São Paulo, terça-feira, 23 de dezembro de 2008 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Faz-tudo do basquete morre em SP
Rosa Branca, 68, um dos melhores atletas da geração bicampeã mundial pela seleção brasileira, estava com pneumonia
ADALBERTO LEISTER FILHO DA REPORTAGEM LOCAL Carmo de Souza, o Rosa Branca, 68, gostava de brincar que, com a morte dos técnicos Kanela e Moacyr Daiuto, que dirigiram a seleção brasileira de basquete, logo seus ex-companheiros na equipe seriam "chamados" pelos treinadores. "Ele dizia para mim e o Mosquito que iria nos convocar. "Estão precisando de armador no céu'", lembra Edvar Simões, ex-companheiro de seleção, às lágrimas, ao falar da morte do amigo, ontem, em São Paulo, de complicações pulmonares decorrentes de pneumonia. O apelido Rosa Branca surgiu na infância, por conta de ele ser parecido com um motorista do presidente Getúlio Vargas, que era conhecido dessa forma. Cedo, o espigado garoto, que chegaria a 1,89 m, despontou para o basquete, já em São Carlos. "Eu era de Sorocaba, e ele, de Araraquara. A gente morava embaixo da arquibancada do [ginásio] João Marigo e ia junto comer numa pensão. Nem imaginávamos onde chegaríamos", conta Benedito Tortelli, o Paulista, que atuou com o ala também no Palmeiras e na seleção. Rosa Branca, que deixou São Carlos em 1959 para atuar pelo clube do Parque Antarctica, integrou a geração mais vitoriosa do basquete do país. Defendeu a seleção brasileira por 12 anos, tendo sido bicampeão mundial (1959 e 1963) e duas vezes medalha de bronze na Olimpíada (Roma-1960 e Tóquio-1964). "Ele fazia o que queria com a bola. Poderia ter sido melhor do que foi, se tivesse mais disciplina", relata Paulista, que logo se transferiu para o Vasco e se frustrou por não ter convencido o amigo a seguir para o Rio. "Eu era rei no Rio. E ele era melhor jogador. Poderia ter ganhado muito mais dinheiro se tivesse ido para lá", lamenta. Versátil, Rosa Branca chegou a atuar também de armador e pivô. "Era um jogador completo. Possuía ótimo arremesso de longe, marcava bem e tinha um rebote fantástico", elogia Carlos Domingos Massoni, o Mosquito, ex-companheiro de Palmeiras e seleção brasileira. "Hoje falam muito de Wlamir e Amaury. Mas o Rosa Branca foi um dos cinco ou seis melhores jogadores da história do país", acrescenta o armador. A precisão de seus tiros de longa distância atraíram a atenção dos EUA. Por duas vezes, o ala recusou convite para atuar no Harlem Globetrotters. Pela seleção, Rosa Branca também levou duas medalhas em Pans: um bronze na Cidade do México-1955 e o vice-campeonato em São Paulo-1963. Foi tetracampeão sul-americanos em 1958, 1960, 1961 e 1968. Em clubes, viveu sua melhor fase a partir de 1963, quando se transferiu para o Corinthians. "Houve um desmanche no Palmeiras, e sobraram só uma base com eu, Mosquito e Edson Bispo", lembra Jatyr Schall, outro ex-colega de clube e seleção. Pela equipe do Parque São Jorge, Rosa Branca conquistou cinco títulos do Paulista e três da Taça Brasil, antecessora do atual Nacional. Aposentou-se no Corinthians, em 1971. "Ele foi um dos destaques do jogo mais memorável daquela equipe, contra o Real Madrid", rememora Edvar, lembrando de amistoso de 1965 contra o campeão espanhol e europeu. Foi a primeira vez no país que os dois times superaram os cem pontos. O Corinthians, que também tinha Wlamir, Ubiratan e Renê Salomão no quinteto titular, venceu (118 a 109). O enterro de Rosa Branca será hoje, no Cemitério da Lapa (zona oeste de São Paulo). Texto Anterior: José Roberto Torero: Zé Cabala e o Negão Motora Próximo Texto: Despedida: Ala deixou seleção com prata Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |