São Paulo, terça-feira, 24 de junho de 2008

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Suécia só recebeu Copa por causa do Brasil, diz cartola

Sueco que organizou o Mundial aos 28 anos se lembra de pressão brasileira pela confirmação do país como país-sede

Organização contou com o apoio da força aérea local para divulgar os resultados das partidas que foram realizadas simultaneamente

RODRIGO BUENO
ENVIADO ESPECIAL A ESTOCOLMO

Os brasileiros não agradecem ao responsável pelo Comitê Organizador da Copa-58 pelo título, mas o contrário acontece.
"Não fossem os brasileiros, a Copa não seria realizada na Suécia", conta Bengt Agren, 78.
"Era professor de educação física e me chamaram para assumir o comitê em 1955. Foi tudo tão bem que, em maio, não tínhamos mais nada para fazer", gaba-se ele, que recebeu a Folha no estádio Rasunda.
Ele explicou que a relação do Brasil com a Copa de 1958 começou muito antes do torneio.
""Congresso em Londres indicou a Copa de 54 na Suíça e de 58 na Suécia. Já discutíamos em 1949 quais cidades seriam sedes da Copa, que poderia até acontecer em 1954 se tivesse algum problema na Suíça. Em 1950, no Brasil, houve discussão sobre a sede. A Argentina queria a Copa-58. E dirigentes brasileiros disseram para ser na Suécia. Foi a decisão final."
Para o comitê organizador, a competição foi um sucesso muito pelo bom tempo em junho. Os times faziam viagens curtas de ônibus, e os maiores deslocamentos de trem (o Brasil levou 6h20min de trem de Gotemburgo a Estocolmo, viagem que hoje dura três horas).
"A Inglaterra ficou na chave de Gotemburgo, o que permitiu a seus torcedores chegarem de barco. Era o grupo do Brasil, mas nós não tínhamos os brasileiros como favoritos. Os sul-americanos nos diziam que a Argentina era a favorita do continente", falou Agren.
Ele admitiu desconhecer Pelé até então. ""Clubes brasileiros eram populares aqui. Botafogo, Vasco e até o Santos excursionaram pela Suécia nos anos 50, mas não conhecíamos Pelé."
Se ainda havia poucos vôos como em 1954, nas comunicações o avanço era visto com clareza. ""Foi a primeira Copa com TV, que apareceu na Suécia em 1956. Não havia satétite. Podíamos mostrar só um jogo por grupo. Vieram muitas rádios da América do Sul. Precisavam de linhas telefônicas e suportamos. Nos estádios, eram muitos fios, linhas...", disse Agren.
A violência não foi problema. "Há filmes que mostram torcedores em jogo colocando as mãos nos ombros do goleiro e dizendo: "Você é bom". Tivemos reuniões com a polícia por um ano, mas não havia hooligans. A Força Aérea Sueca, preparada para uma guerra, nos ajudou até. Informávamos os times a cada 15 minutos sobre os placares dos outros jogos."
Agren passou instruções detalhadas com muita antecedência a comitês organizadores locais. A Suécia, que havia optado pela neutralidade na Segunda Guerra, tinha certa experiência em grandes eventos.
Uma coisa que fugiu do controle do comitê organizador foi a bola da final. Culpa de Mário Américo, o massagista.
"O goleiro sueco, Svensson, fez sua despedida na final. Nos disse que queria ficar com a bola de recordação. O árbitro pegou a bola após o jogo, mas Mário Américo a tomou e a levou para o vestiário", falou o dirigente, apontando para uma foto de Américo com a bola.
Segundo ele, o fato de os suecos terem torcido para o Brasil até na final foi algo natural. ""Os suecos começaram a torcer pelo Brasil contra a URSS. Na final, a Suécia esteve bem durante uns 10, 15 minutos só."
O gol mais bonito? "O de Pelé, chapelando Gustvasson", diz Agren. O melhor jogador? ""Seria Pelé, mas, pelos gols, Just Fontaine", sela o chefe do Comitê Organizador da Copa-58.


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