São Paulo, segunda-feira, 24 de janeiro de 2005

Texto Anterior | Índice

FUTEBOL

Ingresso subsidiado e sorteios levam a rodada dupla no estádio público semelhante ao recorde do Brasileiro-2004

Por R$ 1, torcedor-família revê Maracanã

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

O programa Torcedor-Família é da Federação Paulista de Futebol, mas ontem quem viu um estádio cheio de fãs comportados foi o Estadual do Rio de Janeiro.
A promoção do ingresso a R$ 1 encheu o Maracanã e levou de volta as famílias ao campo. O público foi de 45.279 torcedores, quase igual ao recorde do Campeonato Brasileiro do ano passado (47.002 pagantes, no jogo Atlético-MG 3 x 0 São Caetano).
Diferentemente dos jogos do ano passado, quando a arquibancada do estádio era uma área ocupada por um típico público "boleiro", pais, avós, tios, mães, dezenas até com crianças de colo, assistiram ontem à tarde à primeira rodada dupla do Estadual, que começou com o fiasco do Flamengo, derrotado pelo Olaria por 3 a 0. Em seguida, o Fluminense bateu de virada o Madureira (3 a 1).
O sucesso de público se deve a iniciativa do Governo do Rio, que decidiu bancar parte da competição na semana passada ao anunciar o programa "Gol de Placa", que pretende diminuir a sonegação de impostos e dar "um estímulo ao futebol do Estado".
Pelo acordo, o governo vende os bilhetes por R$ 1 a quem levar em lotéricas conveniadas notas fiscais no valor de R$ 50. O beneficiado também ganha uma raspadinha para participar de sorteios nos intervalos. Na rodada dupla de ontem, foram sorteados quatro prêmios de R$ 1 mil cada um.
"Só estou aqui por causa dessa oferta. Se não fosse, passaríamos a tarde inteira trancados em casa vendo televisão", disse o gari Luciano Bezerra Fernandes, 26, morador da Pavuna, zona norte do Rio. Com o filho de um ano e sete meses no colo, ele foi ao Maracanã com a mulher, a sobrinha, o cunhado e a sogra. No total, Fernandes comprou seis ingressos.
"Além de a tarde ter sido animada, tive o prazer de ver o Flamengo perder para o Olaria. Isso não tem preço e vai ficar para o resto da minha vida", disse ele.
No intervalo do jogo do Fluminense, o lavrador capixaba Rogério Custódio Dias, 31, brindava. "É uma emoção ver o meu primeiro jogo no Maracanã." De férias no Rio na casa de parentes no subúrbio da cidade, ele levou o filho de apenas 2 anos e oito meses, a mulher e sete primos ao estádio.
Ontem, os 20 mil ingressos colocados à venda por R$ 1 foram vendidos. No dia anterior, o Botafogo havia levado mais de 20 mil torcedores ao Maracanã na sua estréia no Estadual. O time venceu o América, por 3 a 2.
No jogo Vasco 2 x 1 Portuguesa, ontem, o público foi de 19.771 -e muitos torcedores não conseguiram entrar em São Januário.
Segundo o secretário estadual de Esporte, Francisco de Carvalho, o governo decidiu fazer a promoção depois de fazer pesquisa com os cariocas. "Sabíamos que teríamos sucesso. Os torcedores disseram que não iam mais ao estádio por causa do preço do ingresso (R$ 10) e não pela violência, que já não acontece dentro do estádio há muito tempo."
A rodada dupla ajudou a criar o clima de festa. A torcida do Fluminense comemorava desde cedo o fiasco do arqui-rival.
Com esquema inusitado, o Olaria surpreendeu o Flamengo -o time não tinha zagueiros. "O futebol está cada vez mais estrangulado na frente. Por isso, decidi atuar assim. Acho que deu certo."
Após o jogo, o Flamengo se recusou a assinar o borderô, alegando evasão de renda. O clube diz que o público divulgado estava certo, mas que, como as roletas do Maracanã funcionaram no sistema manual, vários torcedores entraram com um mesmo ingresso.


Texto Anterior: Futebol - Humberto Peron: Vale somente a última rodada
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.