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TÊNIS
País completa nesta semana um ano e meio sem erguer troféus da ATP
Brasil amarga o mais longo jejum de finais na era Guga
TATIANA CUNHA
DA REPORTAGEM LOCAL
Desde que Gustavo Kuerten ganhou seu primeiro título em Roland Garros, em 1997, o Brasil se
acostumou a ter seus tenistas em
finais de torneios da ATP com
uma freqüência jamais vista.
Foram 33 aparições em um período de quase nove anos, o que
equivale a dizer que o país esteve
em uma final a cada cem dias.
Antes do início da "era Guga",
haviam sido 31 presenças em 26
anos, o que significa uma média
de 1,2 decisão a cada temporada.
Ainda acostumado com o ritmo
pós-Guga, o Brasil vive um de
seus piores jejuns desde que chegou pela primeira vez a uma final
de evento do circuito da ATP, em
1971 -na ocasião, Thomaz Koch
venceu o Torneio de Caracas.
Há exatos 551 dias, ou pouco
mais de um ano e meio, o país não
coloca seus representantes em decisões. O último a fazê-lo foi Ricardo Mello, que conquistou o
Torneio de Delray Beach, nos
EUA, em setembro de 2004.
De acordo com levantamento
feito pela Folha, desde o feito de
Koch, em 1971, este já é o quarto
mais longo período sem alcançar
títulos ou finais vivido pelo Brasil
-e o pior desde o "surgimento"
do fenômeno Gustavo Kuerten.
"É difícil explicar por que isso
acontece. Mas, há quatro ou cinco
anos, nós tínhamos quatro ou
cinco jogadores entre os top 100.
Hoje, o [Flavio] Saretta e o Marcos [Daniel] estão brigando para
poder ficar entre os cem, então
podemos dizer que a gente caiu
nesse sentido", afirma Mello, que
ocupa o 176º posto no ranking divulgado na última segunda-feira.
Na lista, Daniel e Saretta estão em
84º e 85º, respectivamente.
"Acho que tudo reflete a falta de
trabalho de base do esporte no
país. Tivemos a chance de mudar
isso quando o Guga apareceu,
mas não aproveitamos", explica o
último brasileiro a erguer um troféu no circuito profissional.
Os outros três longos jejuns que
o Brasil viveu sem chegar a finais
ou ganhar torneios foram todos
justamente antes da aparição de
Guga. O mais longo deles foi no
início dos 70, período em que
Koch se destacava no circuito,
quando tenistas brasileiros ficaram quase cinco anos ausentes.
Depois, no final da década de
70, tempos de Carlos Alberto Kirmayr, foram dois anos e quatro
meses sem ir a finais. E, nos anos
80, foram quase quatro anos de jejum no período em que Luiz Mattar era o número um do Brasil.
Durante a "era Guga", o maior
período em que o país ficou sem
ganhar títulos ou ir a finais de torneios da ATP foi de um ano, entre
setembro de 2001 e setembro de
2002, justamente a época da primeira cirurgia no quadril a que
Kuerten foi submetido, em fevereiro daquela temporada.
"Não vejo algum motivo claro
para esse "fenômeno". Para mim, é
uma junção de coisas. Por exemplo, a renovação dos jogadores está mais lenta agora", afirma Fernando Meligeni, dono de três títulos da ATP e atual capitão da equipe brasileira na Copa Davis.
"A verdade é que o brasileiro se
acostumou mal com o Guga. Ele
ganhava, mas essa nunca foi nossa realidade. O Brasil não tem estrutura de primeiro do mundo.
Nós tivemos um número um do
mundo, o que é bem diferente. Infelizmente, a fase que nós estamos
vivendo atualmente não é anormal", acrescenta Meligeni.
"Veja o exemplo do vôlei. O
Brasil ganhou a Olimpíada e as
coisas continuaram acontecendo,
porque havia uma preparação.
Saiu o Maurício, entrou o Ricardinho, e ele sairá um dia e terá um
cara tão bom quanto ele. No tênis,
não estávamos preparados."
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