São Paulo, sexta-feira, 24 de agosto de 2007

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XICO SÁ

Pelo fim da lei do impedimento


Sem a tal regra maldita, o futebol voltaria às origens, daria mais gols a Romário e sepultaria a "linha burra"


AMIGO TORCEDOR , amigo secador, está na hora de acabar de uma vez por todas com a tal lei do impedimento. Se não somos mesmo vocacionados para cumprir lei alguma, por que levamos a sério esta regra mor da burrice humana?
Só o fim desse mandamento devolveria uma certa graça às artes ludopédicas. Paralisar uma linda jogada apenas porque um atacante estava com o nariz além do beque é um atentado contra a existência.
Imagine quantos gols teríamos a mais nas partidas! Seria fabuloso, de encher os olhos, mesmo com a escassez de craques momentânea. O fim da regra maldita devolveria o futebol às suas origens, daria o charme da pelada e a classe do gol de banheira. Acabaria com a tristeza que toma conta dos estádios e das várzeas que melancolicamente seguem as regras do futebol profissa.
Não teríamos, por exemplo, a tristeza dos meninos do Corinthians no jogo de quarta contra o Botafogo. Era a "Tristeza do Jeca", cantada pelo corintiano Mazzaropi: "Nestes versos tão singelos/ Minha bela, meu amor,/ Pra você quero contar/ O meu sofrer, a minha dor...".
Até o rapaz que fez o gol mosqueteiro parecia metido num banzo só. Sorria, Dentinho, você estreou no Maraca, que está um colosso, e fez o tento da honra alvinegra. Se não fosse a malfadada lei do impedimento, o jogo teria sido, pelo menos, uns 6 a 5. Se não fosse a tal regra, não veríamos mais uma vez a ridícula cena do árbitro proibir o replay no telão do Mário Filho. O medo do juiz diante de uma marcação infeliz.
Imagina o Romário sem a lei do impedimento. Já estaria com uns 12.560 gols. E só pararia aos 70 anos. É tão pobre e tacanha a tal regra que um dos seus aparatos se chama descaradamente "linha burra".
Até a violência nos estádios diminuiria bastante com o fim da lei do impedimento. Os vândalos teriam menos motivo e intrigas para brigarem. Mas você aí, amigo do contra, diria que a graça do futebol é a polêmica. Nada disso. As possibilidades de bate-boca já são muitas: as faltas, os pênaltis duvidosos, se foi frango ou não foi frango etc.
Uma das sabedorias das mulheres, falo da maioria das mulheres, é não entender bulhufas da lei do impedimento. Não dá para entender mesmo. Não faz sentido. Além de inútil é pretensiosa essa regra, pois embute a ilusão de ser algo inteligente, que requer estratégias miraculosas, planos, desenhos táticos divinos... Quando basta a "linha burra" para revelar seu ridículo.
Meu time lança a bola na área e aquele bando de marmanjo sai correndo da bola, sem explicação alguma, para deixar o atacante no mais cruel desengano. A pior solidão é a solidão provocada na "linha burra".
Aquele atacante solitário se perguntando, abestalhado, por alguns instantes: "O que que eu sou, pra donde vou, donde que eu tô?". A tal da regra 11 é patética, a forma mais baixa de castigar o homem-gol.
Sem se falar naquele blablablá sem fim dos locutores e comentaristas de arbitragem. Foi, não foi, foi... Até que vem lá o xarope do tira-teima. Que mané tira-teima. A moral desse jogo não é bola na rede?
O pessoal que vê beleza no 0 a 0 me perdoe, mas o bom é entrar com bola e tudo, sair para o abraço e fumar o king size do dever cumprido.

xico.folha@uol.com.br



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