São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2008

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PAULO VINICIUS COELHO

Bata na madeira


O São Paulo, dia após dia, revela-se o único ligado nas tendências mundiais, capaz de provar a substância do tri

A COLUNA escrita por Alberto Helena Junior segue viva na memória como se houvesse sido publicada ontem. Mas saiu mesmo na edição de 17 de dezembro de 1982, da revista "Placar". Na capa, o título "Corinthians campeão!", nas páginas internas, a conquista alvinegra que impedia, pela quarta vez na história, o São Paulo de ser tricampeão.
Sob o título "Bata três vezes na madeira quando seu time chegar ao tri", Helena se perguntava por que o tricampeonato possui substância tão fina e especial, por que parecia ser mais significativo até que o tetra ou o penta?
Sem jamais vestir a faixa do tri, o São Paulo seguiu sua trajetória de títulos, interrompida apenas por uma seca de 13 anos, a menor entre os grandes clubes do país, à exceção do Vasco. Enquanto isso, times que chegavam ao tri passavam por turbulências logo na seqüência.
"O caso é que na história dos supertimes, ao se vencerem os três anos de fausto, sempre se impôs uma reformulação", escrevia Alberto Helena, em 1982, lembrando o Santos, o Flamengo e o São Paulo dos anos 40.
O texto ficou na memória, mais até na do menino de 13 anos do que na do autor. Perguntado se lembrava de ter escrito a obra-prima, Helena respondeu, em 1998: "Não lembro desse texto, não".
O crescimento da lista de campeões brasileiros faz, pela primeira vez, ser mais simbólico dizer "tri" do que "hexa", caso o São Paulo conquiste seu terceiro Brasileirão consecutivo. A missão ainda é espinhosa, porque exige somar ponto em São Januário, de preferência os três em disputa -e olha aí o número cabalístico outra vez.
Diferentemente dos casos dos tri que não souberam passar por reformulação, o São Paulo de Juvenal, Muricy e Rogério Ceni vive em outra época. Tempo em que é preciso reformular-se para ser bi, como foi em 2007 com seis titulares diferentes de 2006. O tri se anuncia com seis novidades em relação ao time titular contra o América-RN, no jogo que confirmou o segundo título seguido, no ano passado.
Significa ser possível comparar o tri do São Paulo -se chegar- não com o Flu de 85, ou o Santos de 69, mas com o Bayern de Munique. Dos últimos dez campeonatos alemães, o Bayern venceu sete, com um tri e um bicampeonato. Pelo mundo, clubes como Bayern, Barcelona, Real Madrid, Ajax e PSV espantam a maldição e se mantêm na luta por troféus, mesmo depois de conquistá-los por três vezes consecutivas.
Como o São Paulo, dia após dia, torna-se o único clube do país ligado nas tendências do futebol mundial, parece ser capaz de criar um longo período de hegemonia. De ser o Bayern de Munique do Brasil, de ganhar três títulos e perder um, ganhar mais dois e deixar a concorrência com outro e seguir sua trajetória de conquistas quase sem interrompê-la. É o primeiro sintoma de que se está perto de cumprir a profecia de que, tendo o Brasileirão como base da temporada, nascerá uma elite de quatro, cinco grandes clubes no máximo. Sendo ou não tricampeão, o São Paulo claramente fará parte desse grupo seleto. A questão é se alguém mais fará.
Bata três vezes na madeira.

pvc@uol.com.br


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