São Paulo, domingo, 24 de abril de 2011

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Vento contra

Sob intervenção desde 2007, vela vê rarear investimento na base, e, sem apoio, novos talentos deixam o esporte

RODRIGO MATTOS
DE SÃO PAULO

Alexander Elstrodt, 16, já sentiu os ventos olímpicos: disputou os Jogos da Juventude-2010, em Cingapura, versão teen da Olimpíada.
Nem isso faz o iatista encarar o seu barco da classe laser radial como mais do que passatempo. "Não penso como carreira. Sei das dificuldades. Por enquanto, vou velejando. Depois devo dar uma parada para o vestibular."
Sua opinião é igual a de boa parte dos garotos da mesma idade que treinavam na represa de Guarapiranga na terça-feira à tarde. Era a preparação para a Copa da Juventude (competição mundial na Croácia), cuja seletiva acaba hoje em São Paulo.
Há dois fatores para a posição dos jovens. Um deles é a preferência pelos estudos.
O outro problema é a queda no investimento na base da vela, esporte que mais deu medalhas olímpicas ao Brasil, um total de 16.
Segundo velejadores e cartolas, esse abandono do período de formação dos jovens se acentuou nos últimos quatro anos, desde que a Confederação de Vela a Motor está sob intervenção do COB (Comitê Olímpico Brasileiro).
A interferência se deu em 2007, quando a confederação ficou sem comando e falida -mais de R$ 100 milhões em dívidas fiscais.
A partir daí, um interventor indicado pelo comitê passou a gerir a confederação, e é o COB quem distribui as verbas. A base é ignorada.
"Só se consegue tirar dinheiro do COB para as classes olímpicas", diz Adélvio Leão, presidente da Associação Brasileira da Optimist, classe voltada a iniciantes.
"Até 2016 [Olimpíada do Rio], ou antes disso, já vai se sentir esse efeito", completa.
Às categorias de base, o COB só paga viagens internacionais de porte -crescem as barreiras aos ascendentes.
"É difícil para quem está começando. Vejo pela parte jovem da equipe, que tem muita dificuldade para competir", conta o bicampeão olímpico Torben Grael.
Na optimist, há ainda um número alto de atletas, pois os custos são mais baixos.
Depois, em geral, os jovens escolhem entre a laser radial (individual) ou a 420 (em dupla). Entre os homens, essas são versões menores dos barcos das classes laser e 470, que são olímpicas.
Aí as despesas sobem. Importado, um barco de laser radial custa R$ 20 mil. A vela sai por R$ 1.800. Ainda há pagamento a técnicos e viagens. "Basicamente, o pai é quem banca", afirma Ricardo Paranhos, 17, campeão brasileiro da classe 420.
Ele mora em Brasília e viaja para São Paulo para fazer treinos com o seu parceiro.
Para a competição deste final de semana, por exemplo, a casa de Elstrodt transformou-se em uma república.


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