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São Paulo, quinta-feira, 24 de julho de 2003

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FUTEBOL

Emigrantes

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Podemos ficar espantados com a quantidade, os nomes e os destinos dos jogadores que estão deixando o Brasil, mas não com o êxodo em si. Já no fim do ano passado, quando se discutia o novo calendário do futebol, vários comentaristas -Paulo Vinicius Coelho foi um dos mais insistentes- avisavam que o Brasileiro teria duas fases bem distintas: antes e depois da janela de contratações na Europa. Jogadores emprestados, como Lucas e Reinaldo, talvez fossem obrigados a voltar para lá; muitos outros seriam assediados e iriam embora. E assim foi.
Na costumeira busca aos culpados, têm-se apontado dois vilões: os empresários e o fim do passe. Não concordo. Como em quase tudo, há muitas explicações para esse novo fluxo de emigrantes.
Para começar, os jogadores querem sair. Querem ganhar prestígio e experiência - jogar no Leste Europeu pode não dar moral aqui, mas um jogador que não sabe se vai ser ídolo no Brasil tem boas razões para acreditar que na Bulgária será herói. Pode ser ilusão, mas ela sempre nos acompanhou, não só no futebol.
O jogador também quer ganhar em dólar... e em dia. A carreira é curta, o mercado é incerto, e muitos clubes por aqui fingem que pagam. O sujeito sabe que corre riscos lá fora, mas prefere tentar. Se não der certo, pode voltar... Os empresários honestos e conscientes aconselham contra os maus negócios, alertam para as desvantagens de certas transferências, asseguram-se da veracidade das ofertas. Os maus vendem o sonho do eldorado e pronto. Os jogadores estão tão sujeitos a cair no conto deles quanto de qualquer outro profissional interessado no seu dinheiro, seja gerente de uma financeira ou corretor de imóveis: há os decentes e os picaretas.
Os dois tipos já estavam na praça na época do passe; a diferença é que os clubes ganhavam muito dinheiro em cada transferência. Ou não. Se estão tão quebrados hoje em dia, é porque os milhões talvez não tenham ido para os seus cofres -ou foram muito mal administrados. De um jeito ou de outro, não se pode culpar a Lei Pelé pelo vermelho nos balanços, porque ele é anterior a ela...
Toda empresa está sujeita a perder seus melhores quadros para a concorrência. Como diminuir o risco? Fazendo bons contratos. Mas as relações no futebol continuam muito embaralhadas: na prática, o fato de ter seus direitos federativos presos a uma instituição que nem ao menos é o time em que ele joga faz com que o jogador "pertença" a alguém. Se ele quiser ficar no time e o "dono" do seu contrato pedir um valor muito alto para a renovação, nada feito -ele é obrigado a fazer as malas. É complicado.
Nós não vamos conseguir acabar com o sonho dos jogadores de ganhar dinheiro fora do Brasil, nem com a ganância de alguns empresários; tão cedo não vamos resolver os problemas de má administração dos clubes. Mas uma mudança não é tão difícil: casar o nosso calendário com o europeu, o que seria útil por vários motivos. Só não sei se há interesse.

Aperto
Se havia 20 mil pagantes no Parque Antarctica no sábado, não sei como conseguiram colocar mais 8.000 pessoas lá dentro no jogo contra o Botafogo.

Tormento
A CET costuma fechar o trânsito da rua Turiassu antes das partidas do Palmeiras, mas não depois. Resultado: ela vira um caos na saída, quando milhares de pessoas disputam espaço com carros, motos, ônibus, barracas de lanche etc. Em duas rodas, levei 15 minutos para percorrer apenas 20 metros. Do "acesso seguro e rápido", "serviço de estacionamento" e "serviço organizado de transporte para o estádio" (obrigações do mandante - artigos 26 e 27 do Estatuto do Torcedor), nem sinal.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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