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FUTEBOL
O Nariz de Zé Cabala
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Quando cheguei à casa de Zé
Cabala, vi que seu nariz estava vermelho e enorme, então
perguntei:
- O que houve, ó grande internauta do além?
- Atchim!, foi sua resposta.
- Acho que o senhor não está
em condições de trabalhar hoje...
- Ão, enhor. Ãmos lá!.
- Sabe, supino mestre, eu ando
meio cansado de conversar com
craques. Hoje gostaria de conversar com um jogador comum, um
daqueles que se destacaram mais
pelo suor do que pelo talento.
- Um erna-de-au?
- É..., vamos dizer assim.
Zé Cabala começou a incorporação. Desta vez, para entrar em
contato com o outro mundo deu
13 espirros gigantescos. Quando
eles finalmente acabaram, perguntei encharcado:
- Qual é teu nome, alma desencarnada?
Ele apenas apontou para o seu
nariz, de modo que perguntei:
- Seu nome é... Secreção? Ranho? Meleca?
- Nariz!
- Nariz? O raçudo zagueiro do
Botafogo dos anos 30?
- Eu mesmo. E também atendia pelo nome de Álvaro Lopes
Cansado.
- Bem, senhor Nariz, primeiramente gostaria de saber a razão
desse apelido.
- Você não é muito inteligente, não é? Você acha que ganhei
esse apelido por que tinha orelhas
grandes?
- Bem, é..., diz a lenda que o
senhor às vezes entrava com uma
vontade exagerada nas pernas
dos companheiros de profissão, isso é verdade?
- Uns nascem para Domingos
da Guia, outros, para Nariz.
- E é verdade que a defesa alvinegra da época ficou conhecida
como Esquadrão de Cavalaria?
- Você queria que eu ficasse
enfeitando na frente de um Preguinho, de um Romeu, de um
Leônidas, de um Perácio? Não
dava, meu filho, se você bobeasse
eles passavam por você mais rápido que um teco-teco.
- Mesmo assim o senhor foi
para a Copa de 1938.
- Fui. Como reserva, mas fui.
- Aliás, houve uma outra curiosidade nessa Copa: o senhor
também era o médico do time.
- Fui considerado o pai da medicina esportiva no Brasil, meu filho. Criei o primeiro departamento médico de um clube, no Botafogo, e fui um dos fundadores da
Faculdade de Medicina de Uberaba, que você não mencionou,
mas é a minha querida terra natal. Aliás, natal e mortuária.
- Fiquei muito honrado em
conhecê-lo, doutor Nariz.
- Disponha, meu jovem. E
olhe: não despreze os zagueiros
viris. Não levam a fama, mas ajudam muito na glória dos times.
Segundos depois, Zé Cabala deu
mais alguns espirros e voltou para
a cama. Assim que se cobriu e tomou o chazinho de limão com
alho trazido por Gulliver, ele assoou-se com estrondo e disse:
- Ão em eais.
Paguei a consulta, apertei sua
mão com a admiração de sempre
e disse:
- O senhor precisa ir ao médico ver esse nariz.
Estaduais
Os dois campeonatos estaduais
mais importantes do país acabaram neste final de semana. E
não deixaram saudades. O Paulista foi confuso, teve um regulamento incompetente, um ensaio de batalha judicial, pouco
público e poucos jogos realmente bons. E o Estadual do
Rio não foi muito diferente. O
Paulista teve, pelo menos, dois
bons jogos finais. O campeonato do Rio, nem isso. A última
partida foi uma bagunça absurda. O juiz escolhido não apitaria um jogo de botão, houve
violência de sobra e campo invadido. São dois títulos úteis
para as estatísticas dos clubes,
mas é melhor esquecer suas circunstâncias. Eu, que me confesso um defensor dos campeonatos estaduais, cada vez encontro menos argumentos para
defendê-los.
E-mail torero@uol.com.br
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