São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2004

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Isolado, palmeirense se junta a rivais

DA REPORTAGEM LOCAL

Não há nada mais incômodo para o palmeirense do que ter de agüentar sozinho provocações e brincadeiras de corintianos e são-paulinos. Não há nada mais comum para um palmeirense do que viver cercado de rivais. Esse é o cotidiano do engenheiro civil Stefan Ambrosini Halas, 25.
Oriundo de uma família de palmeirenses, ele mora em uma pequena vila na Lapa, um dos bairros que mais concentram torcedores do Palmeiras -21%, segundo o Datafolha. Halas, porém, vive a ironia de se ver rodeado por vizinhos que gostam de futebol, mas preferem os rivais. Nenhuma outra área é tão miscigenada.
"Aqui na vila, são cinco corintianos e cinco são-paulinos. De palmeirense, só eu e mais um."
Mais irônico ainda é o fato de a vila ficar localizada próximo a um condomínio onde, nos anos de ouro da parceria com a Parmalat, os principais jogadores e até o técnico Luiz Felipe Scolari moraram.
A formação clubística de sua vizinhança provoca situações engraçadas. Halas diz que, quando o Palmeiras enfrenta o São Paulo, o chão de seu apartamento treme, literalmente: "Quando sai gol do Palmeiras, dou pisões bem fortes para que meu vizinho escute. Em compensação, quando o gol é do São Paulo, ele cutuca o teto com a vassoura para responder".
O fato de ser minoria já obrigou o palmeirense a renegar seu clube de coração. Foi no fim de 2002 e durante boa parte do ano passado, quando são-paulinos e corintianos não perdiam a oportunidade para fazer piadas com o Palmeiras, que foi rebaixado e teve de disputar a Série B do Brasileiro.
"Eu fugia. Minha desculpa era a de que eu não ligava mais para futebol, não torcia mais como antes. Mas não era verdade", conta Halas, que guarda pôsteres, flâmulas e camisas do Palmeiras.
Gozações à parte, é nos vizinhos torcedores que Stefan encontra companhia para ir ao estádio.
"A gente se junta e vai no mesmo carro, sem a camisa do time. Quando chega ao estádio, a gente se separa e combina de se encontrar depois." O único inconveniente é que a estratégia só pode ser usada nos clássicos, o que não ocorre desde o início de 2003.
"Ultimamente eu só tenho ido sozinho", completa, resignado.



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