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Dunguismo
Radical método de trabalho de Dunga ganha o discurso dos jogadores, novos adeptos e tenta apagar na África ferida de duas décadas
Ricardo Nogueira/Folhapress
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Dunga, no último treino do Brasil antes de deixar Johannesburgo
EDUARDO ARRUDA
MARTÍN FERNANDEZ
PAULO COBOS
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A JOHANNESBURGO
A era Dunga ficou para
trás. O que impera agora é o
dunguismo e seus dunguistas. O técnico, com seu estilo
polêmico, manias e convicções, transformou a seleção
numa espécie de religião que
jogadores e comissão técnica
seguem sem contestação.
Ou você está com ele ou
você está contra ele. E, apesar dos entreveros com a imprensa, cada vez mais frequentes na África, a quantidade de seguidores de Dunga
cresce com sua seleção.
Há um ano, o técnico gaúcho mantém bons índices de
aprovação a seu trabalho, segundo pesquisas do Datafolha. Na última, de 20 e 21 de
maio, 49% dos entrevistados
consideravam a atuação do
técnico ótimo ou bom.
No fim de 2009, quando a
seleção vinha de uma série
de bons resultados, sua aprovação alcançou os 64%.
Se Dunga técnico um dia
foi tratado como uma temerária novidade, o dunguismo
tem raíz bem mais antiga -a
fracassada campanha da seleção na Copa de 1990.
A era Dunga, rótulo pesado para o então volante do time de Sebastião Lazaroni
que carregou, injustamente,
o fardo da derrota para a Argentina, cunhou por razões
óbvias o principal mandamento do dunguismo: "A imprensa sempre é inimiga".
Não há dúvida de que, ao
alimentar a rixa com os jornalistas, o dunguismo recebeu injeção extra de popularidade. Nos últimos dias, milhares de campanhas explodiram em redes sociais na internet com apoio a Dunga e
ataques à TV Globo, cujos
privilégios o técnico cortou.
Além disso, os principais
jogadores do time, como Kaká, Júlio César, Luis Fabiano
e Lúcio, usaram o pouco tempo de contato que tiveram
com a imprensa para reafirmar o técnico e sua lógica.
No discurso de todos, quase uníssono, a exaltação ao
trabalho duro, à importância
de colocar a seleção como
prioridade em detrimento
dos objetivos individuais e,
claro, ao resultado -nem
que para alcançá-lo seja preciso sacrificar o jogo bonito.
"Eu acredito que já está
chegando a um momento em
que temos que mudar. As críticas têm que ser endereçadas ao trabalho, e não ao ser
humano. As pessoas têm que
saber que o ponto central é a
seleção, e depois vem o entorno", filosofa Dunga.
De fato, ele conseguiu,
após o vexame na Alemanha
em 2006, fazer com que seus
comandados sentissem vontade de seguir a cartilha da
seleção, algo que foi deixado
de lado por medalhões como
Ronaldo e Ronaldinho.
"O mais importante é defender a pátria. Não há dinheiro que pague isso", diz
Lúcio, do grupo evangélico.
"É a filosofia do Dunga.
Cada treinador tem a sua. Se
continuarmos nesse caminho, focados, eu vou ser o
melhor do mundo, o Maicon
e todos os outros, inclusive
os que não estão jogando",
afirma Júlio César, como que
justificando sua adesão.
Na véspera do terceiro jogo, contra Portugal, o dunguismo corre solto na África.
Só será legitimado ou contido ao fim da segunda era
Dunga. Com ou sem o título.
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