São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2008

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Patrulha

GOVERNO CHINÊS PROMOVE "FAXINA" EM PEQUIM PARA TIRAR OS ATIVISTAS DA CIDADE DURANTE A REALIZAÇÃO DOS JOGOS, EM FORMA DE PEDIDO OU PRISÃO , E ENCHE PRAÇA DA PAZ COM PLANTAS E ESCULTURAS PARA EVITAR PROTESTOS

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Pequim vive dias tranqüilos de cidadezinha suíça. Não são vistos grandes protestos sobre Tibete, destruição do ambiente, desigualdade social ou desrespeito aos direitos humanos.
A calmaria olímpica foi obtida graças a uma caça a qualquer crítico da ditadura chinesa. Há pelo menos 30 em prisão domiciliar durante os Jogos (800 foram presos no último ano).
A polícia chinesa foi à casa de diversos ativistas nas semanas anteriores à Olimpíada pedindo que eles saíssem da capital. Exílio voluntário ou prisão.
É o que aconteceu com o advogado Teng Biao, 34. Após várias visitas de policiais, Teng foi no início do mês para a sua cidade-natal, na Província de Jilin, a 900 km de Pequim.
Ele já foi preso quatro vezes. A última, em março, por 41 horas. "Você pode ficar preso por cinco anos pelas coisas que escreve", a polícia advertiu. Em maio, após se oferecer como advogado de defesa para manifestantes presos em protestos no Tibete, sua licença profissional não foi renovada. "Continuo advogando, mas não posso cobrar honorários e tenho algumas limitações no dia-a-dia."
Ele diz que seu telefone fixo, o celular e o e-mail são monitorados pelo governo. Seu mais famoso cliente, o blogueiro Hu Jia, que defende os direitos dos soropositivos, foi condenado a três anos e meio de prisão, após escrever um artigo dizendo que a China precisava mais de direitos humanos que da Olimpíada.
Outro que saiu da cidade é o diretor da ONG Yirenping, que luta pelos direitos de portadores do vírus da hepatite B. Lu Jun deixou Pequim em julho e só pensa em voltar na semana que vem. "Há pelo menos 20 leis discriminatórias contra portadores. Não podemos ser professores nem policiais."
"Não me considero um dissidente. Só luto pelos direitos do grupo ao qual pertenço. Mas isso já é muito na China", diz. Sua namorada o deixou "pois é perigoso criticar o governo".
Com a oposição devidamente neutralizada, os "protestódromos" permaneceram vazios. Não por falta de manifestantes. Segundo dados oficiais, 149 pessoas foram ao Departamento de Segurança preencher os formulários necessários para 77 reivindicações (protestos, só com autorização estatal).
"Foram 74 casos amigavelmente resolvidos, 2 rejeitados por procedimentos incompletos e um por envolver crianças, o que não é permitido por lei", diz assessor do departamento.
Mas, na verdade, vários dos que tentaram pedir permissão para protestar foram presos. Como Wu Dianyuan, 79, e Wang Xiuying, 77, que foram cinco vezes ao Departamento pedir autorização para fazer um protesto. Eram vizinhas até que o governo as despejou para as obras das instalações olímpicas. As duas foram ameaçadas por escrito de serem enviadas a um campo de trabalhos forçados, mas ainda não foram.
A monumental e desértica praça da Paz Celestial virou quase um bosque para impedir qualquer manifestação em massa -e tirar o ângulo possível das câmeras de TV.
"Se houvesse liberdade de expressão, já seria bem melhor", diz Biao. "Há 40 anos, os opositores eram mortos e há 20 estavam todos presos. Hoje, só queremos poder falar."


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