São Paulo, domingo, 24 de março de 2002

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VÔLEI

Sem equipes para jogar no Peru, Natália Málaga e Rosa Garcia, prata em Seul-88, vão encerrar a carreira no país

Para fugir de crise, estrelas peruanas vêm jogar no Brasil

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em meio a uma das maiores crises da história do vôlei do Peru e sem opções de equipes para atuarem no país, duas das mais importantes jogadoras peruanas escolheram o Brasil para encerrarem suas carreiras.
Natália Málaga, 38, está jogando a Superliga pela equipe de Campos, e Rosa Garcia, 37, atua pelo Blue Life-Pinheiros.
As veteranas jogadoras estavam no último time que derrotou a seleção brasileira na decisão de um sul-americano, em 1989.
Um ano antes, haviam conquistado o maior feito da história do vôlei peruano -que dominou o esporte da América do Sul na década de 80-, a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Seul.
Na final da Olimpíada, a tática peruana sucumbiu diante da força russa, e o Peru iniciou uma queda sem demonstrar ter fôlego para superar tão cedo -hoje, a seleção feminina ocupa a 23ª posição no ranking da FIVB (Federação Internacional de Vôlei). A masculina está apenas em 55º.
Sem um campeonato nacional forte e assistindo à falta de renovação das jogadoras de seu país, Rosa e Natália, assim como a maioria das estrelas peruanas, tiveram de ir jogar no exterior.
Natália atuou entre 1988 e 1993 na Itália e já disputou quatro temporadas no Brasil -agora, está nas semifinais da Superliga.
Rosa, que já foi eliminada do Nacional com o Pinheiros, estava há três anos no país.
"Fiquei quase 22 anos na seleção peruana. É muito triste para mim ver essa situação agora. Cada vez que vou ao Peru penso que gostaria de fazer algum milagre para deixar o vôlei novamente bem por lá", afirmou Natália.
Para as veteranas jogadoras, o principal problema da queda do esporte peruano é a falta de investimento nas categorias de base. Com poucos clubes e um nacional fraco -tem poucas equipes e dura só 15 dias-, as atletas chegam à seleção sem experiência.
"Enquanto isso, o nível do Brasil melhorou em um ritmo alucinante. Eu, que já tenho 38 anos, tenho de me esforçar em dobro para treinar aqui", disse Natália.
O time feminino do Peru, que já foi exemplo na América do Sul, hoje tenta se manter como a terceira força do continente -foi ultrapassado pela Argentina, 13ª colocada do ranking mundial.
"Não temos treinador, não temos meninas. A maioria das atletas que chega à seleção é de juvenis. Até temos alguns destaques, mas não conseguimos manter o nível do time", disse Rosa Garcia.
No ano passado, um imbróglio envolvendo a FPV (Federação Peruana de Vôlei), o IPD (Instituto Peruano de Desportos) e a FIVB (federação internacional) afundou o esporte do país ainda mais na crise. Em julho, a FIVB suspendeu a federação peruana de todas as suas competições por tempo indeterminado por causa da intervenção do IPD na entidade (leia texto nesta página).
A suspensão deixou a seleção masculina do Peru de fora da disputa do classificatório para o Mundial, que aconteceu em julho.
Assim como outras vice-campeãs olímpicas, como Carmem Pimentel, Cenaide Uribe e Cecília Tait (que é deputada), Rosa e Natália têm feito clínicas de vôlei no interior do Peru, além de investirem em escolinhas permanentes.
"Estamos nos mobilizando para tentar descobrir novos talentos. Já encontramos boas jogadoras, mas faltam recursos para levá-las a Lima, iniciar um trabalho. As mudanças só aparecerão em um prazo muito longo", disse Natália.



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