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Cruzeiro novo
Adriano retorna à Vila Cruzeiro, favela em que cresceu e que foi palco de conflitos entre policiais e traficantes enquanto o jogador estava na Europa
SÉRGIO RANGEL
DO RIO
Ao visitar ontem a favela
onde nasceu, o atacante
Adriano encontrou a Vila
Cruzeiro bem diferente do
seu refúgio nos últimos anos.
Traficantes armados, carros roubados e comércio de
drogas funcionando abertamente não são mais vistos na
comunidade, famosa pela
violência das facções criminosas que a controlavam.
Outra novidade para
Adriano foram as centenas
de policiais e soldados do
Exército que, desde o final do
mês passado, espalham-se
pela comunidade.
"Estou gostando do que
estou vendo. Isso é bom para
todos, inclusive para os jornalistas, que vão poder vir
aqui agora. Isso é ótimo porque vão parar de falar que estou envolvido com os traficantes", afirmou Adriano,
que foi investigado pela Polícia do Rio neste ano por suposta ligação com o tráfico de
drogas. O inquérito foi arquivado pelo Ministério Público
por falta de provas.
Cercado de crianças e andando sem camisa pelas vielas da favela, o jogador da
Roma, que pretende montar
um projeto social no local,
viu também funcionários da
Prefeitura do Rio e do governo do Estado percorrendo os
becos e oferecendo oportunidades de emprego, serviços e
diversão aos moradores.
Ontem, um ônibus da Secretaria Estadual de Trabalho e uma van da Secretaria
Estadual de Ciência e Tecnologia passaram o dia recebendo jovens e crianças. O
ônibus oferecia cursos para
capacitar jovens que pretendem trabalhar durante a Copa-14 e a Olimpíada-16; a van
colocava as crianças para se
divertirem na internet.
"Espero que os moradores
aproveitem a oportunidade
que o governo está dando.
Continuarei aqui fazendo o
meu churrasco, jogando a
minha bola. Vou fazer o que
sempre fiz", disse Adriano,
pouco antes de entrar no
campo do Ordem e Progresso, time tradicional da favela.
Na infância, o campo era
uma espécie de playground
para o jogador. Lá, Adriano
passava os dias jogando bola
ou comendo pipoca enquanto via os jogos. Vanda França, sua avó, morava numa
viela atrás de um dos gols.
Adriano pôde ver as marcas dos conflitos entre traficantes e policiais. Motos
queimadas ainda estão largadas na entrada da rua onde a avó Vanda morava.
Os parentes do atleta não
moram mais na Vila Cruzeiro. Mãe e avó vivem na Barra
da Tijuca, região luxuosa do
Rio. Outros vivem em bairros
modestos da zona oeste.
Ao deixar o morro, depois
de quase três horas de festa,
o jogador passou pelo antigo
bar do Rato, onde seu pai, Almir Leite, foi baleado durante uma festa nos anos 90.
Almir morreu em 2005 por
complicações causadas pelo
tiro. Um sacolão funciona
hoje no lugar do bar.
"O Adriano mostrou que
nossa favela também tem tesouros. Tomara que a vida
mude a partir de agora", disse o contínuo Rodolfo Pereira, 32, na porta do centro comunitário onde o jogador
distribuiu cestas básicas.
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