São Paulo, domingo, 24 de janeiro de 2010

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ganha-pão

Dinheiro olímpico dá fôlego ao esporte

Relatório aponta que verba dos Jogos chega a 85% da receita de federações

Em 10 de 26 modalidades, recursos repassados pelo COI representam mais de 50% do faturamento no período de 2004 a 2008

RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A maioria dos esportes olímpicos tem alta dependência das rendas dos Jogos. É o que mostra relatório do COI (Comitê Olímpico Internacional) que detalha as estruturas de cada uma das 26 modalidades.
Os dados desse documento revelam a dificuldade que as confederações brasileiras terão para tornar viáveis seus esportes sob o ponto de vista financeiro, sem recursos estatais. Até agora, essa é a principal fonte de renda de quase todas.
No cenário mundial, dez federações internacionais têm pelo menos 50% das suas receitas no período entre 2004 e 2008 vinculadas aos Jogos. Ou seja, são repasses feitos pelo COI referentes à competição.
Estão nessa lista esportes com boa visibilidade, como a ginástica, o boxe e o judô. Há o caso, por exemplo, da canoagem, que tem 85% da sua renda dependente da Olimpíada.
Há explicações específicas para a falta de interesse privado, como no boxe -no ciclo olímpico até 2004, 65% das receitas originárias eram dos Jogos Olímpicos. A Aiba (Associação Internacional de Boxe Amador) só tem um patrocinador que lhe dá dinheiro (Acer), e suas rendas de marketing e direitos de TV representam menos de 10% do total.
"Eu diria que em todos os países o boxe amador está relacionado aos Jogos Olímpicos. Até nos EUA é necessário ter ajuda estatal", avalia o presidente da Confederação Brasileira de Boxe, Mauro Silva.
Explica-se: o boxe profissional fica com a maior parte dos investimentos, principalmente na Europa e nos EUA. Empresários têm pego atletas cada vez mais novos, o que enfraquece o esporte amador e compõe um cenário que se repete no Brasil.
O tiro esportivo também está entre os mais dependentes, com cerca de 70% de sua verba ligada às Olimpíadas.
"Temos 48 mil atletas. Quem sabe disso no Brasil?", afirma o presidente da confederação de tiro esportivo, Frederico Costa, que só conta com verba da Lei Piva. Ele citou Rússia e EUA como países onde o tiro chega à TV, sendo mais divulgado.
Outras quatro federações internacionais têm entre 40% e 50% das receitas vindas dos Jogos. Entre elas, a de badminton, com 43% da renda dependente do COI. Só tem um patrocinador, embora as receitas de marketing e TV representem ao menos um terço do total. O esporte é forte economicamente em países como Indonésia, Noruega, China e Inglaterra. Em outros, pena, como no Brasil.
"É um ciclo. Você não tem patrocínio porque não aparece, o que ocorre porque a gente não é conhecido", lamenta o presidente da confederação de badminton, Celso Wolf, que relata que a Rio-2016 não alterou o quadro. "Até agora, só sou procurado por gente de fora."
Em outra faixa estão esportes com uma dependência dos Jogos relativamente moderada, entre 10% e 30%. Nessa lista há até modalidades tradicionais e ricas, como o atletismo, que tem um décimo de sua renda vinculado à Olimpíada.
E também esportes importantes em certas regiões, como o tênis de mesa, muito popular na Ásia e que tira um quarto de seu ganho total dos Jogos.
No Brasil, a modalidade enfrenta dificuldades maiores. "Não tenho conseguido patrocínio porque só estão interessados em esportes que já dão resultado", conta o presidente da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa, Alaor Azevedo.


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