São Paulo, quinta-feira, 24 de abril de 2008

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Fifa banca ação contra o racismo no Brasil

Projeto de antropólogo alemão no Rio é o único sul-americano contemplado

Verba de US$ 5.000 é usada para manter página na internet e promover debate sobre termos usados nas arquibancadas do Maracanã

LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL

Pela primeira vez na história, recursos da Fifa são empregados para combater o racismo no futebol brasileiro. O projeto de um antropólogo alemão radicado no Rio foi o único da América do Sul agraciado com os US$ 5.000 (cerca de R$ 8.300) oferecidos pela entidade que rege o futebol mundial.
Com o dinheiro, além de manter o site www.racismo nofutebol.org.br, que está no ar desde 11 de abril, uma equipe capitaneada por Martin Christoph Curi Spörl, 32, promoveu a campanha "Mande um cartão vermelho para o racismo no futebol" na semifinal da Taça Rio, entre Fluminense e Vasco.
No Maracanã, Spörl e um colega entrevistaram 80 torcedores das duas equipes.
Perguntaram, por exemplo, se o público considerava preconceituosas as expressões bacalhau e pó-de-arroz para designar os fãs das equipes. E se avaliavam como racista o coro "ela, ela, ela, silêncio na favela", entoado no Rio contra a torcida do Flamengo. "Não devo usar esse material em minha tese de doutorado, sobre as torcidas do Botafogo e do Flamengo, mas posso escrever artigo com base nas entrevistas", disse Spörl.
Segundo ele, um dos objetivos do site e das entrevistas é incentivar o debate sobre discriminação no futebol nacional. "O tema é mal debatido no Brasil. A idéia não é censurar ou patrulhar os torcedores, mas fazê-los refletir. Gostaria de que pensassem se termos como bacalhau, pó-de-arroz, mulambo têm origem xenófoba ou conotação discriminatória", explicou o antropólogo.
O conteúdo do site procura aliar notícias sobre a questão à produção universitária. "A página na internet é importante para juntar vários tipos de informações. Ensaios acadêmicos, teses e reportagens sobre racismo no futebol têm seu espaço lá", disse o supervisor do projeto, que tem o suporte do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase).
"Soube numa coluna do Rodrigo Bueno, na Folha, da bolsa da Fifa. Sabia que o Ibase promovera antes uma ação contra o racismo dirigido a brasileiros no futebol espanhol e entrei em contato com eles."
O site coordenado por Spörl tem o apoio oficial da Fare, ONG européia estabelecida em 1999 e que lidera as campanhas internacionais de combate ao racismo no futebol.
A entidade tem até o aval da Fifa para regular a questão. Foi a Fare (sigla em inglês para futebol contra o racismo na Europa) quem abriu o edital para selecionar projetos bancados pela entidade do futebol mundial e é ela quem administra os repasses do financiamento.
Além do projeto do alemão, outras duas iniciativas foram agraciadas na primeira oferta de verba da Fifa a entidades não européias de combate ao racismo. "Uma é do México, e a outra, da África", disse Spörl, que vive no Rio há seis anos.
Nascido em Nuremberg, ele visitou o país pela primeira vez em 2000, quando, depois de formado na universidade, passou um semestre na América Latina para pesquisar o comportamento dos torcedores.
"Então conheci uma brasileira, que hoje é minha mulher, e depois me mudei de vez para o Rio", disse o alemão, por telefone, na tarde de ontem, enquanto se dirigia de sua residência ao Engenhão para acompanhar o jogo entre Botafogo e Portuguesa pela Copa do Brasil.


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