São Paulo, sexta-feira, 24 de agosto de 2001

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BOXE

Dias de glória

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo que seja por apenas alguns momentos, de alguma forma, os anos dourados do boxe brasileiro serão revividos amanhã, em Buenos Aires, quando o veterano manager Abraham Katzenelson voltar a trabalhar em um córner. Não que o combate seja de tanta importância, ao menos para os padrões do próprio Katzenelson. Trata-se da revanche entre o meio-pesado brasileiro Peter Venâncio e o argentino Jorge Castro, ex-campeão mundial -o primeiro combate, em abril, terminou empatado.
Mas para quem não sabe, Katzenelson, 84, funcionou como manager, por 18 anos, do ex-campeão mundial dos galos e penas Eder Jofre. Aliás, durante o reinado de Jofre, foi eleito, em uma votação anual organizada pela Associação Mundial de Boxe, o segundo melhor manager. O vencedor foi Angelo Dundee, à época mentor do então campeão dos pesos-pesados Muhammad Ali.
O rompimento entre Jofre e Katzenelson, nas etapas finais da carreira de Jofre, foi marcado por troca de acusações entre as partes envolvidas. Posteriormente, fizeram as pazes, e Jofre confirmou que hoje é um dos frequentadores da pizzaria Conexão de Katzenelson (toda decorada com centenas de fotos de Katzenelson ao lado de campeões e figuras conhecidas que conheceu ao longo dos anos), localizada na Santa Cecília.
Aliás, foi no local onde hoje funciona a pizzaria que ficava nos anos 60 o escritório de promoção de lutas de Katzenelson. Atualmente, para dar um certo aspecto folclórico à trajetória de Katzenelson, o número do telefone da pizzaria é fornecido como um dos contatos da Confederação Brasileira de Boxe Profissional (não confundir com a Confederação Brasileira de Boxe). É curioso imaginar alguém que ligue procurando informações sobre boxeadores ser saudado com ""pois não, qual o sabor que deseja?".
E a força da grife construída por Katzenelson, semi-aposentado para o pugilismo, ainda pode ser sentida. Vez por outra, empresários estrangeiros enviam ofertas para ele levar brasileiros para lutar no exterior, como em 1996, quando ele dirigiu Giovano Andrade em Los Angeles contra o campeão dos supermoscas Johhny ""Mi Vida Loca" Tapia.
Além de Andrade, Katzenelson levou a disputas de título Juarez de Lima, Maurício Amaral, Raimundo Dias, Francisco de Paula e Sidney Dal Rovere. Também trabalhou no córner do pesado Luís Faustino Pires quando este lutou com George Foreman, no início da carreira do futuro campeão.
A atividade como manager vem diminuindo, por causa da idade e de problemas de saúde (foi obrigado a usar aparelho auditivo). Mas ele não perdeu a lucidez, a sagacidade ou o humor: às vezes brinca com amigos fazendo-se de surdo e divertindo-se com as reações de constrangimento deles.
No último final de semana, o filho de Katzenelson, Mauro, promoveu programação envolvendo o peso-pesado Adenilson Rodrigues, o Maguilinha (um dos filhos de Adilson Rodrigues, o Maguila), e o supergalo Jairo Moura, que no amadorismo superou por pontos Acelino Freitas, o Popó. Um tipo de programação que não se compara às que Katzenelson estava acostumado em seu auge.
Mas, ao menos em sua própria mente, o veterano Katzenelson voltará a seus dias de glória uma vez mais, ao comandar um córner, na programação de amanhã.

Programação 1
A Paulibox, a liga de boxe do litoral paulista, organiza amanhã sua primeira programação, o torneio amador Boxvicentino, no centro esportivo de São Vicente, às 19h. A entrada será um quilo de alimento não-perecível, destinado ao fundo social do município.

Programação 2
O campeão brasileiro dos pesados, George Arias, acertou, verbalmente, desafio com o argentino Fabio Moli, para o próximo dia 7.

Programação 3
A noitada, prevista para semana passada, com Daniel Frank, algoz de Maguila, e o meio-pesado Lino, acontece amanhã.
Resultado O peso-pena Agnaldo Nunes foi ouro no Pan de Porto Rico, encerrado no fim de semana. O Brasil conquistou mais seis bronzes.

E-mail eohata@folhasp.com.br



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