São Paulo, sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

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Bocha (bocha?) vira esperança olímpica

Brasil recruta atletas em canchas, oferece troca por gelo e almeja time de curling em jogos de 2010

LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL

Se você é praticante de bocha e lamenta o fato de seu esporte não estar na Olimpíada, saiba que ainda há uma boa chance de se tornar um atleta olímpico.
Visando os Jogos de Inverno de Vancouver, em 2010, a CBDG (Confederação Brasileira de Desportos do Gelo) pretende montar uma equipe de curling, talvez a mais curiosa (e esquisita) modalidade disputada no evento.
O jogo começa com atletas lançando pedras de granito parecidas com chaleiras em busca do alvo. No percurso, competidores usam vassouras para diminuir o atrito entre o objeto e a pista de gelo. Assim, facilitam o caminho até o destino final almejado.
Não por acaso, a bocha é a primeira opção de dirigentes para recrutar atletas brasileiros. Com dinâmica parecida, a prática consiste em atirar bolas em uma pista tentando aproximá-las tanto quanto possível de outra, pequena, denominada chico ou bolim.
"São esportes de estratégia, que qualquer um pode praticar. O avô joga com o neto e o marido treina com a mulher e com os filhos. Isso porque o "músculo" mais usado é o cérebro", conta, por telefone, de Turim, onde acompanha os Jogos de Inverno, Eric Maleson, presidente da CBDG.
Mas não são só os praticantes da bocha que ele pretende aliciar. "Atletas do boliche e do xadrez [que também não integram o rol dos esportes olímpicos] também interessam", diz o dirigente.
O xadrez, explica ele, integra a lista porque seus praticantes têm a capacidade de antever lances, traçando a estratégia dos lançamentos com movimentos de antecedência. "No curling, antecipar a estratégia do adversário é fundamental, por isso, há quem chame o esporte de o "xadrez do gelo'", diz Maleson.
Ele já iniciou o recrutamento. Em maio do ano passado, a CBDG começou a receber, por meio de seu site oficial (www.cbdg.org.br), currículos esportivos de interessados no esporte de inverno. "Chegaram cerca de 300 mensagens, sendo que cem vieram de praticantes de bocha", lembra Maleson.
O retorno dos interessados o motivou a procurar a Federação Internacional de Curling, que enviou material esportivo para o início dos treinamentos. "O Brasil é o único país latino-amerciano que já investe no desenvolvimento do curling. Já temos 64 pedras e algumas vassouras."
Após os Jogos de Turim, ele pretende ir ao congresso mundial de curling no Estado de Massachussets (EUA), onde mora. Lá, a meta é convencer integrantes da federação a visitar o Brasil para ajudar na difusão do esporte de gelo.
Além da entidade que comanda o curling no mundo, Maleson trata com cartolas do esporte nacional. Ele já se reuniu com Lars Grael, secretário da Juventude de SP, para debater o fomento à modalidade. "O Lars mostrou um interesse grande porque o curling é um esporte para toda a família. Temos o projeto para construir uma pista oficial. Por enquanto, São Paulo mostrou ter mais interesse em abrigá-la, mas Rio e Curitiba também estão no páreo."
Se a pista, que deve custar cerca de R$ 2 milhões, ficar mesmo em São Paulo, não faltarão atletas da bocha para o teste no novo espaço. Segundo o presidente da Federação Paulista de Bocha e Bolão, Geiser Prado Noronha, há praticantes da modalidade nos 645 municípios paulistas. "O Estado tem cerca de 186 clubes de bocha e mais umas 20 ligas no interior."
Outra semelhança entre bocha e curling é o fato de serem esportes em que há um país dominante no cenário internacional.
Noronha diz que os principais atletas da bocha são os italianos, enquanto o Canadá, com mais de 1 milhão de atletas, é o mais tradicional centro do curling.
Ontem, a equipe feminina do Canadá arrebatou o bronze em Turim (o ouro foi das suecas). Hoje, o time masculino do país, que vem de duas decepcionantes pratas nas últimas edições dos Jogos, faz a final contra a Finlândia.


NA TV - Final do curling, ao vivo, às 13h30, no Sportv 2


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