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FUTEBOL
Romário não é mais dúvida
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Depois de muitos anos de
discussão (há quantas Copas ele é assunto?), Romário não é
mais uma dúvida na seleção brasileira, é uma certeza.
Ou melhor, duas certezas.
Por parte do Wanderley Luxemburgo e da comissão técnica,
a certeza de que ele não vai à
Olimpíada; por parte da torcida
brasileira, a convicção de que ele
seria indispensável para a conquista do tal "título inédito".
As vozes a favor da convocação
do Romário para Sydney são
muito mais audíveis do que os votos a favor de Luxemburgo.
O próprio Romário, compungido, com o ar abatido de sempre
(por que ele nunca parece feliz?),
confirmou a vontade de disputar
a Olimpíada. Salas, do Chile, dispensou a glória; Rivaldo confessou-se aliviado por não participar
(e eu acredito na sua sinceridade
-na má fase em que está, não
podia correr o risco de ser responsabilizado por mais um fracasso).
Já Romário, campeão mundial,
ídolo no Brasil e no exterior, não
teve a menor vergonha de apelar
por uma vaga (e eu também acredito na sinceridade do seu apelo).
Em campo, ele tem feito por merecer. Fora de campo, aparentemente, também não tem feito nada para desmerecer a confiança
do técnico tão cioso da moral e
dos bons costumes.
Por mim, Romário seria o único
velhinho convocado para Sydney:
pelo que está jogando agora, pelo
que representa para o futebol brasileiro e para o futebol no mundo,
pelo fato de serem remotas as suas
chances de disputar outra Copa e
pelo empenho que ele certamente
teria em honrar mais uma vez a
camisa 11 amarelinha.
Na Copa de 98, muitas vezes
desconfiei da sua postura, algo irresponsável e quase soberba,
quando ele estava (teoricamente)
tentando se recuperar de sua contusão. Parecia tranquilo demais,
desencanado demais para quem
enfrentava problema tão delicado. Concordei com as razões da
comissão técnica, que duvidou da
sua recuperação a tempo; mesmo
assim, lamentei a sua saída.
Se Romário, mesmo "baleado",
fosse mantido, poderia ter sido
um catalisador de esforços, uma
fagulha de incentivo e um recurso
valioso do qual lançar mão no segundo tempo de um jogo medíocre. Gostando dele ou não (e ele
dá motivos para não gostarem
dele porque tumultua, divide,
provoca), Romário já é um mito.
Por que Luxemburgo não vai levá-lo para Sydney? Primeiro, porque tem mesmo um grupo muito
bom e entrosado. Ele já deve ter
sofrido para cortar o Leandro, por
exemplo, um belo jogador que teve muito pouco tempo na seleção
para provar que merecia estar ali.
Em segundo lugar, porque outros países não vão levar jogadores maiores de 23 anos. A presença do Romário poderia tanto significar uma covardia (e empanar
o brilho de uma eventual conquista) quanto desagradar à Fifa
(que ridiculamente acha que a
Olimpíada ameaça o prestígio e o
faturamento da Copa).
Por outro lado, se o Brasil levasse o Romário e não conquistasse o
ouro, a situação de Luxemburgo
talvez ficasse ainda mais complicada (se é que isso é possível).
No ponto em que ele está agora,
insistindo em não levar Romário,
ele se enquadra na descrição de
"teimoso, implicante e intransigente". Se, por outro lado, concordasse em levar Romário e cortar
alguém por causa disso, ele seria
acusado mais uma vez (como tem
sido, com mil motivos) de não saber o que quer, de não ter poder
de decisão e de se curvar a todo tipo de pressões (da CBF, da Nike,
da imprensa e da torcida).
Ninguém mandou querer ser
técnico da seleção brasileira... São
as agruras do cargo. Eu também
adoraria me sentar na arquibancada e simplesmente gritar pelo
meu time, mas às vezes ele está jogando num estádio e eu sou obrigada a ver um jogo em outro.
Sou odiada por quem mal me
conhece. Já fui até votada no site
Ovoneles, como descobri por meio
da Vascãonet. São os "ovos do ofício" (desculpe).
A situação não é irreversível,
mas Luxemburgo precisaria de
um pretexto para incluir Romário. Espero que não esteja torcendo pela contusão de alguém.
Deixo aqui minha modesta sugestão: esse grupo de 18 jogadores
é muito bom, e gosto muito dos
atacantes. Mas será que a gente
precisa mesmo levar o Mozart?
Já que falamos tanto de Romário, é excelente a sua iniciativa de
levar a Fundação Romarinho a
Itabira (MG). Uma amiga minha,
cética, disse: "Como ele pretende
formar cidadãos? Ele precisava
primeiro dar o exemplo!". Esse é
um bom começo...
É comovente olhar para o rosto
muito sério e esperançoso daqueles meninos. Talvez eles sonhem
com Ferraris, coberturas na Barra e glórias pelo mundo, mas tenho certeza de que se eles pudessem ao menos viver de futebol e se
cobrir de glórias na vizinhança,
poderiam ser mais felizes. Esse é
um emprego que não custa quase
nada ao mundo: a possibilidade
de jogar bola e encantar alguém.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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