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JOSÉ ROBERTO TORERO
O número 1 dos números 1
Rogério Ceni já integra a
Santíssima Trindade do
Tricolor, com Raí e Telê, mas
tende a ser maior que eles
SE VOCÊ entrar numa rodinha de
garotos são-paulinos de oito
anos de idade e perguntar em
que posição eles querem jogar, oito
responderão "goleiro" (as exceções
serão o mais baixinho, que dirá
"centroavante", e o mais rico, que dirá "presidente"). E essa preferência
acontece principalmente por causa
de Rogério Ceni, o goleiro que caminha para ser o maior ídolo da história do time.
É claro que o São Paulo já teve jogadores maravilhosos, como Zizinho, Pedro Rocha e Leônidas, jogadores que tecnicamente podem estar acima de Rogério Ceni. Mas a
torcida atual, que cresceu muito a
partir da década de 90, pouco os conheceu. Na verdade, acredito que
hoje a Santíssima Trindade do Tricolor seja formada por Telê Santana,
Raí e Rogério.
Mas o goleiro tem boas chances de
reinar sozinho daqui a algum tempo.
Telê tem a desvantagem de não ter
sido jogador. Por isso, o maior técnico que já passou pelo São Paulo (e,
talvez, pelo Brasil) não será lembrado com muitas imagens. Dele teremos números, entrevistas, lembranças. Mas de Rogério Ceni veremos
gols de precisão milimétrica e defesas espetaculares. Daí, quando fizerem documentários sobre o Tricolor, quem você acha que aparecerá
mais: Telê ou Rogério? Eu não tenho
dúvida de que será o goleiro.
Quanto a Raí, marcou 111 gols para
o São Paulo, quase o dobro de Rogério (64, sendo 41 de falta e 23 de pênalti). Mas, em compensação, o goleiro fez 685 partidas pela equipe,
contra 296 de Raí. Mais que o dobro.
A disputa estaria mais ou menos
empatada se um goleiro-artilheiro
não fosse coisa tão rara. E Rogério
não é apenas um goleiro-artilheiro
mas o goleiro que mais fez gols na
história do futebol.
Tal recorde deve-se principalmente à sua obsessão nos treinamentos. Ele, que no começo da carreira mal sabia bater um simples tiro
de meta, passou a treinar mais de
cem chutes por dia e transformou-se num dos melhores cobradores de
falta do país.
Mas ele também é bom, e muito,
com as mãos. Tecnicamente, acho
que só está abaixo de Marcos e Dida,
mas é mais estável que estes dois.
Rogério é amado pelos são-paulinos e odiado pelos adversários. E este ódio ocorre por dois motivos.
O primeiro é que ele é um ótimo
goleiro, e quem impede os gols de
nossos times sempre é objeto de raiva (até hoje lembro de uma noite na
Vila Belmiro em que nem uma mosca passaria sob suas traves).
O segundo é que ele tem ainda
uma imagem de empáfia. Acho que
isso começou quando, depois de
uma partida pela seleção brasileira
em que ele falhou claramente, Rogério não admitiu o erro e disse algo do
tipo "foi uma das melhores partidas
de um goleiro pela seleção". A frase
marcou Rogério como um convencido, um arrogante, um pretensioso.
Aos poucos ele foi melhorando em
suas entrevistas, sendo mais ponderado, mais diplomático, mais modesto e, ultimamente, sempre colocando o São Paulo acima de tudo. O
resultado é que a fama de presumido, se não desapareceu, diminuiu
bastante.
Houve o ainda mal explicado caso
do Arsenal, que teria manifestado
interesse por Rogério, que por sua
vez queria um aumento de salário.
Mas o suposto interesse foi desmentido pelo próprio clube inglês.
Recentemente o assunto provocou um entrevero entre o goleiro e a
jornalista Milly Lacombe. Rogério,
desta vez, não foi tão diplomático e
partiu para o ataque. Talvez tenha
sido um erro, pois o assunto estava
enterrado e agora volta à baila.
De qualquer forma, os garotos
são-paulinos não dão bola para isso
e preferem ser número 1 a serem número 10.
E hoje Rogério é o número um dos
números um.
torero@uol.com.br
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