São Paulo, quinta-feira, 24 de junho de 2010

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Dunguismo

Radical método de trabalho de Dunga ganha o discurso dos jogadores, novos adeptos e tenta apagar na África ferida de duas décadas

Ricardo Nogueira/Folhapress
Dunga, no último treino do Brasil antes de deixar Johannesburgo

EDUARDO ARRUDA
MARTÍN FERNANDEZ
PAULO COBOS
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A JOHANNESBURGO

A era Dunga ficou para trás. O que impera agora é o dunguismo e seus dunguistas. O técnico, com seu estilo polêmico, manias e convicções, transformou a seleção numa espécie de religião que jogadores e comissão técnica seguem sem contestação.
Ou você está com ele ou você está contra ele. E, apesar dos entreveros com a imprensa, cada vez mais frequentes na África, a quantidade de seguidores de Dunga cresce com sua seleção.
Há um ano, o técnico gaúcho mantém bons índices de aprovação a seu trabalho, segundo pesquisas do Datafolha. Na última, de 20 e 21 de maio, 49% dos entrevistados consideravam a atuação do técnico ótimo ou bom.
No fim de 2009, quando a seleção vinha de uma série de bons resultados, sua aprovação alcançou os 64%.
Se Dunga técnico um dia foi tratado como uma temerária novidade, o dunguismo tem raíz bem mais antiga -a fracassada campanha da seleção na Copa de 1990.
A era Dunga, rótulo pesado para o então volante do time de Sebastião Lazaroni que carregou, injustamente, o fardo da derrota para a Argentina, cunhou por razões óbvias o principal mandamento do dunguismo: "A imprensa sempre é inimiga".
Não há dúvida de que, ao alimentar a rixa com os jornalistas, o dunguismo recebeu injeção extra de popularidade. Nos últimos dias, milhares de campanhas explodiram em redes sociais na internet com apoio a Dunga e ataques à TV Globo, cujos privilégios o técnico cortou.
Além disso, os principais jogadores do time, como Kaká, Júlio César, Luis Fabiano e Lúcio, usaram o pouco tempo de contato que tiveram com a imprensa para reafirmar o técnico e sua lógica.
No discurso de todos, quase uníssono, a exaltação ao trabalho duro, à importância de colocar a seleção como prioridade em detrimento dos objetivos individuais e, claro, ao resultado -nem que para alcançá-lo seja preciso sacrificar o jogo bonito.
"Eu acredito que já está chegando a um momento em que temos que mudar. As críticas têm que ser endereçadas ao trabalho, e não ao ser humano. As pessoas têm que saber que o ponto central é a seleção, e depois vem o entorno", filosofa Dunga.
De fato, ele conseguiu, após o vexame na Alemanha em 2006, fazer com que seus comandados sentissem vontade de seguir a cartilha da seleção, algo que foi deixado de lado por medalhões como Ronaldo e Ronaldinho.
"O mais importante é defender a pátria. Não há dinheiro que pague isso", diz Lúcio, do grupo evangélico.
"É a filosofia do Dunga. Cada treinador tem a sua. Se continuarmos nesse caminho, focados, eu vou ser o melhor do mundo, o Maicon e todos os outros, inclusive os que não estão jogando", afirma Júlio César, como que justificando sua adesão.
Na véspera do terceiro jogo, contra Portugal, o dunguismo corre solto na África. Só será legitimado ou contido ao fim da segunda era Dunga. Com ou sem o título.


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