São Paulo, quinta-feira, 24 de agosto de 2006

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JOSÉ ROBERTO TORERO

O número 1 dos números 1

Rogério Ceni já integra a Santíssima Trindade do Tricolor, com Raí e Telê, mas tende a ser maior que eles

SE VOCÊ entrar numa rodinha de garotos são-paulinos de oito anos de idade e perguntar em que posição eles querem jogar, oito responderão "goleiro" (as exceções serão o mais baixinho, que dirá "centroavante", e o mais rico, que dirá "presidente"). E essa preferência acontece principalmente por causa de Rogério Ceni, o goleiro que caminha para ser o maior ídolo da história do time.
É claro que o São Paulo já teve jogadores maravilhosos, como Zizinho, Pedro Rocha e Leônidas, jogadores que tecnicamente podem estar acima de Rogério Ceni. Mas a torcida atual, que cresceu muito a partir da década de 90, pouco os conheceu. Na verdade, acredito que hoje a Santíssima Trindade do Tricolor seja formada por Telê Santana, Raí e Rogério.
Mas o goleiro tem boas chances de reinar sozinho daqui a algum tempo.
Telê tem a desvantagem de não ter sido jogador. Por isso, o maior técnico que já passou pelo São Paulo (e, talvez, pelo Brasil) não será lembrado com muitas imagens. Dele teremos números, entrevistas, lembranças. Mas de Rogério Ceni veremos gols de precisão milimétrica e defesas espetaculares. Daí, quando fizerem documentários sobre o Tricolor, quem você acha que aparecerá mais: Telê ou Rogério? Eu não tenho dúvida de que será o goleiro.
Quanto a Raí, marcou 111 gols para o São Paulo, quase o dobro de Rogério (64, sendo 41 de falta e 23 de pênalti). Mas, em compensação, o goleiro fez 685 partidas pela equipe, contra 296 de Raí. Mais que o dobro.
A disputa estaria mais ou menos empatada se um goleiro-artilheiro não fosse coisa tão rara. E Rogério não é apenas um goleiro-artilheiro mas o goleiro que mais fez gols na história do futebol.
Tal recorde deve-se principalmente à sua obsessão nos treinamentos. Ele, que no começo da carreira mal sabia bater um simples tiro de meta, passou a treinar mais de cem chutes por dia e transformou-se num dos melhores cobradores de falta do país.
Mas ele também é bom, e muito, com as mãos. Tecnicamente, acho que só está abaixo de Marcos e Dida, mas é mais estável que estes dois. Rogério é amado pelos são-paulinos e odiado pelos adversários. E este ódio ocorre por dois motivos.
O primeiro é que ele é um ótimo goleiro, e quem impede os gols de nossos times sempre é objeto de raiva (até hoje lembro de uma noite na Vila Belmiro em que nem uma mosca passaria sob suas traves).
O segundo é que ele tem ainda uma imagem de empáfia. Acho que isso começou quando, depois de uma partida pela seleção brasileira em que ele falhou claramente, Rogério não admitiu o erro e disse algo do tipo "foi uma das melhores partidas de um goleiro pela seleção". A frase marcou Rogério como um convencido, um arrogante, um pretensioso.
Aos poucos ele foi melhorando em suas entrevistas, sendo mais ponderado, mais diplomático, mais modesto e, ultimamente, sempre colocando o São Paulo acima de tudo. O resultado é que a fama de presumido, se não desapareceu, diminuiu bastante.
Houve o ainda mal explicado caso do Arsenal, que teria manifestado interesse por Rogério, que por sua vez queria um aumento de salário. Mas o suposto interesse foi desmentido pelo próprio clube inglês.
Recentemente o assunto provocou um entrevero entre o goleiro e a jornalista Milly Lacombe. Rogério, desta vez, não foi tão diplomático e partiu para o ataque. Talvez tenha sido um erro, pois o assunto estava enterrado e agora volta à baila.
De qualquer forma, os garotos são-paulinos não dão bola para isso e preferem ser número 1 a serem número 10. E hoje Rogério é o número um dos números um.

torero@uol.com.br


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