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Ronaldinho, os louros, as louras e as verdinhas
ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas
Certa vez, ao receber um troféu de ouro, na TV Record,
ainda no palco, Nélson Cavaquinho murmurou naquela
voz rascante de cachaça e sereno: "Quanto vale isto em verdinhas?" Não fora à toa que
ele eternizara em samba:
"Quero as flores em vida..."
Pois o menino Ronaldinho,
aos 21 anos, está coberto de
louros, louras e verdinhas.
Com todos os méritos, por sinal. Sim, porque ele é um desses fenômenos que surgem nos
céus do futebol com a periodicidade dos cometas badalados,
mas que, espero, tenha a durabilidade das estrelas.
Olha que, desde o ocaso de
Leônidas até hoje, vi nascer e
desaparecer uma infinidade
de centroavantes, goleadores.
Alguns, excepcionais, como
Ademir de Menezes, Pagão,
Coutinho -o parceiro de Pelé-, Careca e Romário, que
ainda continua acumulando
gols atrás de gols.
Isso sem falar em Tostão,
centroavante por um breve período e só na seleção.
Em todos, as deficiências ou
problemas se equiparavam,
quando não se sobrepunham,
às virtudes. Ademir era veloz,
contundente na área, exímio
cabeceador, mas tinha uma
técnica limitada. Pagão era
técnica pura, até na maneira
de bater na bola com os três
dedos, truque herdado de Jair
Rosa Pinto, mas era frágil, no
corpo e na alma.
Coutinho, foi o mais precoce
e completo de todos: aos 15, 16
anos, quando trocou Piracicaba pela Vila, era veloz, habilidoso, imaginativo e implacável na área. Tanto, que chegava a se confundir com o parceiro real. Mas, muito cedo sucumbiu ao peso da gula e à
fragilidade de um joelho baleado. Terminou, ainda garoto, como o Romário de hoje:
reinando na grande área, à
base de um instinto de gol invulgar e de leves tapinhas na
bola, no instante final.
Careca tinha a habilidade de
um Pagão e o faro de goleador
de todos os outros. Mas não tinha o físico privilegiado, nem
o carisma de Ronaldinho. Este,
sim, um prodígio de expectativa e realização: além do talhe
perfeito, trouxe do futsal o drible curto e desmoralizante, ao
qual acrescentou o passe enviezado e a fúria do disparo
em direção ao gol inimigo.
E, mais do que todos os outros, revela um caráter (no
sentido exato do termo) inexpugnável. Nem os louros, nem
as louras, tampouco as verdinhas desestabilizam esse menino de ouro. Nem mesmo a
velha praga que, de tempos em
tempos, se abate sobre os goleadores -os longos períodos
de estiagem que acabam despertando todos os fantasmas
interiores.
Ainda agora, assistimos Ronaldinho dar um piparote,
com classe (sem lamúrias, nem
reclamos), em uma dessas fases. É coisa de gente grande.
Quase ia dizendo que é coisa
de gênio.
O julgamento de Edmundo,
que culminou com sua absolvição fantasiada de pena pecuniária, atingiu tal paroxismo de "non sense" que provoca riso ao invés de indignação.
O que me faz voltar ao velho
tema: a solução para isso é a
simples e pura extinção desses
tribunais de fancaria, onde
mais do que em qualquer outro lugar codifica-se e forma-se
extensa jurisprudência firmada do nefando jeitinho brasileiro. No seu lugar, um código
de penas automáticas. E fim.
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