São Paulo, sábado, 24 de novembro de 2007

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RODRIGO BUENO

God Save

A história colocará acima de tudo nesta semana a queda da Inglaterra -que tem tudo, e igualmente nada

UM AMIGO me perguntou na quarta à tarde qual seria o principal jogo de futebol no mundo no dia. No Brasil, em meio ao bombardeio com a gorda cobertura do clássico com o Uruguai, a resposta era meio óbvia, mas, na Europa, ainda sobravam emoções. Inglaterra e Portugal tinham duelos cruciais valendo vaga, mas tudo dava a entender que seriam barbadas.
Disse a meu amigo que o melhor jogo variava de país para país. Mas a história colocará a derrota inglesa acima de tudo naquele fatídico dia em Wembley. A eliminação do English Team não pode ser explicada "só" em 90 minutos. A campanha do time no qualificatório da Euro-08 viu uma série de equívocos, acidentes, fatalidades e vilões. Fácil dizer que o técnico (?) Steve McClaren, já (?) demitido, é o grande responsável pelo fiasco. A federação mais rica, o país que mais respira futebol, a liga nacional mais importante hoje, os atletas de qualidade que tanto brilham em clubes e que faltaram em outras gerações, a torcida mais ativa... Como explicar o inexplicável?
Brian Barwick, poderoso executivo da FA (simplesmente a federação de futebol), tem tanta culpa quanto McClaren, pois apostou até o fim no limitado técnico. Assinou embaixo seus deslizes. Pela tradição, bancou um técnico inglês em meio a boas opções estrangeiras, as mesmas de hoje: Capello, Lippi, Mourinho, Scolari... Dinheiro para pagar multa não falta à FA (McClaren levará mais de R$ 7 milhões pela quebra de seu delicioso contrato de quatro anos).
Gerrard reclama da invasão de atletas gringos no país, o que afetaria a seleção. Mas, além dele, o país tem Beckham, Lampard, Rooney, Terry, Owen, Ferdinand, Hargreaves, A. Cole, J. Cole... Goza de bom atacante de 2 m (!), gente boa nova, como Lennon, Richards, Shaun Wright-Philips, Walcott... Não dá para não montar uma equipe boa, my God!
Robinson falha no gol lá, Carson falha acolá, mas um time forte supera bem um ou outro erro individual. Atletas se contundem, como Rooney, Owen, Terry e Hargreaves, que só torceram nos 2 a 3 ante a Croácia, mas a Inglaterra tem material humano para empatar em casa, como fez com o Brasil (e lamentavelmente com a Macedônia). Veja Beckham: saiu do time na campanha, voltou, saiu e voltou nos últimos 45 minutos. Não houve time. E, apesar dos gols de Owen (sacrificado em amistoso fútil), não houve individualidade. O grupo fez bons jogos sem Lampard. Gerrard não liderou nem na ausência de Terry, o capitão de McClaren, e ficou sentado no campo com cara de choro, lembrando a cena de Yokohama com seu irregular Liverpool. "É mais fácil jogar contra a Inglaterra do que contra Andorra", humilha o meia Artim Sakiri, da Macedônia. "Somos simplesmente um time melhor que a Inglaterra", fala o técnico da Croácia, Slaven Bilic.
"Não é sorte", diz o iluminado Guus Hiddink, hoje à frente da Rússia. A Inglaterra tem tudo. E nada.


rbueno@folhasp.com.br

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