São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 2006

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AUTOMOBILISMO

Alemão segura atual campeão da F-1 no GP de San Marino e quebra jejum de dez meses sem vencer corridas

Schumacher se vinga e dá lição em Alonso

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A IMOLA

Michael Schumacher não esperou que se completasse um ano.
Exatos 364 dias após ser derrotado com maestria por Fernando Alonso, na corrida que definiu os rumos do último Mundial, o alemão conseguiu um troco à altura.
No mesmo circuito, Imola, na Itália, o ferrarista venceu ontem o GP de San Marino, quarta etapa da temporada de F-1, num cenário inverso ao de 2005. Com um carro mais lento, deu aula de pilotagem, segurou o espanhol atrás de si por 23 voltas e recolocou-se na luta pelo campeonato.
Foi sua 85ª vitória na categoria, a primeira em dez meses, seu maior jejum desde 93. Mas o alívio no seu semblante ontem não era de ampliação de recorde ou de fim de fila. Era de vingança.
"Como vimos no ano passado, ultrapassar aqui é quase impossível, a não ser que o sujeito à frente cometa um erro. A experiência me ensinou que precisaria manter o Fernando atrás de mim, mas no meu ritmo, não acelerando tudo. Foi o que fiz", disse Schumacher, desentalando a frustração guardada por quase um ano.
Naquele 24 de abril de 2005, Alonso, então só um aspirante a astro, liderava o GP de San Marino quando viu o alemão no seu retrovisor na 50ª das 62 voltas.
Maior campeão de todos os tempos, 13 anos mais velho e correndo no circuito da Ferrari, Schumacher passou 11 voltas tentando, atacando, incomodando.
Pressão demais para qualquer outro piloto. Não para o espanhol, que defendeu a liderança com precisão e venceu com 0s215 de folga, a 14ª chegada mais apertada de toda a história da F-1.
Ontem, tudo indicava definição parecida. A cinco voltas da bandeirada, Alonso estava a 0s396 do líder. Mas, então, deu a Schumacher o gosto de vê-lo errar: pôs as rodas na grama a três voltas do fim, enterrando a disputa. O perseguidor cruzou a linha de chegada 2s096 atrás do perseguido.
Notório mau perdedor, o espanhol estava resignado após a prova. Reconheceu que levou uma lição. "Meu carro estava muito mais rápido que o dele depois do primeiro pit e eu decidi pressioná-lo, para ver se ele cometia um erro. Como ele não errava, no fim da prova coloquei todos os giros do motor, tentei ultrapassar, mas não consegui. Tentei de tudo."
Tentou. Desde a largada. Saindo em quinto, o piloto da Renault ganhou a posição de Rubens Barrichello na primeira curva e pulou para quarto. Na pole position pela 66ª vez na carreira, Schumacher tentava se aproveitar do "paredão" que havia entre ele e o espanhol: Jenson Button, segundo, e Felipe Massa, terceiro.
Na 16ª volta, ganhou mais um posto, com a parada de Button nos boxes. Ao fim da primeira janela de pits, já era o segundo, ultrapassando também o brasileiro.
Partiu, então, ao encalço de Schumacher. Na 26ª volta, quando estabeleceu-se como vice-líder, estava a 11s272 da Ferrari. Cinco giros depois, já havia levado a diferença para 4s665. Na 34ª, encostou: 0s422 para o alemão.
Alonso, como admitiria mais tarde, começou a tentar induzir o líder ao erro. Nada. Tentou, então, vencê-los nos boxes. Antecipou seu segundo pit em seis voltas e parou na 41ª. Schumacher reagiu parando no giro seguinte e voltando ainda na ponta. O espanhol então foi para o "Plano C": acelerou tudo o que pôde para tentar ultrapassá-lo. Não conseguiu e ainda foi para a grama.
Desde o GP de Mônaco de 2002 a F-1 não via uma perseguição tão longa como a de ontem. Na ocasião, Schumacher ficou 26 voltas atrás de David Coulthard, então na McLaren, e também não passou. Não tentou, é fato. Nem guardou rancor, como em 2005.
Porque sabia que em 2002 o título estava em suas mãos. E porque sabia que o escocês não era uma ameaça à sua supremacia.
Supremacia que tenta reconquistar. O primeiro passo foi dado: com o resultado em Imola, foi dormir ontem vice-líder do Mundial, 15 pontos atrás do espanhol.
E acordaria neste 24 de abril certo de que teria pela frente um dia muito mais prazeroso que o 24 de abril do ano passado.


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