São Paulo, terça-feira, 24 de junho de 2008

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é doping?

Viagra turbina, também no esporte

Remédio contra disfunção erétil tem sido usado para melhorar a performance atlética e gera monitoramento da Wada

Agência afirma não haver um estudo conclusivo para apontar substância como proibida, mas há indícios de ajuda em grandes altitudes

ADALBERTO LEISTER FILHO
LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL

A droga que ajudou milhões de pessoas a melhorar sua performance na cama pode estar auxiliando agora alguns atletas a se superarem. No esporte.
O Viagra é o novo alvo dos controles antidoping. Surgida há dez anos, a pílula azul tem sido utilizada por atletas de diversas modalidades, como beisebol, ciclismo e alpinismo.
"Ela melhora a irrigação sangüínea para os músculos", afirmou à Folha Don Catlin, coordenador do Laboratório Antidoping da Ucla (Universidade da Califórnia em Los Angeles).
"Cada vez que há a apreensão de drogas proibidas [no esporte], pode ter certeza de que também é encontrado Viagra."
Foi Catlin quem, há cinco anos, revelou a existência do THG, esteróide anabólico concebido especialmente para fraudar testes. O escândalo gerado por sua descoberta detonou a maior crise da história do atletismo norte-americano.
Victor Conte, dono do Balco, laboratório que produzia o THG, conta que o uso de Viagra está disseminado nos EUA.
"Todos meus atletas tomaram. É melhor do que a creatina", afirma ele, cuja empresa fornecia drogas para competidores de atletismo, ciclismo, beisebol e futebol americano.
Apesar das evidências, porém, Catlin não defende o banimento do remédio no esporte.
"Sou contra a proibição até que haja estudo mais aprofundados da Wada [Agência Mundial Antidoping] sobre o tema."
As pesquisas são embrionárias, mas já existe um estudo no ciclismo que concluiu que o Viagra auxilia o desempenho do atleta em altas altitudes.
A droga passou a ser usada por competidores nas etapas de montanha de provas desgastantes de estrada, como a Volta da França e a da Espanha.
Mas foi no Giro da Itália, em maio, que ocorreu a primeira punição por posse de Viagra.
Andrea Moretta foi suspenso da equipe Gerolsteiner após a polícia descobrir, no carro do pai do ciclista, 82 pílulas de Viagra, além de seringas dentro de tubos de pasta de dente.
Integrante do estafe do controle de dopagem comandado pelo médico Eduardo de Rose, Alexandre Veli Nunes, professor da Universidade Federal do RS, relata outro emprego do remédio. "Nos Jogos [de Inverno] de Turim-2006, controladores comentaram que muitos alpinistas que escalam o Everest sem auxílio de cilindros de oxigênio têm usado Viagra."
Recentemente, a Wada decidiu financiar uma pesquisa que estuda se o medicamento é capaz de aliviar sintomas respiratórios de atletas que irão competir em ambientes poluídos.
As conclusões iniciais apontam para um "sim" como resposta: "Há melhora profunda na pressão da artéria pulmonar, no bombeamento do coração e na capacidade de se exercitar com pouco oxigênio".
Tais conclusões podem conduzir o Viagra para a lista de substâncias proibidas. Contudo essa alteração só começaria a valer a partir do ano que vem.
Ou seja, na Olimpíada de Pequim -cidade que é conhecida pela má qualidade do ar-, é possível que competidores usem o Viagra para ganho de performance esportiva.
Apesar do risco de uma "fraude legal", a Wada desconversa sobre o assunto. Questionada, a entidade afirma que não há estudos conclusivos.
"A Wada está ciente de que há muitos estudos sobre o uso do sildenafil [princípio ativo do Viagra] em altas altitudes", afirma Frédéric Donzé, gerente de comunicações da Wada.
"Monitoramos a droga, como muitas outras, e financiamos investigação sobre a melhora de performance com o sildenafil em várias altitudes. Mas este estudo está em curso."


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