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FUTEBOL
Per ricordare
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Bati palmas e fui recebido
por um anão que se apresentou como Golias. Fez sinal para
que eu o seguisse. Reparei que Golias usava um robe de chambre
muito maior do que ele, provavelmente herdado de seu mestre. O
anão tropeçou três vezes até chegarmos à sala principal.
- Salve, Zé Cabala, sábio entre
os sábios!
- Salve, meu caro foliculário!,
disse-me o vidente enquanto vestia um turbante verde-limão.
- Onde está Adamastor, seu
antigo assistente?, perguntei-lhe.
- Pediu demissão. Disse que o
salário era mais mínimo do que
ele. Mas a que devo a honra?
- Os palmeirenses pediram
que eu entrevistasse o maior artilheiro da história do clube.
- Ah, o Heitor.
- Esse!
- Já vou avisando que ele fala
um português meio macarrônico.
- Não tem problema.
- Então vamos lá.
Zé Cabala pôs as mãos no turbante e começou a se contorcer na
cadeira. Passou a dançar uma tarantela e me saudou falando
mais alto do que de costume:
- Buon giorno, signore. Pode
começar a entrevista.
- Obrigado.
- Prego.
- Como?
- Prego é de nada em italiano.
- Bem, o senhor nasceu em...?
- Em São Paulo, em 1898. Família de imigrante, mistura de
italiano com espanhol, capisce? O
mio nome era Ettore Marcelino
Domingues. Io era um ragazzo
tranquilo e não pensava em futebó, ma entó fizeram o Palestra.
Mama mia, ma como io adorava
o Palestra! Quando vi o time per
la prima volta, em 1914, io queria
giocare, io queria fazere gol.
- E o senhor fez muitos.
- 202! Ma tem gente que diz
que io fiz 227. Até oggi io sono o
maior artilheiro do Palestra, quer
dizer, Palmêra.
- Dizem que o senhor estava
no primeiro título do Paulista do
Palestra, em 1920, é verdade?
- Ma sim, é vero. Foi no campo
da Floresta, o Paulistano era tetracampeó. Noi ganhamo no gioco desempate, due a uno. Foi molto, molto dificile! Naquele giorno
distante noi entramo em campo
com Primo; Oscar e Bianco; Valle,
Picagli e Bertolini; Martinelli, Federici, io, Ministro e Forte.
- E o senhor foi artilheiro dos
Paulistas de 1926 e 1928, confere?
- E naquele tempo tinha o
Friedenreich, o Feitiço, o Filó e o
Araken Patuska. Mama mia,
nem sei como io fui il goleadore!
- Quantos anos o senhor jogou
pelo Palestra Itália?
- Quindici. Quer dizer 15.
- O senhor também esteve na
grande final do Sul-Americano de
1919, quando o Brasil venceu o
Uruguai após duas prorrogações
de 30 minutos, não é mesmo?
- Veríssimo. Io dei a testada, o
goal-keeper rebateu e o Friedenreich marcó. Porca miséria, ninguém aguentava mais giocare!
- O senhor não se acha meio
esquecido hoje em dia?
- Ma esto é a vita: unos são os
que lavoram i otros são os que ficam famoso. Oggi tutta la gente
parla do Lopez, do Leivinha, do
César Maluco, até do Tuta... Ma
io, que ho fatto mais gol que tutto
mundo, ninguém conosci.
- É uma pena...
- Que é, é, perche ricordare é
cosa bela! Arrivederci e grazie.
- Prego.
Então paguei Zé Cabala e,
quando ia saindo, ainda pude escutar o grande mestre dizer:
- Golias, pede uma pizza pelo
telefone. Mezza mussarella, mezza calabresa.
Seleção delicada
Ubiratan José Araújo manda
seleção só com nomes femininos: Lara; Zé Maria, Alexandre Rosa, Auecione e Flávio Conceição; Darci, Pauleta
(Bordeaux) e Babi (ex-Matonense); Kelly, Turu Flores
(ex-River Plate) e Toninho
Vanusa. A equipe mandaria
seus jogos em Moça Bonita.
Seleção veloz
Leandro Torres Mattera, um
desocupado fã de futebol,
Indy, F-1 e motovelocidade,
montou uma equipe que junta todas as suas paixões: Raul
(Boesel); Zé Carlos (Pacce),
Émerson (Fittipaldi), Wilson
(idem) e Rubens Cardoso
(Barrichelo); Alexandre (Barros), Aírton Caíco (Senna),
Pedrinho (Paulo Diniz) e Felipe (Giaffone); Búfalo Gil
(De Ferran) e Roberto Dinamite (Pupo Moreno). O técnico seria Nelsinho Batista (Piquet), e o hino do time seria
cantado por Chrystian (Fittipaldi) e Ralf (Schumacher).
E-mail torero@uol.com.br
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