São Paulo, quinta-feira, 24 de julho de 2008

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FUTEBOL

Máscara United


Quando a temporada inicia na Europa, os senhores de Manchester curtem reinado com arriscada prepotência

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

S E QUER conhecer o caráter de uma pessoa, dê poder a ela.
Não sei quem filosofou isso, mas o poder do futebol inglês e europeu está fazendo mal a muita gente no Manchester United, o campeão da Premier e da Champions League.
Sir Alex Ferguson foi tudo menos gentleman ao falar abertamente pela primeira vez de Luiz Felipe Scolari, técnico que virou grande atração do badalado Inglês e parece despertar ciúme (não só de conterrâneo).
""Ele [Felipão] não tem nada de especial." ""O Chelsea não me preocupa." ""Não vejo progresso num time cheio de trintões." ""Não há quem possa fazer mais no Chelsea do que José Mourinho fez recentemente."
Ferguson soltou o verbo de forma gratuita? Há quem diga na Inglaterra que não, que tudo faz parte de uma estratégia (""Mind Games") de ataque contra o mais poderoso adversário. O experiente manager dos Diabos Vermelhos desdenha do rico Chelsea, colocando o Arsenal como seu maior rival. Ok, mas precisava, por exemplo, dizer que Felipão, para ele, não fala inglês? O tom passado nas falas de Ferguson foi pesado, arrogante, prepotente, pedante etc.
Nos anos em que reinaram na Inglaterra e fracassaram na Europa, os principais personagens do Manchester United não adotaram essa postura. Cristiano Ronaldo, no céu, curte as maiores férias possíveis.
Claro que é direito dele pegar todas as mulheres que valerem a pena, gozar a grana que merecidamente ganhou, posar como popstar nos EUA, sair com o Real Madrid enquanto está casado com o Manchester... A humildade nunca foi muito o forte do português (gosto dele bastante até por isso), mas talvez ele perca um pouco a forma exuberante da última temporada se a cabeça e o corpo estiverem mais em outro lugar e menos no Old Trafford. Ferguson falou reservadamente com ele, pois sabe o dano que seu time sofrerá se perder o craque, mesmo baladeiro.
Ferguson já perdeu Carlos Queiroz, auxiliar técnico de luxo (""só" o sucessor de Felipão), algo que pode fazer muita diferença no dia-a-dia, nos treinos, exigir mais em campo do ""Sir-lorde". Rooney e Tevez são marrentos, para citar apenas outros dois diabos mascarados que resolvem em campo muitas vezes e que pecam pela boca outras tantas (Anderson ainda engatinha em máscara, mas tem um enorme potencial).
Vai ser curiosa essa temporada em que o Manchester defenderá os pontos do ano anterior (tipo ranking da ATP, da IFFHS...) e ainda pode ganhar os primeiros pontos no Mundial da Fifa, quando só pode ser campeão, com soberba, ante os nada especiais LDU, Pachuca e Waitakere.
Estou certo de que haverá torcida generalizada pelo Chelsea no Brasil por causa do Felipão. Não curto esse ufanismo (e ainda torço pelo Liverpool), mas o Manchester faz uma força para eu rever essa posição...

rbueno@folhasp.com.br


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