São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 2006

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TÊNIS

País completa nesta semana um ano e meio sem erguer troféus da ATP

Brasil amarga o mais longo jejum de finais na era Guga

TATIANA CUNHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde que Gustavo Kuerten ganhou seu primeiro título em Roland Garros, em 1997, o Brasil se acostumou a ter seus tenistas em finais de torneios da ATP com uma freqüência jamais vista.
Foram 33 aparições em um período de quase nove anos, o que equivale a dizer que o país esteve em uma final a cada cem dias.
Antes do início da "era Guga", haviam sido 31 presenças em 26 anos, o que significa uma média de 1,2 decisão a cada temporada.
Ainda acostumado com o ritmo pós-Guga, o Brasil vive um de seus piores jejuns desde que chegou pela primeira vez a uma final de evento do circuito da ATP, em 1971 -na ocasião, Thomaz Koch venceu o Torneio de Caracas.
Há exatos 551 dias, ou pouco mais de um ano e meio, o país não coloca seus representantes em decisões. O último a fazê-lo foi Ricardo Mello, que conquistou o Torneio de Delray Beach, nos EUA, em setembro de 2004.
De acordo com levantamento feito pela Folha, desde o feito de Koch, em 1971, este já é o quarto mais longo período sem alcançar títulos ou finais vivido pelo Brasil -e o pior desde o "surgimento" do fenômeno Gustavo Kuerten.
"É difícil explicar por que isso acontece. Mas, há quatro ou cinco anos, nós tínhamos quatro ou cinco jogadores entre os top 100. Hoje, o [Flavio] Saretta e o Marcos [Daniel] estão brigando para poder ficar entre os cem, então podemos dizer que a gente caiu nesse sentido", afirma Mello, que ocupa o 176º posto no ranking divulgado na última segunda-feira. Na lista, Daniel e Saretta estão em 84º e 85º, respectivamente.
"Acho que tudo reflete a falta de trabalho de base do esporte no país. Tivemos a chance de mudar isso quando o Guga apareceu, mas não aproveitamos", explica o último brasileiro a erguer um troféu no circuito profissional.
Os outros três longos jejuns que o Brasil viveu sem chegar a finais ou ganhar torneios foram todos justamente antes da aparição de Guga. O mais longo deles foi no início dos 70, período em que Koch se destacava no circuito, quando tenistas brasileiros ficaram quase cinco anos ausentes.
Depois, no final da década de 70, tempos de Carlos Alberto Kirmayr, foram dois anos e quatro meses sem ir a finais. E, nos anos 80, foram quase quatro anos de jejum no período em que Luiz Mattar era o número um do Brasil.
Durante a "era Guga", o maior período em que o país ficou sem ganhar títulos ou ir a finais de torneios da ATP foi de um ano, entre setembro de 2001 e setembro de 2002, justamente a época da primeira cirurgia no quadril a que Kuerten foi submetido, em fevereiro daquela temporada.
"Não vejo algum motivo claro para esse "fenômeno". Para mim, é uma junção de coisas. Por exemplo, a renovação dos jogadores está mais lenta agora", afirma Fernando Meligeni, dono de três títulos da ATP e atual capitão da equipe brasileira na Copa Davis.
"A verdade é que o brasileiro se acostumou mal com o Guga. Ele ganhava, mas essa nunca foi nossa realidade. O Brasil não tem estrutura de primeiro do mundo. Nós tivemos um número um do mundo, o que é bem diferente. Infelizmente, a fase que nós estamos vivendo atualmente não é anormal", acrescenta Meligeni.
"Veja o exemplo do vôlei. O Brasil ganhou a Olimpíada e as coisas continuaram acontecendo, porque havia uma preparação. Saiu o Maurício, entrou o Ricardinho, e ele sairá um dia e terá um cara tão bom quanto ele. No tênis, não estávamos preparados."


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