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São Paulo, terça-feira, 25 de março de 2003

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FUTEBOL

O Nariz de Zé Cabala

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Quando cheguei à casa de Zé Cabala, vi que seu nariz estava vermelho e enorme, então perguntei:
- O que houve, ó grande internauta do além?
- Atchim!, foi sua resposta.
- Acho que o senhor não está em condições de trabalhar hoje...
- Ão, enhor. Ãmos lá!.
- Sabe, supino mestre, eu ando meio cansado de conversar com craques. Hoje gostaria de conversar com um jogador comum, um daqueles que se destacaram mais pelo suor do que pelo talento.
- Um erna-de-au?
- É..., vamos dizer assim.
Zé Cabala começou a incorporação. Desta vez, para entrar em contato com o outro mundo deu 13 espirros gigantescos. Quando eles finalmente acabaram, perguntei encharcado:
- Qual é teu nome, alma desencarnada?
Ele apenas apontou para o seu nariz, de modo que perguntei:
- Seu nome é... Secreção? Ranho? Meleca?
- Nariz!
- Nariz? O raçudo zagueiro do Botafogo dos anos 30?
- Eu mesmo. E também atendia pelo nome de Álvaro Lopes Cansado.
- Bem, senhor Nariz, primeiramente gostaria de saber a razão desse apelido.
- Você não é muito inteligente, não é? Você acha que ganhei esse apelido por que tinha orelhas grandes?
- Bem, é..., diz a lenda que o senhor às vezes entrava com uma vontade exagerada nas pernas dos companheiros de profissão, isso é verdade?
- Uns nascem para Domingos da Guia, outros, para Nariz.
- E é verdade que a defesa alvinegra da época ficou conhecida como Esquadrão de Cavalaria?
- Você queria que eu ficasse enfeitando na frente de um Preguinho, de um Romeu, de um Leônidas, de um Perácio? Não dava, meu filho, se você bobeasse eles passavam por você mais rápido que um teco-teco.
- Mesmo assim o senhor foi para a Copa de 1938.
- Fui. Como reserva, mas fui.
- Aliás, houve uma outra curiosidade nessa Copa: o senhor também era o médico do time.
- Fui considerado o pai da medicina esportiva no Brasil, meu filho. Criei o primeiro departamento médico de um clube, no Botafogo, e fui um dos fundadores da Faculdade de Medicina de Uberaba, que você não mencionou, mas é a minha querida terra natal. Aliás, natal e mortuária.
- Fiquei muito honrado em conhecê-lo, doutor Nariz.
- Disponha, meu jovem. E olhe: não despreze os zagueiros viris. Não levam a fama, mas ajudam muito na glória dos times.
Segundos depois, Zé Cabala deu mais alguns espirros e voltou para a cama. Assim que se cobriu e tomou o chazinho de limão com alho trazido por Gulliver, ele assoou-se com estrondo e disse:
- Ão em eais.
Paguei a consulta, apertei sua mão com a admiração de sempre e disse:
- O senhor precisa ir ao médico ver esse nariz.

Estaduais
Os dois campeonatos estaduais mais importantes do país acabaram neste final de semana. E não deixaram saudades. O Paulista foi confuso, teve um regulamento incompetente, um ensaio de batalha judicial, pouco público e poucos jogos realmente bons. E o Estadual do Rio não foi muito diferente. O Paulista teve, pelo menos, dois bons jogos finais. O campeonato do Rio, nem isso. A última partida foi uma bagunça absurda. O juiz escolhido não apitaria um jogo de botão, houve violência de sobra e campo invadido. São dois títulos úteis para as estatísticas dos clubes, mas é melhor esquecer suas circunstâncias. Eu, que me confesso um defensor dos campeonatos estaduais, cada vez encontro menos argumentos para defendê-los.

E-mail torero@uol.com.br


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