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FUTEBOL
Emigrantes
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Podemos ficar espantados
com a quantidade, os nomes
e os destinos dos jogadores que estão deixando o Brasil, mas não
com o êxodo em si. Já no fim do
ano passado, quando se discutia o
novo calendário do futebol, vários comentaristas -Paulo Vinicius Coelho foi um dos mais insistentes- avisavam que o Brasileiro teria duas fases bem distintas:
antes e depois da janela de contratações na Europa. Jogadores
emprestados, como Lucas e Reinaldo, talvez fossem obrigados a
voltar para lá; muitos outros seriam assediados e iriam embora.
E assim foi.
Na costumeira busca aos culpados, têm-se apontado dois vilões:
os empresários e o fim do passe.
Não concordo. Como em quase
tudo, há muitas explicações para
esse novo fluxo de emigrantes.
Para começar, os jogadores
querem sair. Querem ganhar
prestígio e experiência - jogar
no Leste Europeu pode não dar
moral aqui, mas um jogador que
não sabe se vai ser ídolo no Brasil
tem boas razões para acreditar
que na Bulgária será herói. Pode
ser ilusão, mas ela sempre nos
acompanhou, não só no futebol.
O jogador também quer ganhar
em dólar... e em dia. A carreira é
curta, o mercado é incerto, e muitos clubes por aqui fingem que pagam. O sujeito sabe que corre riscos lá fora, mas prefere tentar. Se
não der certo, pode voltar... Os
empresários honestos e conscientes aconselham contra os maus
negócios, alertam para as desvantagens de certas transferências,
asseguram-se da veracidade das
ofertas. Os maus vendem o sonho
do eldorado e pronto. Os jogadores estão tão sujeitos a cair no
conto deles quanto de qualquer
outro profissional interessado no
seu dinheiro, seja gerente de uma
financeira ou corretor de imóveis:
há os decentes e os picaretas.
Os dois tipos já estavam na praça na época do passe; a diferença
é que os clubes ganhavam muito
dinheiro em cada transferência.
Ou não. Se estão tão quebrados
hoje em dia, é porque os milhões
talvez não tenham ido para os
seus cofres -ou foram muito mal
administrados. De um jeito ou de
outro, não se pode culpar a Lei
Pelé pelo vermelho nos balanços,
porque ele é anterior a ela...
Toda empresa está sujeita a
perder seus melhores quadros para a concorrência. Como diminuir o risco? Fazendo bons contratos. Mas as relações no futebol
continuam muito embaralhadas:
na prática, o fato de ter seus direitos federativos presos a uma instituição que nem ao menos é o time
em que ele joga faz com que o jogador "pertença" a alguém. Se ele
quiser ficar no time e o "dono" do
seu contrato pedir um valor muito alto para a renovação, nada
feito -ele é obrigado a fazer as
malas. É complicado.
Nós não vamos conseguir acabar com o sonho dos jogadores de
ganhar dinheiro fora do Brasil,
nem com a ganância de alguns
empresários; tão cedo não vamos
resolver os problemas de má administração dos clubes. Mas uma
mudança não é tão difícil: casar o
nosso calendário com o europeu,
o que seria útil por vários motivos. Só não sei se há interesse.
Aperto
Se havia 20 mil pagantes no
Parque Antarctica no sábado,
não sei como conseguiram colocar mais 8.000 pessoas lá dentro no jogo contra o Botafogo.
Tormento
A CET costuma fechar o trânsito da rua Turiassu antes das
partidas do Palmeiras, mas não
depois. Resultado: ela vira um
caos na saída, quando milhares
de pessoas disputam espaço
com carros, motos, ônibus,
barracas de lanche etc. Em duas
rodas, levei 15 minutos para
percorrer apenas 20 metros. Do
"acesso seguro e rápido", "serviço de estacionamento" e "serviço organizado de transporte
para o estádio" (obrigações do
mandante - artigos 26 e 27 do
Estatuto do Torcedor), nem sinal.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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