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Elas estão descontroladas
Seleção feminina despacha a Suécia e vai tentar o ouro que homens ainda não têm
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A PATRAS
Foram movimentos seguidos.
Uma explosão, um princípio de
descontrole. E uma implosão.
Assim que a juíza apitou o final
do jogo, as atletas brasileiras explodiram em comemoração.
Agarradas a bandeiras do país,
abraçaram-se, jogaram-se no
chão. Choraram. Extravasaram.
Minutos depois, saindo do vestiário, veio a implosão. Era outro
grupo. Eram
outras pessoas.
Calmas, tranqüilas, evitaram declarações entusiasmadas ou
comparações.
Mas o paralelo é inevitável.
A turma de
Andréia, Juliana, Rosana,
Marta, Formiga, Pretinha,
Cristiane e companhia igualou o
feito de estrelas como Dunga, Romário, Taffarel, Jorginho, Bebeto.
E agora pode superá-las.
Com 1 a 0 sobre a Suécia, ontem
à noite, em Patras (a 218 km de
Atenas), a seleção feminina de futebol classificou-se para a final do
torneio olímpico. Já é medalha de
prata, o que os homens conseguiram só duas vezes em dez participações, em Los Angeles-84 e Seul-88. E, na quinta-feira, poderá conquistar o único título que o país da
bola não tem: o ouro.
O adversário na decisão, em
Atenas, serão os americanos, vices em Sydney-2000, que ontem
eliminaram a Alemanha, campeã
mundial, com uma vitória por 2 a
1. E que, pela primeira fase dos Jogos, derrotaram o Brasil por 2 a 0.
Foi justamente pela categoria
das oponentes que Renê Simões
fez questão de esfriar o ânimo das
brasileiras após a festa no campo.
"Me lembrou a comemoração
do Brasil após ganhar da Holanda
nas semifinais da Copa de 98. Parecia que o título estava ganho",
disse o técnico brasileiro. Emocionado, ele pediu perdão às filhas. "Tenho três filhas, e hoje peço perdão por nunca ter dado a
elas uma bola de futebol. Culturalmente, as meninas não jogam
futebol no Brasil. É uma pena."
"Estamos há muitos anos sonhando com isso, mas ainda não
acabou. Não queremos a prata",
afirmou Pretinha, autora do gol
de ontem e que ainda superou um
trauma que durava oito anos.
Desde o primeiro torneio olímpico de futebol feminino, em 96, o
Brasil nunca havia chegado a uma
final olímpica. Em Atlanta e
Sydney, caiu nas semifinais e, depois, perdeu a disputa do bronze.
Ontem, a seleção começou o jogo disposta a derrubar esse tabu
nos primeiros minutos. Aos
4min, Daniela acertou um chute
forte, de fora da área, que passou
raspando no travessão. Aos 8min,
Cristiane aplicou um chapéu na
sueca Marklund, mas foi desarmada no instante do chute.
Mas logo a Suécia reagiu, equilibrou a partida e começou a ameaçar o gol de Andréia, principalmente com jogadas pelo alto.
O primeiro susto veio aos 9min.
Ljunberg, a estrela da Suécia, venceu uma dividida com Tânia, e
Sjoestroem chutou para fora. Cinco minutos depois, Mônica tentou cortar um lançamento e, de
cabeça, quase fez gol contra.
A troca de broncas entre as brasileiras evidenciou o nervosismo
com a semifinal. No ataque, o time passou a desperdiçar bolas fáceis. Na defesa, a abrir espaços.
Como aos 33min: Marta avançou em velocidade e serviu Cristiane, dentro da área. A atacante
se livrou da zagueira Bengtsson e,
com o gol aberto, chutou para fora. Na jogada seguinte, Tânia cortou com as mãos uma bola que vinha em direção a seu rosto. A juíza, porém, não deu o pênalti.
Aos 41min, o Brasil perdeu sua
melhor chance no primeiro tempo. Em um contra-ataque, Cristiane avançou pela esquerda, entrou na área, mas tocou para Pretinha, que não alcançou a bola.
"No intervalo, tive que usar o
chicote. Elas estavam muito nervosas, brigando entre elas. Acho
que funcionou", contou Renê.
O resultado da bronca veio aos
19min. Marta, a melhor da partida, lançou para Pretinha no meio
da zaga sueca. A atacante avançou, driblou a goleira e chutou colocado, no alto. Gol. 1 a 0.
Marcando melhor no meio e
atrás, a seleção brasileira viu o
nervosismo do primeiro tempo
mudar de lado. Nos 15 minutos finais, foi a Suécia que passou a
atuar de forma confusa. O Brasil
manteve-se no ataque, chegou a
perder uma chance de gol com
Cristiane no último minuto, mas
o 1 a 0 foi o suficiente ontem.
"Agora vamos atrás do ouro. A
prata é legal, mas não queremos",
disse a zagueira Mônica.
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