São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 2008

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XICO SÁ

Carta a um corintiano que se foi


Caro tio Alberto, descanse em paz, que amanhã, dia da justa redenção do alvinegro, eu bebo uma por nós dois!

AMIGO TORCEDOR , amigo secador, peço sua generosa licença para escrever ao meu tio Alberto, que acabou de partir desta para uma melhor sem tomar ciência da volta do seu Corinthians ao lugar de justiça e de direito, à Série A do Brasuca. Como andava doente e desmemoriado, vítima de derrame no cérebro, o velho Alberto não teve a felicidade de sentir o gosto do retorno alvinegro, como conta o filho Alexandre, um palmeirense que já encomendou a faixa do campeonato.
O dia da queda corintiana foi um dos mais tristes da sua vida, como deve ter sido para todos os fiéis do mundo. "Ele não acreditava, ficou emudecido aqui neste sofá em que estamos", relembra o primo verde.
"A gente gozava um com o time do outro, mas nessa hora não tive coragem, era uma tristeza de quem perdeu gente próxima."
É, meu velho, como soprou aquele seu amigo, camisa da Gaviões ao lado do seu corpo: "Acorda, Alberto, vem beber com a gente, o Coringão subiu, rapaz". Terá festa, meu tio, no botequim do Paulinho, na sua rua, a Martim Lumbria, a antiga 28 do Parque São Rafael, pedaço da ZL paulistana que teve em você um dos desbravadores. Lembra quando chegou lá, poucas casas, quase um roçado? A festa já começou na cidade, mas ainda restam uns chatos fazendo contas, os de sempre, os que enchem a boca com o famoso "matematicamente ainda não está classificado" e outras sabedorias do mesmo naipe.
Tem farra também no Pacaembu amanhã, naquela mesma praça onde fomos a uns Corinthians x Santos. Desculpa aí, tio, mas, com o negão em campo, era covardia, você até parava de xingar para contemplar tantas obras de arte. Sim, o rival não será o Peixe, óbvio, mas o Ceará, não importa, o que vale é a tertúlia.
O que importa, velho Alberto Novais, é que o alvinegro está de volta à chamada elite, e aqui não vai nenhum desrespeito aos bravos clubes da Segundona. É, tio, os fiéis andam até mal-acostumados: nunca viram tantas vitórias em série. Olha, não é por nada, mas, se a diretoria segurar o time, tem mais festa em 2009. É o que dizem, tio, é o que dizem.
Tem nego até pedindo o Douglas na seleção do Dunga. E não é loucura de tudo, amigo, qual camisa 10 temos hoje no país? Esse menino aí põe a bola no chão direitinho, aprendeu a regra das antigas, aquela da bola feita de couro, do couro que vem da vaca, da vaca que come a grama...
Tio, sabia que até os palmeirenses, são-paulinos e santistas estão sentindo a falta do Corinthians entre eles? É o que contou outro dia o Ugo Giorgetti, o cineasta de "Boleiros", em uma das suas belas crônicas.
Mas vocês estão voltando, tio, pense nos fogos na ZL. Como disse aquele outro amigo corintiano no velório -sim, o gordo que estava com uma criança também vestida de branco e preto-, "Alberto merecia celebrar somente esta, depois partiria feliz na paz de Deus".
Aposto, meu velho, que tia Nina abriria a exceção nesta data e você poderia tomar a cerveja que tanto apreciava. Com quebra-gelo nos intervalos, Paulinho, faz favor, o de sempre. Falar na tia, que mulher, que barra ela segurou desde que vocês se conheceram ao bater o ponto na fábrica da Swift! Isso sim é amor.
Descanse em paz, fiel corintiano, que amanhã eu bebo uma por nós!

xico.folha@uol.com.br



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