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RODRIGO BUENO
God Save
A história colocará acima de tudo nesta semana a queda da Inglaterra -que tem tudo, e igualmente nada
UM AMIGO me perguntou na
quarta à tarde qual seria o
principal jogo de futebol no
mundo no dia. No Brasil, em meio ao
bombardeio com a gorda cobertura
do clássico com o Uruguai, a resposta era meio óbvia, mas, na Europa,
ainda sobravam emoções. Inglaterra e Portugal tinham duelos cruciais
valendo vaga, mas tudo dava a entender que seriam barbadas.
Disse a meu amigo que o melhor
jogo variava de país para país. Mas a
história colocará a derrota inglesa
acima de tudo naquele fatídico dia
em Wembley. A eliminação do English Team não pode ser explicada
"só" em 90 minutos. A campanha do
time no qualificatório da Euro-08
viu uma série de equívocos, acidentes, fatalidades e vilões. Fácil dizer
que o técnico (?) Steve McClaren, já
(?) demitido, é o grande responsável
pelo fiasco. A federação mais rica, o
país que mais respira futebol, a liga
nacional mais importante hoje, os
atletas de qualidade que tanto brilham em clubes e que faltaram em
outras gerações, a torcida mais ativa... Como explicar o inexplicável?
Brian Barwick, poderoso executivo da FA (simplesmente a federação
de futebol), tem tanta culpa quanto
McClaren, pois apostou até o fim no
limitado técnico. Assinou embaixo
seus deslizes. Pela tradição, bancou
um técnico inglês em meio a boas
opções estrangeiras, as mesmas de
hoje: Capello, Lippi, Mourinho, Scolari... Dinheiro para pagar multa não
falta à FA (McClaren levará mais de
R$ 7 milhões pela quebra de seu delicioso contrato de quatro anos).
Gerrard reclama da invasão de
atletas gringos no país, o que afetaria
a seleção. Mas, além dele, o país tem
Beckham, Lampard, Rooney, Terry,
Owen, Ferdinand, Hargreaves, A.
Cole, J. Cole... Goza de bom atacante
de 2 m (!), gente boa nova, como
Lennon, Richards, Shaun Wright-Philips, Walcott... Não dá para não
montar uma equipe boa, my God!
Robinson falha no gol lá, Carson falha acolá, mas um time forte supera
bem um ou outro erro individual.
Atletas se contundem, como Rooney, Owen, Terry e Hargreaves, que
só torceram nos 2 a 3 ante a Croácia,
mas a Inglaterra tem material humano para empatar em casa, como
fez com o Brasil (e lamentavelmente
com a Macedônia). Veja Beckham:
saiu do time na campanha, voltou,
saiu e voltou nos últimos 45 minutos. Não houve time. E, apesar dos
gols de Owen (sacrificado em amistoso fútil), não houve individualidade. O grupo fez bons jogos sem Lampard. Gerrard não liderou nem na
ausência de Terry, o capitão de
McClaren, e ficou sentado no campo
com cara de choro, lembrando a cena de Yokohama com seu irregular
Liverpool. "É mais fácil jogar contra
a Inglaterra do que contra Andorra",
humilha o meia Artim Sakiri, da Macedônia. "Somos simplesmente um
time melhor que a Inglaterra", fala o
técnico da Croácia, Slaven Bilic.
"Não é sorte", diz o iluminado
Guus Hiddink, hoje à frente da Rússia. A Inglaterra tem tudo. E nada.
rbueno@folhasp.com.br
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