São Paulo, quarta-feira, 24 de maio de 2006

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Bosco pretende virar pastor evangélico em 5 anos

DA REPORTAGEM LOCAL

Para quem superou tumores, drogas, rebeldia, ser pai na adolescência e a reserva do intocável são-paulino Rogério, trabalhar mais cinco anos como goleiro não será tanto sacrifício.
É justamente em 2011 que o pernambucano Bosco pretende aposentar as luvas e realizar seu sonho: virar pastor.
"Farei curso para ensinar as pessoas da minha igreja [a evangélica Assembléia de Deus, no bairro do Bom Retiro, na capital]", falou o jogador, nascido há 31 anos em Escada.
Ao estrear hoje no Brasileiro, substituindo o maior ídolo do time, convocado para a seleção, Bosco terá sua oitava chance no gol são-paulino desde que chegou ao clube, em novembro.
É consenso, porém, que Rogério -titular desde 97- só perderá a posição quando sair.
"Vim sabendo que ele não dá muitas oportunidades a seus reservas. A não ser nas seis vezes em que o substituí [no Paulista-06] por causa da operação que ele passou. E na Libertadores [dia 1º de março diante do Caracas, na Venezuela] porque ele havia sido convocado para um amistoso da seleção."
Sua única certeza, entretanto, é que será o guarda metas do time principal nas próximas quatro rodadas antes da paralisação do Nacional devido à Copa do Mundo.
Mas após o Mundial da Alemanha, Bosco, contratado só até o fim deste ano, se contentará em voltar ao banco.
"Essa situação não me aborrece", falou o reserva de 1,84m, que hoje terá a missão de confirmar o apelido de "Paredão", ganho da torcida cearense quando defendeu o Fortaleza.
Além de serem seu instrumento de trabalho, suas mãos contam muito também da turbulenta vida que teve.
"Meus pais se separaram cedo e me revoltei. Usei drogas na adolescência para agradar uma namorada. Ainda sou surfista, mas antes só ficava na praia [em Recife] fumando [maconha] e nem estudava", disse.
O início da mudança que o transformou hoje num "homem exemplar" veio após descobrir em exames médicos que tinha tumores nas pontas dos dedos (polegar e indicador) da mão esquerda, isso perto de completar 14 anos de idade.
"Me livrei dos tumores, mas fiquei sem parte do dedo indicador como lembrança. Isso, no entanto, não me atrapalha na hora de agarrar ou defender uma bola. Até porque aconteceu antes de eu entrar no futebol e já me acostumei", falou Bosco, que sofreu nove gols em sete jogos neste ano.
Outra descoberta na vida de Bosco também foi imprescindível para ele amadurecer. Se tornou pai precocemente, com apenas 16 anos. Casou-se e teve responsabilidades que só imaginaria ter muitos anos depois.
"Ser pai tão novo me ensinou muita coisa. Aprendi muito com minha esposa. Ela me levou para a igreja. Lá passei a dar meu testemunho de como me livrei do mundo das drogas. Devo muito a minha família", falou o goleiro são-paulino, que tem mais dois filhos. (KT)


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