São Paulo, quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

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Cruzeiro novo

Adriano retorna à Vila Cruzeiro, favela em que cresceu e que foi palco de conflitos entre policiais e traficantes enquanto o jogador estava na Europa

SÉRGIO RANGEL
DO RIO

Ao visitar ontem a favela onde nasceu, o atacante Adriano encontrou a Vila Cruzeiro bem diferente do seu refúgio nos últimos anos.
Traficantes armados, carros roubados e comércio de drogas funcionando abertamente não são mais vistos na comunidade, famosa pela violência das facções criminosas que a controlavam.
Outra novidade para Adriano foram as centenas de policiais e soldados do Exército que, desde o final do mês passado, espalham-se pela comunidade.
"Estou gostando do que estou vendo. Isso é bom para todos, inclusive para os jornalistas, que vão poder vir aqui agora. Isso é ótimo porque vão parar de falar que estou envolvido com os traficantes", afirmou Adriano, que foi investigado pela Polícia do Rio neste ano por suposta ligação com o tráfico de drogas. O inquérito foi arquivado pelo Ministério Público por falta de provas.
Cercado de crianças e andando sem camisa pelas vielas da favela, o jogador da Roma, que pretende montar um projeto social no local, viu também funcionários da Prefeitura do Rio e do governo do Estado percorrendo os becos e oferecendo oportunidades de emprego, serviços e diversão aos moradores.
Ontem, um ônibus da Secretaria Estadual de Trabalho e uma van da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia passaram o dia recebendo jovens e crianças. O ônibus oferecia cursos para capacitar jovens que pretendem trabalhar durante a Copa-14 e a Olimpíada-16; a van colocava as crianças para se divertirem na internet.
"Espero que os moradores aproveitem a oportunidade que o governo está dando. Continuarei aqui fazendo o meu churrasco, jogando a minha bola. Vou fazer o que sempre fiz", disse Adriano, pouco antes de entrar no campo do Ordem e Progresso, time tradicional da favela.
Na infância, o campo era uma espécie de playground para o jogador. Lá, Adriano passava os dias jogando bola ou comendo pipoca enquanto via os jogos. Vanda França, sua avó, morava numa viela atrás de um dos gols.
Adriano pôde ver as marcas dos conflitos entre traficantes e policiais. Motos queimadas ainda estão largadas na entrada da rua onde a avó Vanda morava.
Os parentes do atleta não moram mais na Vila Cruzeiro. Mãe e avó vivem na Barra da Tijuca, região luxuosa do Rio. Outros vivem em bairros modestos da zona oeste.
Ao deixar o morro, depois de quase três horas de festa, o jogador passou pelo antigo bar do Rato, onde seu pai, Almir Leite, foi baleado durante uma festa nos anos 90.
Almir morreu em 2005 por complicações causadas pelo tiro. Um sacolão funciona hoje no lugar do bar.
"O Adriano mostrou que nossa favela também tem tesouros. Tomara que a vida mude a partir de agora", disse o contínuo Rodolfo Pereira, 32, na porta do centro comunitário onde o jogador distribuiu cestas básicas.


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