escrevi que talvez falte ao futebol um técnico revolucionário, sonhador e racional, mistura de Dom Quixote e Sancho Pança. Seria a união do Carrasco com o Parreira. A loucura e a razão. O perigo é o lado sonhador agir quando é preciso ser racional e vice-versa. Aí ficaria ainda mais doido.
Fui dormir com a dúvida se os verdadeiros loucos são os raros que subvertem a ordem, a razão e não aceitam a realidade ou são os que seguem esse maluco mundo.

Palpites
Continuam os pedidos de torcedores e da imprensa para o Alex entrar no lugar do Zé Roberto e não do Kaká. Alex, Kaká, Ronaldinho Gaúcho e Diego não têm características para jogar na posição do Zé Roberto, marcando no campo do Brasil e chegando ao ataque. Vão se tornar jogadores comuns. Daria certo se o time jogasse com dois volantes e dois meias ofensivos próximos dos dois atacantes. É uma boa opção durante algumas partidas.
Quase todas as principais seleções do mundo têm quatro no meio-campo (dois volantes e um armador de cada lado). Os dois armadores defendem e atacam. O Brasil tem três no meio. Se entrar o Alex ou outro meia ofensivo no lugar do Zé Roberto, ficam apenas dois na marcação. Na dá. O que não se pode é os três do meio-campo não avançarem, como aconteceu contra o Peru.
Zé Roberto ataca e defende bem e merece ser titular, independentemente de sua ótima atuação com o Uruguai. Mas é preciso buscar alternativas. Há um ano Ricardinho era esse jogador. Juninho Pernambucano pode jogar pela esquerda, mas ficará um pouco torto. Minha grande esperança é o Robinho. Apesar de jogar no Santos e na seleção sub-23 como atacante, Robinho tem talento, velocidade e inteligência para marcar no seu campo e chegar à frente, como no gol da seleção pré-olímpica contra o Santos.
E-mail: tostao.folha@uol.com.br


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