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FUTEBOL
Ingresso subsidiado e sorteios levam a rodada dupla no estádio público semelhante ao recorde do Brasileiro-2004
Por R$ 1, torcedor-família revê Maracanã
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
O programa Torcedor-Família é
da Federação Paulista de Futebol,
mas ontem quem viu um estádio
cheio de fãs comportados foi o Estadual do Rio de Janeiro.
A promoção do ingresso a R$ 1
encheu o Maracanã e levou de
volta as famílias ao campo. O público foi de 45.279 torcedores,
quase igual ao recorde do Campeonato Brasileiro do ano passado (47.002 pagantes, no jogo Atlético-MG 3 x 0 São Caetano).
Diferentemente dos jogos do
ano passado, quando a arquibancada do estádio era uma área ocupada por um típico público "boleiro", pais, avós, tios, mães, dezenas até com crianças de colo, assistiram ontem à tarde à primeira
rodada dupla do Estadual, que começou com o fiasco do Flamengo,
derrotado pelo Olaria por 3 a 0.
Em seguida, o Fluminense bateu
de virada o Madureira (3 a 1).
O sucesso de público se deve a
iniciativa do Governo do Rio, que
decidiu bancar parte da competição na semana passada ao anunciar o programa "Gol de Placa",
que pretende diminuir a sonegação de impostos e dar "um estímulo ao futebol do Estado".
Pelo acordo, o governo vende os
bilhetes por R$ 1 a quem levar em
lotéricas conveniadas notas fiscais
no valor de R$ 50. O beneficiado
também ganha uma raspadinha
para participar de sorteios nos intervalos. Na rodada dupla de ontem, foram sorteados quatro prêmios de R$ 1 mil cada um.
"Só estou aqui por causa dessa
oferta. Se não fosse, passaríamos a
tarde inteira trancados em casa
vendo televisão", disse o gari Luciano Bezerra Fernandes, 26, morador da Pavuna, zona norte do
Rio. Com o filho de um ano e sete
meses no colo, ele foi ao Maracanã com a mulher, a sobrinha, o
cunhado e a sogra. No total, Fernandes comprou seis ingressos.
"Além de a tarde ter sido animada, tive o prazer de ver o Flamengo perder para o Olaria. Isso não
tem preço e vai ficar para o resto
da minha vida", disse ele.
No intervalo do jogo do Fluminense, o lavrador capixaba Rogério Custódio Dias, 31, brindava.
"É uma emoção ver o meu primeiro jogo no Maracanã." De férias no Rio na casa de parentes no
subúrbio da cidade, ele levou o filho de apenas 2 anos e oito meses,
a mulher e sete primos ao estádio.
Ontem, os 20 mil ingressos colocados à venda por R$ 1 foram
vendidos. No dia anterior, o Botafogo havia levado mais de 20 mil
torcedores ao Maracanã na sua
estréia no Estadual. O time venceu o América, por 3 a 2.
No jogo Vasco 2 x 1 Portuguesa,
ontem, o público foi de 19.771 -e
muitos torcedores não conseguiram entrar em São Januário.
Segundo o secretário estadual
de Esporte, Francisco de Carvalho, o governo decidiu fazer a promoção depois de fazer pesquisa
com os cariocas. "Sabíamos que
teríamos sucesso. Os torcedores
disseram que não iam mais ao estádio por causa do preço do ingresso (R$ 10) e não pela violência, que já não acontece dentro do
estádio há muito tempo."
A rodada dupla ajudou a criar o
clima de festa. A torcida do Fluminense comemorava desde cedo
o fiasco do arqui-rival.
Com esquema inusitado, o Olaria surpreendeu o Flamengo -o
time não tinha zagueiros. "O futebol está cada vez mais estrangulado na frente. Por isso, decidi atuar
assim. Acho que deu certo."
Após o jogo, o Flamengo se recusou a assinar o borderô, alegando evasão de renda. O clube diz
que o público divulgado estava
certo, mas que, como as roletas do
Maracanã funcionaram no sistema manual, vários torcedores entraram com um mesmo ingresso.
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