São Paulo, quinta-feira, 24 de agosto de 2006

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Reforço extracampo

Paraná mima mulheres e surpreende

Na luta por topo do Brasileiro, time tem diretora para entreter companheiras dos jogadores e resolver seus problemas

Para evitar depressão e solidão das mulheres, o que influencia atletas, clube as leva a trabalho voluntário e as "ensina a pescar"


PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Mulheres felizes e ocupadas. Homens despreocupados. Esse é um dos segredos do Paraná neste Campeonato Brasileiro.
A maior surpresa do Nacional, que faz hoje no Morumbi, diante do São Paulo, o confronto das duas equipes de melhor aproveitamento na competição, "mima" as companheiras de seus atletas para que estes fiquem com a cabeça arejada.
O clube curitibano, até o ano passado um mero figurante na competição, criou uma diretoria social para cuidar apenas do seu futebol profissional.
A idéia foi do técnico Caio Júnior, 41. "A mulher do jogador é solitária. Já vivi fora do Brasil e sei como é isso. E mulher contente é uma forma de os jogadores interagirem dentro do grupo e ficarem bem", justifica o treinador, que passou oito anos no exterior como atleta.
Para o cargo, foi indicada a pedagoga Mabel Nunes, 43. "O lado social da família é muito importante. Quase todo o nosso elenco é formado por jogadores de fora do Paraná. Muitas mulheres ficam à deriva nessa situação. Sem atividades, o clima fica depressivo para elas", diz a também funcionária pública sobre a sua função, que não é remunerada pelo clube.
Seu trabalho está longe de ser apenas a organização de chás com companheiras de jogadores, como os que notabilizaram Elza, a mulher de Antônio Lopes, ex-técnico do Corinthians.
"Visitamos hospitais. Vamos fazer o trabalho de voluntárias em asilos", diz Mabel, que ainda ajuda as mulheres dos paranistas em temas como aluguel e escola para as crianças.
Mas ela repele comparações de seu trabalho com o de uma babá para adultos. "Eu ensino a pescar. Não dou o peixe. Elas precisam ver a realidade. Minha função não tem nada de assistencialismo", diz a diretora do clube curitibano.
Até agora, a participação das mulheres é um sucesso. Na última reunião, foram 28 companheiras, incluindo a de Caio Júnior. Além de encher a agenda delas, o Paraná oferece pequenos agrados à tropa.
Chás de panela e de bebês (alguns combinados via Orkut) e lugar marcado nos estádios são alguns desses mimos.
Nos encontros, a tendência inicial é a repetição do que acontece no time, com a formação de grupos. Mas, segundo Mabel, as mulheres têm mais facilidade para fazer amizade.
Os jogadores aparecem quando podem nas reuniões. "Filam" salgadinhos no ambiente familiar do Paraná, que ainda organiza semanalmente churrasco para os jogadores. "O clube ainda é meio anos 80, com um lado amador", diz Caio Júnior, sobre o relacionamento entre jogadores e familiares.
Mabel comemora a bom momento do clube, mas crê que seu trabalho terá o grande teste quando o Paraná deixar a atual fase -além da campanha no Brasileiro, o clube foi campeão estadual no primeiro semestre.
"Quando o time estiver em fase ruim é que os jogadores vão precisar do apoio das mulheres", afirma. E, se isso ocorrer, o Paraná espera ter mulheres poderosas e não frágeis e inexperientes garotas.


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