São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 2005

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CICLISMO

"L'Équipe" publica que atleta usou EPO em sua primeira Volta da França

Armstrong brilhou em 99 com doping, relata jornal

DA REPORTAGEM LOCAL

Um mês após colocar um ponto final na carreira esportiva, Lance Armstrong voltou ontem a falar de ciclismo. Não para celebrar seus títulos, mas para se defender de nova acusação que colocou sua premiada biografia em xeque.
Reportagem publicada pelo diário francês "L'Équipe" relata que o atleta, dono de sete títulos da Volta da França, a mais tradicional do ciclismo, usou substâncias dopantes para erguer seu primeiro troféu, na edição de 1999.
Nas quatro páginas da reportagem denominada "A mentira de Armstrong", o jornal revela que seis amostras de urina do americano coletadas em 1999 foram apreciadas em 2004 na França e apresentaram EPO (eritropoietina), droga que estimula a produção de glóbulos vermelhos, melhorando a oxigenação do sangue.
Na época da primeira vitória de Armstrong, não havia tecnologia para detectar a substância. A União Ciclística Internacional começou a realizar exames para revelar a EPO apenas em 2001.
As amostras estavam armazenadas porque é praxe nas coletas de doping guardar a urina em dois frascos, denominados A e B.
O primeiro é usado no teste inaugural. Em caso de positivo, é feita contraprova com a segunda porção. O americano sempre apresentou resultados negativos.
Armstrong, 33, que encerrou sua carreira em 24 de julho, ao conquistar seu sétimo título na Volta da França, usou seu site para se defender. "Vou repetir o que já disse: nunca usei drogas para melhorar meu desempenho."
A repercussão da reportagem, porém, mostrou que o atleta vai precisar ser mais convincente. "Se o doping for comprovado, ele precisa vir a público se explicar", declarou Dick Pound, presidente da Wada (Agência Mundial Antidoping, na sigla em inglês), órgão que não existia em 1999 e não pode atuar diretamente no caso.
"Estamos chocados e perturbados com o teor da reportagem, que parece bastante consistente", relatou Jean-Marie Leblanc, diretor da Volta da França.
Único brasileiro que competiu com Armstrong na prova francesa, Luciano Pagliarini foi informado pela Folha sobre o caso na tarde de ontem -ele havia acabado de participar de competição na Alemanha. "Sempre pairou uma dúvida sobre os resultados espetaculares que ele conseguia. Mas ninguém falava nada porque todos os testes apontavam negativo", disse o paranaense, que disputou a Volta em 2002 e 2005.
Armstrong era especialista em provas de velocidade até um câncer nos testículos ser diagnosticado em 1997. No retorno às pistas após o tratamento, passou a exibir fôlego exuberante, que hoje é questionado pelo teste de doping.
Sua aura de bom moço, contudo, já havia sofrido duro golpe no ano passado, com a obra "LA Confidencial, os Segredos de Lance Armstrong", dos jornalistas David Walsh e Pierre Ballester. O conteúdo do livro casa com as denúncias atuais. São depoimentos de uma enfermeira da equipe de Armstrong relatando que o atleta usou EPO em sua preparação para a Volta da França de 1999.
Pouco após a publicação, Michele Ferrari, que trabalhou por cinco anos como médico do ciclista, acabou condenado por prescrever substâncias proibidas.


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