São Paulo, quinta-feira, 24 de setembro de 2009

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Nelsinho foi mentor, diz dossiê

Documento exibido pela FIA mostra que investigação da Renault põe piloto como artífice de armação

Escuderia, que abriu mão de processar Piquet e o filho, conclui que Pat Symonds ajudou brasileiro a elaborar batida no GP de Cingapura

TATIANA CUNHA
ENVIADA ESPECIAL A CINGAPURA

A FIA divulgou um dossiê em que detalha, em 91 páginas, todo o processo de investigação do caso Renault, cujo resultado foi anunciado após reunião do Conselho Mundial na última segunda-feira, em Paris.
Pela decisão, a escuderia escapou sem punição -ficará em observação por dois anos- e os "mandantes" do acidente proposital do piloto Nelsinho Piquet no GP de Cingapura- -2008, Flavio Briatore e Pat Symonds, foram suspensos.
O primeiro, chefe do time, foi banido por tempo indeterminado. O segundo, diretor técnico da Renault, por cinco anos.
Nelsinho não foi punido, pois havia recebido imunidade da FIA por delatar o esquema.
Mas, pelos documentos disponibilizados pela entidade que comanda o automobilismo, há uma contradição entre o que o piloto brasileiro afirma e o que a Renault concluiu após fazer uma investigação interna para esclarecer o episódio.
Nelsinho afirma que lhe pediram que batesse. Já a equipe acredita que foi o próprio piloto quem sugeriu o acidente.
Depois de ser chamada pela FIA, em 4 de setembro, para esclarecer ao Conselho Mundial se havia premeditado o acidente para favorecer a estratégia de Fernando Alonso, a Renault iniciou uma série de interrogatórios com seus funcionários, entre eles Symonds, Briatore, o espanhol e engenheiros.
A conclusão das investigações, em 13 de setembro, indica que Nelsinho e Symonds foram os responsáveis pela armação. Não há comprovação da participação de Briatore no caso.
Pelas correspondências enviadas à FIA antes do julgamento da última segunda, Ali Malek e Andrew Ford, advogados que representam a Renault, dizem que os depoimentos prestados por Nelsinho são "contraditórios, vagos e incorretos em vários aspectos".
Durante as entrevistas com os funcionários, os investigadores da empresa de advocacia Whiters LLP foram procurados por um membro do time, chamado de "o delator" ou "testemunha x" na papelada, que confirmou a versão que havia sido dada por Symonds à FIA nas investigações da entidade.
De acordo com esse funcionário, que não foi identificado pela Renault para preservar seu futuro na organização, "Nelsinho procurou Symonds após a classificação (27 de setembro de 2008) e sugeriu a ideia de uma batida proposital como maneira de reparar seu fraco rendimento na sessão".
A testemunha segue seu depoimento afirmando que a ideia foi levada por Symonds a Briatore e que o inglês então teria orquestrado a armação.
Após a revelação, os advogados da Renault voltaram a interrogar Symonds e Briatore. O diretor técnico não negou as informações, enquanto o italiano disse não ter envolvimento no caso. Assim, os investigadores concluíram que Nelsinho, Symonds e Briatore, além do "delator", sabiam da armação.
Nos documentos divulgados pela FIA ainda aparece a carta que Symonds enviou aos membros do Conselho Mundial, na qual ele também contradiz a versão do brasileiro. Nela, o inglês dá detalhes da armação.
"A ideia deste acidente foi totalmente concebida por Nelsinho. Foi ele quem me procurou com a ideia", escreveu ele, que se diz arrependido de ter aceito a proposta. "Na época, eu inocentemente acreditei que fosse uma coisa que ele queria fazer pelo bem do time. Não sabia de sua situação contratual, embora hoje acredite que ele fez aquilo pensando que isso o ajudaria no futuro", concluiu.


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