São Paulo, quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

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TOSTÃO

Realidade e imaginação (2)


Os grandes momentos, na vida e no futebol, costumam ocorrer sem planejamento, de repente, num piscar de olhos

NO DOMINGO , escrevi sobre momentos importantes do futebol que vivi, vi e imaginei. Terminei com a Copa de 62.
Para falar do Mundial de 70, tenho que lembrar o de 66. O favorito Brasil foi um fracasso em 66 porque não houve seriedade na preparação, era um momento de transição, e porque a equipe perdeu de dois fortes adversários, Hungria e Portugal.
Como só se classificavam duas seleções, o Brasil foi eliminado na primeira fase.
Depois do Mundial de 66, só se falava na decadência do estilo habilidoso do Brasil. Era exaltado o futebol força e objetivo dos europeus. Foi quando Nelson Rodrigues, de quem diziam não entender nada de futebol, escreveu sobre os "idiotas da objetividade".
A seleção de 70 foi a união do talento individual com o coletivo, da improvisação com a organização tática, do espetáculo com a eficiência.
Em 74, a Alemanha venceu, mas quem encantou foi a Holanda. Cruyff conta que, duas semanas antes da competição, decidiram adotar um esquema revolucionário, de marcação por pressão. Onde estava a bola, havia muitos holandeses. Defensores e atacantes se misturavam. Era a pelada organizada. A seleção brasileira de 70 ficou pronta também somente duas semanas antes da competição.
Para se formar um bom e aplicado time, é preciso treinar bastante e por muito tempo. Para se fazer um time espetacular, nem sempre isso é necessário. Os grandes momentos, no futebol e na vida, costumam acontecer de repente, sem planejamento, em um piscar de olhos.
Após 70 e até 94, o Brasil só teve uma grande seleção, a de 82, com Zico, Falcão, Cerezo, Júnior e outros craques. Ela é lembrada e adorada até hoje em todos os cantos do mundo. A seleção brasileira de 82, a da Hungria de 54 e a da Holanda de 74 desmentem o lugar-comum de que a história é sempre contada pelos vencedores.
Após a derrota do Brasil em 82, os "idiotas da objetividade" voltaram a dizer que para vencer é preciso ser prático e jogar feio. Esses utilitários, de pensamentos operatórios, são numerosos, estão em toda parte, em todas as épocas, no futebol e em todas as profissões.
A seleção campeã de 94 não empolgou, porém era um time organizado, forte na defesa e com um genial atacante (Romário), além de vários excelentes jogadores.
Não esqueço o gol de Romário contra a Holanda. Ele recebeu um passe cruzado de Bebeto e ficou longe da bola. Se esticasse a perna, erraria o gol. Romário deu um salto, ficou com as duas pernas no ar e, com a direita, sem apoio, tocou no canto. Depois do jogo, eu e o querido mestre Armando Nogueira ficamos longo tempo vendo em detalhes o lance para tentar entender a genialidade de Romário.
Depois de 94 e do esplendor de Romário, o Brasil teve outros grandes craques, como Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho e Kaká. Ronaldo e Rivaldo foram magistrais na Copa de 98, com exceção do último jogo, e na de 2002. Ronaldinho não foi apenas um bom coadjuvante na Copa de 2002, como falam. Ele foi também protagonista.
O espetáculo não pode parar. Pelo talento que possuem, Kaká e Robinho merecem também brilhar em um Mundial.


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