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Nelsinho foi mentor, diz dossiê
Documento exibido pela FIA mostra que investigação da Renault põe piloto como artífice de armação
Escuderia, que abriu mão de processar Piquet e o filho, conclui que Pat Symonds ajudou brasileiro a elaborar batida no GP de Cingapura
TATIANA CUNHA
ENVIADA ESPECIAL A CINGAPURA
A FIA divulgou um dossiê em
que detalha, em 91 páginas, todo o processo de investigação
do caso Renault, cujo resultado
foi anunciado após reunião do
Conselho Mundial na última
segunda-feira, em Paris.
Pela decisão, a escuderia escapou sem punição -ficará em
observação por dois anos- e os
"mandantes" do acidente proposital do piloto Nelsinho Piquet no GP de Cingapura-
-2008, Flavio Briatore e Pat
Symonds, foram suspensos.
O primeiro, chefe do time, foi
banido por tempo indeterminado. O segundo, diretor técnico da Renault, por cinco anos.
Nelsinho não foi punido, pois
havia recebido imunidade da
FIA por delatar o esquema.
Mas, pelos documentos disponibilizados pela entidade
que comanda o automobilismo,
há uma contradição entre o que
o piloto brasileiro afirma e o
que a Renault concluiu após fazer uma investigação interna
para esclarecer o episódio.
Nelsinho afirma que lhe pediram que batesse. Já a equipe
acredita que foi o próprio piloto
quem sugeriu o acidente.
Depois de ser chamada pela
FIA, em 4 de setembro, para esclarecer ao Conselho Mundial
se havia premeditado o acidente para favorecer a estratégia de
Fernando Alonso, a Renault
iniciou uma série de interrogatórios com seus funcionários,
entre eles Symonds, Briatore, o
espanhol e engenheiros.
A conclusão das investigações, em 13 de setembro, indica
que Nelsinho e Symonds foram
os responsáveis pela armação.
Não há comprovação da participação de Briatore no caso.
Pelas correspondências enviadas à FIA antes do julgamento da última segunda, Ali
Malek e Andrew Ford, advogados que representam a Renault,
dizem que os depoimentos
prestados por Nelsinho são
"contraditórios, vagos e incorretos em vários aspectos".
Durante as entrevistas com
os funcionários, os investigadores da empresa de advocacia
Whiters LLP foram procurados
por um membro do time, chamado de "o delator" ou "testemunha x" na papelada, que
confirmou a versão que havia
sido dada por Symonds à FIA
nas investigações da entidade.
De acordo com esse funcionário, que não foi identificado
pela Renault para preservar seu
futuro na organização, "Nelsinho procurou Symonds após a
classificação (27 de setembro
de 2008) e sugeriu a ideia de
uma batida proposital como
maneira de reparar seu fraco
rendimento na sessão".
A testemunha segue seu depoimento afirmando que a
ideia foi levada por Symonds a
Briatore e que o inglês então teria orquestrado a armação.
Após a revelação, os advogados da Renault voltaram a interrogar Symonds e Briatore. O
diretor técnico não negou as informações, enquanto o italiano
disse não ter envolvimento no
caso. Assim, os investigadores
concluíram que Nelsinho,
Symonds e Briatore, além do
"delator", sabiam da armação.
Nos documentos divulgados
pela FIA ainda aparece a carta
que Symonds enviou aos membros do Conselho Mundial, na
qual ele também contradiz a
versão do brasileiro. Nela, o inglês dá detalhes da armação.
"A ideia deste acidente foi totalmente concebida por Nelsinho. Foi ele quem me procurou
com a ideia", escreveu ele, que
se diz arrependido de ter aceito
a proposta. "Na época, eu inocentemente acreditei que fosse
uma coisa que ele queria fazer
pelo bem do time. Não sabia de
sua situação contratual, embora hoje acredite que ele fez
aquilo pensando que isso o ajudaria no futuro", concluiu.
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