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São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 2003

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Ex-secretária ataca falta de planejamento no ministério e influência de Nuzman sobre Queiroz

Paula critica ministro e sua intimidade com o COB

Antônio Gaudério/Folha Imagem
Paula, ex-secretária de Alto Rendimento, na entrevista em que criticou o ministro Agnelo Queiroz


JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Falta de planejamento, ministro ausente, interferência externa, desorganização e poucos resultados.
Um dia após o ministro do Esporte, Agnelo Queiroz, ter decidido devolver metade do dinheiro do governo para pagar despesas que já haviam sido bancadas pelo Comitê Olímpico Brasileiro, Paula, 41, não lhe poupou críticas.
A ex-atleta, que pediu para ser exonerada da Secretaria Nacional de Alto Rendimento, atacou a ligação do ministro com o COB. Disse que, em última instância, foi o que gerou sua saída de Brasília.
Para Paula, o fato de sua hospedagem e a de Queiroz no Pan terem sido pagas pelo COB é muito grave e denota sério conflito ético.
Código de conduta do governo diz que as viagens ministeriais teriam que ser bancadas pelos cofres públicos. Só podem ser patrocinadas por terceiros caso estes não tenham interesse direto em ações ou decisões do governo.
Está longe de ser o caso do COB, mantido por recursos federais -advindos das loterias.
A própria Paula lembra que não pôde participar de uma comissão interna do ministério que decidiu dar ao COB o direito de usar R$ 7,5 milhões destinados ao esporte escolar e universitário na criação de um instituto olímpico.
Se tivesse participado, a campeã mundial de basquete em 1994, que agora quer abrir uma ONG para trabalhar com pessoas da terceira idade, afirma que votaria contra os interesses do comitê.
Na opinião de Paula, Queiroz e Carlos Arthur Nuzman, o presidente do COB, deveriam entender que "o ministério é o ministério, o COB é o COB". Assessores da ex-secretária dizem que, por influência de Nuzman, o ministro deixou de lado o esporte de base e a questão da inclusão social e passou a se dedicar só ao alto rendimento.
Segundo Paula, a gota d'água para sua saída do governo foi justamente a relação dos dois. "Passei três meses com minha equipe trabalhando num modelo para os Jogos da Juventude quando fiquei sabendo, pelo COB, que era o modelo deles que iria prevalecer, que eles iriam organizar", comentou. "Fiquei muito decepcionada."
Paula afirma que já tinha até conseguido patrocínio para bancar parte do evento e acabou se sentindo traída pela condução do negócio entre Queiroz e Nuzman.
Com tudo isso, considerou decepcionante sua passagem por Brasília. "Foi uma frustração, uma experiência bem diferente da que vivi no Centro Olímpico com a [secretária municipal de São Paulo] Nádia Campeão", disse.
"Lá [no ministério] não tinha planejamento. Até hoje, depois de mais de cinco meses em Brasília [assumiu em maio], eu não sei qual o orçamento da secretaria."
Segundo ela, o único projeto que pôde fazer no período foi o esboço de uma lei de incentivo fiscal, que ficou pronto há cerca de 20 dias. "Mas não arrumaram tempo para apresentar ao ministro", declarou, em tom de ironia.
O pouco contato com Queiroz, aliás, foi outra das reclamações da ex-atleta. "Antes mesmo do Pan acabaram as reuniões semanais com o ministro. Depois, ficou quase impossível falar com ele. Não ia me meter [na sala do político do PC do B-DF] quando outras pessoas estavam lá."
Para piorar, Paula diz que desde fevereiro, antes mesmo de ela tomar posse, o ministro não põe os pés em sua secretaria.
Ansiosa por se desvincular de vez do governo -sua exoneração sai hoje-, afirma fazer questão de devolver o dinheiro recebido pelo Pan aos cofres públicos.
"Tentei devolver o dinheiro [na época], mas não tinha como. Meu chefe de gabinete disse que não precisamos prestar contas nem devolver [aos cofres públicos]."


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