São Paulo, sexta-feira, 24 de agosto de 2007 |
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FÁBIO SEIXAS Dois anos
COMEÇOU há dois anos. Há exatos dois anos, 23 e 24 de agosto de 2005, Massa iniciava sua história, a vida na Ferrari. Sim, ele já havia vencido campeonatos de base, já havia sido adotado por Todt, já havia sido colocado na Sauber, já havia feito testes para a escuderia italiana. Mas tudo, tudo isso tinha sabor de café-com-leite diante da perspectiva que rompia. Naqueles dias 23 e 24, em Monza, Massa trabalhava pela primeira vez com status de titular da equipe que é sinônimo de automobilismo -o anúncio confirmando que ele seria o companheiro de Schumacher em 2006 saíra só três semanas antes. "Não sei bem o que vou testar, mas é ótimo começar o mais rápido possível. Será bom para começar a pegar mão da coisa", disse o piloto, às vésperas de inaugurar esta nova fase, na mesma Istambul que hoje recebe os treinos do GP da Turquia. Discurso cauteloso, perfeito naquele instante para um público que aprendeu, na marra, a ter cautela. Seis anos antes, quando da contratação de Barrichello pela mesma Ferrari, José Henrique Mariante, meu antecessor neste espaço, escreveu: "E o país voltará a acordar cedo aos domingos. E as pessoas voltarão a discutir a corrida nas manhãs de segunda. E a F-1 terá que se acostumar, de novo, àquele ritmo futebolístico que sempre mereceu nos tempos que o país tinha campeões". Dois anos atrás, recuperei essas linhas e adaptei-as à nova realidade. "Imagino, sim, o país acordado para ver a estréia do garoto em 2006, seja na Austrália, na Malásia ou no Japão. F-1 voltará a ser assunto nas segundas de manhã, e Interlagos ferverá mais uma vez. Mas nem o entusiasmo nem a paciência nem o crédito serão os mesmos de antes. Uma dose de ceticismo -ou cautela, se preferirem- acompanhará a novidade até que embale ou fracasse." Hoje é difícil ler o barômetro. Sob a sombra -e proteção e desculpa- de Schumacher, em 2006, Massa fez um Mundial muito bom: duas vitórias, a última delas apoteótica, e o terceiro posto na tabela. Dava a pinta de que embalaria. Mas não embalou. Em 2007, sob a penumbra de Raikkonen, mas com toda a cancha de poder chamar os mecânicos pelo nome e perguntar da mamma, chega à reta final do campeonato em quarto lugar, dependendo de quebras dos pilotos à frente para voltar a sonhar com o título. Não vence desde 13 de maio. E, desanimado, já não sorri como antes. Em Istambul, mesmo tendo boas chances de encerrar o jejum, está chocho, chocho. Fracassou? Não, também não. Dois anos após subir o maior degrau, Massa habita uma zona cinzenta. Ainda não embalou, ainda não fracassou. Mas, pior: às vezes, como agora, dá mostras de que ficará neste cinza, como tantos Fisichellas, Trullis, Barrichellos, Webbers. Aí, teremos talvez de apelar a outros escritos. A Vinícius: resta essa vontade de chorar diante da beleza. fseixas@folhasp.com.br Texto Anterior: Conspiração: Coulthard alerta massa Próximo Texto: O que ver na TV Índice |
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