São Paulo, sexta-feira, 24 de setembro de 2004

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BOXE

Na cintura

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os puristas tiveram motivos para vibrar no sábado com a luta entre os médios Oscar de la Hoya e Bernard Hopkins.
Afinal, os quatro principais títulos (além do cinturão mítico de campeão da publicação "The Ring") foram unificados pela primeira vez na história do boxe.
O combate, por si só, não fez juz às comparações com "Sugar" Ray Leonard x Marvelous Marvin Hagler. No entanto, tecnicamente, não deixou de ser agradável.
Mas o highlight do combate foi mesmo o último golpe de Hopkins: um gancho na zona de cintura de De la Hoya que deixou o "Garoto de Ouro" na lona, contorcendo-se de dor. Esse, aliás, é o nocaute mais doloroso, pois o sujeito quer respirar, se levantar e não consegue, pois o ar ""some".
Valeu a pena ficar acordado para ver o combate ser definido por meio do trabalho na linha de cintura -uma arte praticamente desconhecida nos dias atuais.
Já reparou como todo mundo quer saber somente de mirar na cabeça de seus adversários?
Claro. As chances de acontecer um nocaute com um soco no queixo, ou em outros pontos da cabeça, é bem maior do que com um golpe na região da cintura.
E é preciso muito tempo para aperfeiçoar o trabalho na cintura, que também deixa você muito mais exposto aos contragolpes.
Ou seja, a coisa é uma arte.
Nada mais justo que o nocaute com um soco no corpo tenha sido registrado por Hopkins, que é conhecido pelos especialistas como "old school" ("velha escola").
Nunca é demais repetir que era justamente a velha escola que valorizava o trabalho na cintura. Afirmavam que para derrubar uma árvore, as machadadas deviam começar pelo tronco.
Um exemplo evidente e bem próximo é o brasileiro Eder Jofre, que foi bicampeão mundial (galos e penas). Outros dois, do passado recente, que aplicavam bem -e freqüentemente- golpes naquela região eram o ex-campeão "Bodysnatcher" Mike McCallum e também "Irish" Micky Ward.
Outras características da velha escola cultivadas por Hopkins é sua disciplina, o fato de sempre estar em forma e de tentar aperfeiçoar a técnica, além da atitude, sempre séria sobre o ringue.
A importância que Hopkins dá à história do esporte também impressiona. Quando a maioria dos pugilistas pensa só no dinheiro (não que ele não pense também), logo após a vitória sobre De la Hoya, Hopkins declarou que pretende fazer ao menos mais uma defesa de cinturão, para completar 20 e assim atingir recorde.
O mais legal é que este não foi o único nocaute obtido com um soco no corpo no passado recente.
Há algumas semanas, em outra luta exibida nos EUA pela rede norte-americana de TV a cabo HBO, o canadense Arturo Gatti, outro representante da velha escola (mais pela bravura do que pela técnica), também aplicou um nocaute da mesma espécie.
A vítima foi o romeno baseado no Canadá Leonard Dorin, que, a exemplo de De la Hoya, ficou se contorcendo depois de ter sua linha de cintura ser bombardeada.
É um bom sinal para todos os fãs o retorno da velha escola.

Programação 1
Oscar de la Hoya perdeu sua luta para Hopkins, mas retorna ao batente já na próxima quinta-feira à noite, quando, no papel de presidente da Golden Boy Promotions, promove mais um programa da série "Boxeo de Oro". O combate será exibido ao vivo para o Brasil ao vivo pelo canal HBO Plus. Os pesos-supermédios Vitali Kopitko e Librado Andrade disputam o combate de fundo da programação.

Programação 2
Depois do nocaute sofrido para Antonio Tarver, Roy Jones Jr. finalmente retorna aos ringues amanhã contra Glencoffe Johnson, campeão dos meio-pesados pela Federação Internacional de Boxe. Na preliminar, Mark Johnson expõe o título dos supermoscas da Organização Mundial de Boxe diante do desafiante Ivan Hernandez.

E-mail eohata@folhasp.com.br

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